20 dezembro 2004

Quaresma



Neste filme, o último do desparecido José Álvaro Morais, uma oportunidade de deslumbre, de confirmação da força, da surpreendida e surpreendente Beatriz Batarda. O filme está demasiado obcecado com a forma, a procura excessiva do belo asfixia-nos nele. Há filmes, como The Big Fish, em que cada imagem, cada plano merece ser emoldurado, mas aqui há centenas de pessoas a trabalhar para esse objectivo plástico claramente assumido.
Próxima paragem: costa dos murmúrios.

Aprender a cozinhar

Já que o assédio ficou à minha guarda exclusiva resolvi para me facilitar a vida colocar na lista de blogs os dos amigos mais os que também vou lendo.

25 novembro 2004

25 de Novembro

Aqui há uns dias assistimos na rua à detenção de uma imigrante supostamente ilegal. Dois polícias pedem identificação a uma rapariga jovem, pobremente vestida, com aparência estrangeira, que vendia pensos rápidos em Algés. A coisa parece prometer, um deles ri-se e chama reforços pelo walkie talkie. Estaremos perante o desmontar de uma rede criminosa? Alguns vizinhos: pobre rapariga, anda cá há tanto tempo não faz mal a ninguém, outros calados, de um silêncio resignado ou perplexo. Aproximo-me, pergunto sob que direito estão a pedir a identificação àquela pessoa. O polícia mais novo pára de rir e fica mudo. Talvez a minha voz o tenha incomodado e tenha percebido que não estava em nenhuma operação Miami Vice. Respondem-me, depois de me darem uma lição sobre a diferença entre ser preso e detido, que podem pedir a identficação sempre que se justifique perante enunciados legais como a pessoa ser procurada ou suspeita de crime. A rapariga, que nunca disse uma palavra em português e a quem ninguém dirigiu uma palavra noutra língua que fosse, prefigurava o crime de não ter papéis. Racismo e discriminação neste pressuposto ainda que seja confirmada a suspeita. Outro polícia aparece. O Rui pede informações e identificações como jornalista, mandam-no abandonar o local e recusam-se a abrir a boca. Mais dois polícias aparecem, estes mais velhos e mais incomodados por terem de incluir isto nos seus afazeres. Querem que ela vá embora, mas ela não mostra identificação diz a dupla inicial. Levá-la para a esquadra e telefonar ao SEF. FDP
O carro vem, ela chora, apetece-me gritar-lhes obscenidades, alguém na rua diz baixinho, vão é para a vossa terra. Onde é que ela está agora?

18 novembro 2004

Gerónimô....

"Embora se considere que, nesta fase, se trata de um assunto essencialmente da esfera da vida interna do PCP, julga-se entretanto adequado tornar público que está em curso, no âmbito do processo de construção de uma solução baseada no trabalho colectivo, uma informação e auscultação aos membros do Comité Central sobre a inclinação consensualizada a que se chegou nos organismos executivos no sentido de uma proposta de eleição de Jerónimo de Sousa como Secretário-geral do PCP, a apresentar ao novo Comité Central (a eleger no 17º Congresso) para sua decisão soberana. " PCP

03 novembro 2004

A governamentalização do Ministério da Educação

Em Dezembro do ano passado o governo aprovou um Decreto que estabeleceu as regras novas deste último concurso de professores. Portanto, um decreto a um mês de ser posto em prática. Era urgente. Entretanto inúmeros serviços do ME foram extintos (ex:os centros de acção educativa) serviços e pessoal que participava na realização destes concursos de forma mais descentralizada. Afinal estamos a falar de todos os níveis de ensino, desde o pré-escolar até ao 12º ano. Em causa estão factores de corte nas despesas, menos funcionários, menos serviços. Tudo na linha programática do governo. Até aqui tudo perceptível. Entretanto gasta-se uma pipa de massa para uma empresa informática de amigos e este é o concurso com mais erros na história de colocação de professores em Portugal. Todos perdem menos aqueles que querem instrumentalizar o Ministério da Educação, afinal desde há quanto tempo não víamos um ministro a ditar sentenças no funcionamento directo de um serviço, de um concurso?"Eu disse, eu mandei, eu fiz assim,eu averiguei". As mãos na massa toda. Todos perdem menos aqueles que face ao desastre podem ver finalmente avançar a escola do compadrio, a escola sem critérios. Em virtude das vagas que ficaram por ocupar em inúmeras escolas foram colocados as ofertas dessas vagas pelas próprias escolas em jornais (como todos temos a oportunidade de ver nos classificados por aí). Nada de errado se o Decreto/Lei 35/2003 não tivesse retirado a obrigatoriedade das escolas, nas ofertas directas de vagas, respeitarem os critérios do concurso nacional. Ou seja, se o concurso não tiver credibilidade tanto melhor porque assim temos agora as escolas públicas por esse país fora a escolher os seus professores como tivemos o ministério da educação a escolher a empresa de informática dos amigos.

so long dear

Deco abandonou, fugiu, traiu o assédio. Mudou-se aqui para o lado numa casa fresca, nova, a apitar. Pensar que assistimos aos seus primeiros passos bloguíticos e que hoje se aventura em altos voos p`la Blogosfera e ainda na idade dos porquês.
Espero que tenha sido tão bom para ti como foi para o Assédio. Também se jogava spectrum em Moçambique? Até já

30 outubro 2004

Noite Escura



O Daniel Oliveira, do Barnabé, disse que é o melhor filme português que viu em muitos anos, acho que ele não viu muitos filmes portugueses nos últimos anos. Eu também não e tenho pena. Não vi o Rasganço, nem o Milagre Segundo Salomé nem o último do Fernando Lopes (lembrando-me de alguns que poderiam ser imperdíveis). Ainda assim Noite Escura de João Canijo, o autor do grande filme que foi Ganhar a Vida, fica a dever um bocado a este e a algumas proposições suas. O filme sacrifica-se ao objecto estético, a maneira como filma é excelente para nos intoduzir na noite e na vida de um bar mas é redutora e aborrecida a partir de certo momento.
Num documentário sobre Henri Cartier-Bresson que passou há pouco n tv ele dizia que, na fotografia (ou na arte) havia os trabalhos demasiado pensados, os conceptuais, os trabalhos demasiado sentidos, os panfletários e os demasiado preocupados com o valor estético da imagem, uma boa imagem devia ser uma mistura equilibrada destes três.
Noite Escura tem uma força avassaladora que se chama Beatriz Batarda. Quem se lembra da jovem assustada/arisca da Caixa de Manoel de Oliveira? A interpretação que faz de Carla, a filha mais velha que controla o bar é, sim, uma das melhores representações do cinema português. Nada ali se sente forçado como no resto das personagens, o Fernando Luís a forçar um linguarejar de chulo, a Rita Blanco a forçar o vernáculo de uma velha prostituta, a adolescente rebelde fez bem em não forçar nada porque assim não somos convidados ao artifício da verdade, ele fica connosco. Beatriz Batarda está melhor que o próprio filme.
Por não sentir em Noite Escura o rasgo de Ganhar a Vida (aí Rita Blanco está bem à altura) não quer dizer que o filme seja mau, sinto que não atingiu os objectivos propostos e que desperdiça aquilo que utiliza como pano de fundo para uma tragédia familiar sem grande consistência ou força.

25 outubro 2004

"PCP:o estado das coisas"

No site da Renovação Comunista alguém deixou uma reflexão elaborada e conhecedora do actual estado da questão PCP. Em vésperas de mais um Congresso Eucarístico aconselha-se.
Como quem busca notícias de uma pátria perdida, muitos de nós na diáspora comunista portuguesa mais ou menos acompanhamos o que se vai passando no PCP. É afinal o partido de Manuel Ribeiro, Carlos Rates, Bento Gonçalves, Rodrigues Miguéis, Pável, José de Sousa, Alex, Militão, Bento Caraça, Piteira Santos, Soeiro, Redol, Jofre Amaral Nogueira, Magalhães-Vilhena, António José Saraiva, Maria Lamas, Lopes-Graça, Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, de entre os já falecidos. Uma máquina de sonhos que amassou em sangue o melhor da esperança, vontade e inteligência de tantos e tantos dos nossos melhores homens e mulheres. Esse partido é naturalmente um património histórico e político que reclamo como meu e sobre o qual exijo contas. Não sendo eu, nessa matéria de património, animado por um espírito fetichista de conservacionismo estrito e puro, interessa-me apesar de tudo ir sabendo do estado da sua actual carcaça perimida. Sempre com uma secreta esperança (que não ouso já confessar a mim próprio) de ver despontar subitamente no “partido” algum lampejo de vida. Sempre com uma grande inquietação de que ele possa ter um fim catastrófico e pouco dignificante. Por qualquer razão, provavelmente uma razão não muito racional, suspeito que o mundo sem o PCP será muito mais árido e rarefeito, um vórtice de impulsos metalizados de uma indiferença lancinante, sem qualquer densidade especificamente humana. Um mundo em que homens e mulheres generosos vão andar perdidos em círculos, procurando desesperadamente o seu “contacto” sem o conseguirem encontrar. Eis algumas das razões que me levaram a ler as teses (projecto de resolução política) aprovadas pelo Comité Central com vista ao próximo 17º Congresso do PCP.

21 outubro 2004

O Fascismo é uma minhoca

Coimbra. Estudantes protestam contra a fixação do valor das propinas. Reitor(es)deviam ter devolvido essa responsabilidade para o governo (já que esta se transforma numa questão política e não meramente administrativa). Em vez disso reitor chama polícia. A polícia vem, temos as imagens na tv, a lembrança dos tempos do estertor final do cavaquismo com botas da polícia de intervenção em cima de rostos, um rapaz paraplégico depois dos confrontos na ponte. O gás pimenta ontem mais o cacete. À mesma hora em que a polícia descarregava nos estudantes e chegava o corpo de intervenção (para deter estes perigosos criminosos) o reitor fixava o valor máximo das propinas, condenava a atitude dos estudantes e apelava ao governo que criasse um regime disciplinar para casos como este. O Guterrismo também proibiu os cortes de estrada, este reitor quer ir mais longe, quando chegar a vez dele haverá alguém que proteste? Morte a Seabra Santos e ao Senado caquético. Esta Academia podre tem sido o alimento do país negro que todos os dias nos cai no colo.


16 outubro 2004

É preciso ter lata

O nosso presidente recebeu a semana passada um prémio importante em terras reais vizinhas. Quando questionado pela imprensa sobre o que pretendia fazer com os 90 mil euros respondeu que não fazia questão de os entregar a nenhuma instituição de solidariedade social, que os guardaria para si que os tempos estão difíceis (ipsis verbis). Faz bem sr. presidente, é bom acautelar a terceira idade e a dos seus filhos, afinal os tempos serem difíceis nada tem a ver consigo, afinal se os tempos estão difíceis para o Presidente da República, sem pejo nem vergonha de vir desta forma gozar com os pobres(ainda hà pouco tempo disse que a escola pública era muito importante por causa deles, dos pobres...) então para o resto da população não vai é nada mal, em particular para aqueles que vivem em instituições de solidariedade social que vivem de donativos, afinal o prémio de Sampaio nada tem a ver com o facto de desempenhar um cargo público e político de representação e eleição directa, cargo e cargos que ao longo da vida lhe puseram o pão na mesa.

Das últimas vezes que ouço o Sampaio dá-me a ideia de que ele pensa que uma vez que a sua dignidade já foi porque não tirar daí o proveito.

06 outubro 2004

Censuraram o professor

Como é que a opinião democrática vai tratar disto? E será que tem algum efeito? Por que é que o barnabé não convoca uma manif? E o Sampaio, não diz nada? E o povo das liberdades do 25 de Abril, onde anda? De duas uma: ou se está a cagar para as liberdades, ou se está a cagar para o Marcelo.

A última situação de censura feita em público teve por objecto O Evangelho segundo Jesus Cristo, e vítima o José Saramago.
Subsecretário de Estado da Cultura, o monárquico corrupto Sousa Lara. O chefe do Sousa Lara? Pedro Santana Lopes.

RANCOR

O Carvalhas vai-se embora. Talvez seja fácil para alguns encolher os ombros e dizer: quero lá saber. Mas eu não consigo.
Agora o PCP está pacificado, agora toda a gente pensa da mesma maneira. E quem não deixou de pensar decidiu abdicar definitivamente da cabeça em favor da carteira, da carreira ou do “Partido”. Agora o PCP entrou em ritmo de cruzeiro, perde umas dezenas (por vezes centenas) de milhar de votos em todas as eleições. Agora toda a gente lá dentro acha isto normal. E até acha bem.
O Carvalhas vai-se embora e nem na hora da saída consegue um mínimo de dignidade. De boca fechada até ao fim. Ficou para impedir uma cisão, e com isso só conseguiu salamizar o PCP e apressar a reforma política de centenas de comunistas (minha incluída). Se calhar ainda se vai chegar à conclusão que o homem se sacrificou pelo “Partido”, quando já não houver "Partido".
Por que é que isto tem alguma coisa a ver comigo?
A verdade a que sou obrigado traz-me uma palavra: rancor. Rancor por ter sido tratado como um bufo, como um pau-mandado, como um filho-da-puta. Rancor por ter sido acusado de incompetência. Rancor por nunca ter tido possibilidade de me defender. Finalmente, rancor pelo desprezo. Por ter perdido anos de trabalho e de vida em qualquer coisa de que fui afastado sem solução de continuidade, e sem uma palavra de...ia dizer apoio, sem me dar conta do ridículo.
O “Partido” limpou o rabinho no Carvalhas. Deve ter ficado em boa companhia.

51 dólares a subir

Para aqueles que compreendendo de forma lúcida os motivos da guerra e invasão do Iraque as defenderam de qualquer forma deve ser muito difícil neste momento entenderem o seu próprio raciocínio face à subida para valores nunca antes alcançados do barril de crude. Então não foram ao Médio Oriente garantir que a ocidental forma de vida -sobre rodas e avião- continuasse? Não foram garantir que o mundo deslizaria no ouro negro sem precalços?

05 outubro 2004

Maltese



Eu tinha 9 anos e apaixonei-me.
Corto nunca conseguiu esquecer.

Corto



O Público anda a fazer negócio com este homem. A Balada do Mar Salgado anda a ser vendida em três volumes de 4 Euro cada. A melhor edição (preto e branco) custa uns 12 Euro em qualquer livraria. Deviam ter vergonha.

04 outubro 2004

Viagem na pós-modernidade ou Paralelas convergentes?

Brumas da memória



"No referente ao aspecto repressivo da política fascista no campo do trabalho, valeu-me a pena falar com Carlos Carvalhas, secretário de Estado do Trabalho e um jovem enérgico e decidido, típico do sangue novo que foi injectado nas veias do aparelho ministerial depois do 25 de Abril."

Wilfred Burchett, Portugal depois da Revolução dos Capitães

03 outubro 2004

Sarrabulho



Ia pelo norte em romaria laica com o estômago apertado pela imagem de um sarrabulho limiano a fumegar, cheio de sangue cozidinho. O que não sabia era que a cidade fecha para férias depois das Feiras Novas. O desconhecimento da lei não aproveita a ninguém, estava farto de saber. Vai daí, perguntei
“- Boa noite!” (assertivo)
“- Vim cá de propósito para comer um sarrabulho mas tá tudo fechado…” (displicente)
“- A senhora sabe d’algum sítio onde se pode comer barato e bom um arroz a esta hora?” (humilde)
“ - Já procurámos mas…” (focinho de cachorro batido)
“ - Olhe, pode ir à …,… tá a ber aquela suvida? Pois bai por ali, bira à direita e bê logo o restauránte.” (evidentemente)
“ – Ah, muito obrigado!”

O arroz não deixou recordações mas ainda hoje penso naquela suvida.

Leviathan

Sempre fui leitor com amores literários passageiros, mas fortes. Com a idade foi sendo mais difícil manter a fidelidade aos autores. Mia Couto, por exemplo, já pertence à pré-história das minhas afinidades. Mas foi uma relação para alguns anos, entre as Vozes Anoitecidas e os Contos do Nascer da Terra. Depois o Mia parou naquela fórmula criativa, os livros começaram a repetir-se naquilo que os fazia mais singulares, uma aliança sábia de instrumentos para reimaginar a realidade, entre as fontes orais impregnadas dos mitos moçambicanos e o linguajar quotidiano do povo. Ou então talvez tenha sido eu a ir perdendo algumas referências que a nostalgia de África ainda fazia habitar cá dentro. Nos anos mais chegados tem sido mais complicado esgotar os autores antes dos autores me esgotarem a mim. Vamos ver se ainda vou a tempo do Leviathan.

Job Offer

Saí cedo da cama. Fui a uma entrevista de emprego. A ideia era trabalhar em part-time na caixa do Carrefour. Ofereceram-me trabalho para inserção de informação em bases de dados Acess a tempo inteiro. Nada como ser apreciado.

02 outubro 2004

Derivação



Trabalhar é um convite à brutificação, à coisificação do eu. Não é análise marxista ou situacionista, é vida de todos os dias. Depois, as ideologias hegemónicas e contra-hegemónicas dominantes justificam, explicam a necessidade do nosso trabalho para sermos viáveis como indivíduos, como corpo social e como entidade colectiva. Há até quem queira fundar a emancipação, a liberdade do homem, no trabalho.
Hoje trabalha-se mais do que alguma vez se trabalhou, excepto talvez no auge da primeira revolução industrial.
Uma das ilusões colectivas poderosas que nos guiam, ferrete do imaginário moderno, é a convicção de que uma conjunção de mérito, expectativas e sorte pode resultar numa redentora inclusão cósmica pelo trabalho.

Blogues

Não sou do género leitor de blogues. De vez em quando roubo alguns minutos ao tédio para dar uma volta por aí.

Irrita-me o tom contentinho, muito revolução de veludo, de coisas como o
blogue de esquerda.

Irritam-me aqueles gajos que vêm para os blogues descrever em tom barroco a "descoberta" de um livro excelente e muito raro debaixo de toneladas de papel, por tuta e meia, numa visita de acaso a uma livraria tradicional de Lisboa, como se não fossem uns vaidosos de merda.

Irritam-me os medíocres dos blogues de direita.

Irritam-me os medíocres dos blogues de esquerda que se sentem obrigados a criticar os medíocres dos blogues de direita.

Irritam-me os gajos que assinam com mais de dois nomes.

Irritam-me coisas como "Ar puro" e "Early Morning Blogs" por José Pereira.

Irrita-me escrever para uma coisa de que outros desertaram.

Mas gosto quando encontro alguém na rua que me diz ter lido o meu blogue.

Gosto do blogue do
Miguel Almeida.

E gosto de outras coisas mas estou cheio de sono e farto disto.

01 outubro 2004

O empresário, o argelino e o intérprete deles

O empresário tem máquinas agrícolas para vender. O argelino aterra na Portela como o FMI, vem cá ver para encomendar. O intérprete vai do português para o francês e vice-versa, a ver se se safa. Mas não está seguro do seu múnus e reza para as coisas não darem para o torto. Pelo caminho dá umas voltas por Rio Maior (as mocas, as mocas...) e Évora. O sol brilha e passa mais um dia. E pronto, é a vida.

Atmosfera interior

I'm all lost in the supermarket
I can no longer shop happily
I came in here for that special offer
A guaranteed personality

The Clash, London Calling

28 setembro 2004

Puta que os pariu



A competência da direita foi pelo cano. Arranjaram um bode expiatório, montaram uma campanha nos jornais de mão, desunham-se em encómios entre compadres, atiram os secundários para a frente e guardam os figurões para o Orçamento, mas ninguém os livra da grande barracada do início de ano lectivo.

Razão tem o Carvalhas, demita-se o Governo já.
E já agora o Sampaio também. Que vá escrever as memórias.

Estás fodido (2)

Estás fodido (1)


Estão fodidos



Em solidariedade com J.

Excêntrico


Considerar que as representações geográficas estão colonizadas pela mundividência europeia começa a ser aceite. Já tinha lido sobre isso, falado sobre isso. Só ainda não tinha visto o contraponto. Explico-me.

É normal vermos a representação do globo terrestre, da nossa casa, assim:



A Europa ao centro afasta o Império do Meio para o lado direito, nas margens do olhar. O Norte e Sul colocados acima e abaixo como se os pontos cardeais devessem obedecer a uma gramática simbólica de superioridade e inferioridade.

No outro dia vi o catálogo
desta exposição do Museo Provincial de Lugo, cuja capa é nada menos que um mapa-mundo ao contrário. Foi como se tivesse perdido a fé, eu que nunca tive. Um gajo olha para lá e não vê nada no sítio. As sensações sucedem-se ao segundo:

1. Desconfiança (- Que merda é esta?).
2. Espanto (- É um mapa!)
3. Reconhecimento (- China…, Afeganistão…isto deve ser a Terra…)
4. Admiração (- Sim senhor, parece que está tudo…)
5. Aplauso (- Os gajos são mesmo bons…)

Agora peço-vos que procurem abstrair-se da má qualidade da imagem e tentem a experiência na
página do Museo. Ou então agarrem no mapa lá de casa, virem-no ao contrário, colem-lhe umas etiquetas por cima das indicações e atirem com esse pedaço de modernidade bafienta das vossas representações para o caixote do lixo da História.

27 setembro 2004

PROCURA-SE



Ninguém se lembra da última vez em que foi visto. Esperava-se que aparecesse a tempo de um congresso partidário lá para novembro, mas, se não aparecer, também não faz falta. Deixou uma cadelinha chorosa inconsolável que não se cala. Não há recompensa por informações sobre o seu paradeiro mas oferece-se a cadela ao primeiro telefonema.

Testes

O Miguel Almeida seguiu o público de sexta-feira passada e fez o teste. Eu também fiz. Deu

Economic Left/Right: -7.88 e
Social Libertarian/Authoritarian: -6.36



Claro que o partido não aguenta esta potência toda.

22 setembro 2004

Caganda Bronca

Eu gosto do ar despachado, escorreito e assumidamente beto da nossa ministra da educação. Provavelmente é assim simpática e humilde porque está no meio de uma alhada e ainda não sabe se o Morais Sarmento vai aconselhar a sua demissão.A Fenprof acertou em toda a linha, disse que por este andar só no fim do mês de Setembro e que a melhor opção neste momento seria refazer manualmente a listagem. A amiga do Deco, a Fátima Bonifácio diz que todos os anos há problemas com o início do ano lectivo, toda a gente se lembra de assim ser(A senhora vive nos fulgurantes anos de 80 e 90 ou então tem um fraquinho pela Maria do Carmo). Vou hoje ligar para o ministério da educação para oferecer uma ajudinha nas listas já que este mês fico mesmo sem trabalho.
Quem paga a factura de 40 mil contos pelo programa informático da Compta? Quem paga as horas extraordinárias e toda a panóplia de gente contratada desde Maio no Ministério da Educação?
Entretanto vi pouca coisa do debate entre os três candidatos à liderança no PS. A Sic/Balsemão já escolheu o homem, basta ver o lugar onde o puseram ontem à noite, mas não é uma novidade porque outros lideres do PSD já tinham indicado Sócrates como o melhor candidato (deve ser pelo ar fresco e moderno), triste é ver a massa dos militantes deste partido a ir atrás das opções dos grupos económicos (mass media)e atrás da telegenia do ex-ministro do Ambiente. .

Meu amigo Carlucci

Querido amigo, não fora a sorte auspiciosa de eu ser prime minister in Portugal in this moment , e perdia-se a oportunidade de fazer justiça com o teu papel anti-comunista no nosso país. Graças a Deus estamos todos vivos, todos bem, aqui, na terra dos Bravos, no coração deste grandioso país que permitiu ao meu país ser hoje uma verdadeira democracia, quase tão verdadeira como a vossa (ainda não conseguimos eleger o homem com menos votos...) avançado e desenvolvido. E como, querido Carlucci, tens a cota parte de responsabilidade para eu e os meus amigos estarmos aqui recebe a insígnia que damos aos bravos lá em Portugal (feita pela escola de sagres no atelier do Infante D. Henrique)
P.S.L.


21 setembro 2004

Que carta de Tarot sou eu?

The Fool Card
You are the Fool card. The Fool fearlessly begins
the journey into the unknown. To do this, he
does not regard the world he knows as firm and
fixed. He has a seemingly reckless disregard
for obstacles. In the Ryder-Waite deck, he is
seen stepping off a cliff with his gaze on the
sky, and a rainbow is there to catch him. In
order to explore and expand, one must disregard
convention and conformity. Those in the throes
of convention look at the unconventional,
non-conformist personality and think What a
fool. They lack the point of view to understand
The Fool's actions. But The Fool has roots in
tradition as one who is closest to the spirit
world. In many tribal cultures, those born with
strange and unusual character traits were held
in awe. Shamans were people who could see
visions and go on journeys that we now label
hallucinations and schizophrenia. Those with
physical differences had experience and
knowledge that the average person could not
understand. The Fool is God. The number of the
card is zero, which when drawn is a perfect
circle. This circle represents both emptiness
and infinity. The Fool is not shackled by
mountains and valleys or by his physical body.
He does not accept the appearance of cliff and
air as being distinct or real. Image from: Mary
DeLave http://www.marydelave.com/


Which Tarot Card Are You?
brought to you by Quizilla

17 setembro 2004

11 de Setembro - ou tudo, ou nada

Ao ver o conjunto de curtas que um produtor decidiu juntar para compôr o filme sobre o 11 de Setembro ocorreram-me algumas coisas.
Por exemplo, que o 11 de Setembro só pode ser nomeado assim porque foi talvez a primeira tragédia vivida em directo televisivo, radiofónico e internético pelos produtores da esmagadora maioria de fluxo comunicacional no planeta. Por isso o 11 de Setembro se impôs como uma evidência do terror a todo o mundo. Há pelo menos duas curtas que questionam essa evidência de forma algo indirecta,e quanto amim conseguida: o filme de Samira Makhmalbaf (??) com as crianças afeganistãs refugiadas exploradas pelo trabalho infantil a falarem do atentado numa muito rica desconstrução da evidência da universalidade da revolta e da piedade que o terror televisionado deveria transmitir ao homem contemporâneo. O outro é o filme bastante fraco do realizador da Costa do Marfim que, mesmo assim, acaba por revelar numa espécie de subtexto a completa indiferença do quotidiano de uma capital africana (embora pequena cidade) à tragédia dos ianques. Se for assim, 11 de Setembro significa para esta gente, que merece tanta consideração como qualquer outra, exactamente o que significava antes dos atentados. E para isto concorre não só o facto de naquele momento as pessoas não estarem colonizadas pelo american way of thinking, (que é, como qualquer outro, autocentrado) mas também de não disporem da mais pequena chave interpretativa dos conteúdos simbólicos da mensagem do terror: o World Trade Center, o pentágono, Nova Iorque, são tão desconhecidos como o solo lunar. Um avião contra uma torre é um fait divers.Paradoxalmente, e era aqui que queria chegar, o facto de esta gente estar essencialmente subtraída aos fluxos da colonização mediática (com N razões diferentes e de consequência também diferentes) torna-os imunes às evidências totalizadoras do espectáculo televisivo. E acho que isto é politicamente relevante porque de alguma forma torna esta gente mais informada. Ao invés, parece-me necessário desmistificar, do lado de cá da barreira mediática, o consenso que se gerou à volta da inadmissibilidade do terror. Sem querer entrar na discussão sobre o branqueamento emocional do terrorismo de Estado americano, que me parece também evidente, fiquei a pensar na tremenda injustiça que as lágrimas vertidas pelos mortos de Nova Iorque representam para os que morreram hoje, ontem, anteontem e por aí fora em todo o mundo por causa de decisões que implicam o uso da máquina de guerra americana. E como, de maneira muito mais forte do que provavelmente admitimos, essa injustiça se constrói todos os dias, banalmente, num episódio dos Sopranos ou num filme de Hollywood, que nos vendem o americano como um de nós, que normalizam o americano como aquele tipo dotado de/ou que concentra as características mais autênticas e definidoras do ser humano, ou melhor, do Homem (admitindo que todos fomos, muito iluministicamente, doutrinados a venerar essa figura mítica). Claro que isto tem tudo a ver com as noções de civilização, confronto ocidente/oriente e outras construções ideológicas. Por isso não consigo, como nunca consegui, indignar-me com o 11 de Setembro. Ou por outra, o mundo está cheio de 11 de Setembros, a maior parte deles por responsabilidade directa do Estado americano. Grande coisa, morreram uns quantos (uma estatística) em duas torres em Nova Iorque, sai um coro de carpideiras com controlo remoto na Casa Branca. É para mim pornográfica a propaganda da emoção com a morte dos atentados terroristas de Nova Iorque, que continua a desempenhar o seu papel no combate político. O 11 de Setembro ou é tudo ou então não pode ser nada.

15 setembro 2004

Madonna

Ia escrever sobre a Madonna mas esta merda foi abaixo e perdi tudo. Assim fico-me pela recordação das toneladas de perfume que aquela gentalha pôs para se ir mostrar ao concerto da diva (ah, ah, ah). Um pivete eloquente sobre a nossa classe média. Depois aparecem jornalistas (??) ou críticos culturais (??) a dizer que a Madonna fez um espectáculo político. Tenham dó. A Madonna fez-se a vender mamas e pernas em videoclips. O resto é conversa. E eu posso falar porque sou orgulhoso possuidor-comprador do LP "Like a prayer" e da colectânea em cassete "The Immaculate Collection".

13 setembro 2004

E já agora...



...vou adaptar minimamente o texto aqui abaixo, imprimi-lo, fotocopiar meia-dúzia de A3 e colar uns cartazes na FCSH.

Com assinatura.

Já chega de gozo. É o direito à indignação. Agora é que vão ver. Ou pensavam que isto era sempre assim?

Ah pois é...Mai nada.


- Eu também posso ser presidente do conselho científico


Farto de ser gozado

Cena 1: Reunião do Conselho Directivo da FCSH da Universidade Nova de Lisboa em período não lectivo, Julho a pique. Adriano Duarte Rodrigues, presidente do Conselho Científico, apresenta uma proposta de aumento do valor total das propinas pagas pelos estudantes de licenciatura em cerca de 70 €, passando para 528,00 €. É necessário, segundo o distinto catedrático, dar à faculdade um símbolo de prestígio que a sociedade possa reconhecer, colocando a FCSH no seu lugar, entre as melhores faculdades do país, porque a propina mais baixa é um desprestígio para a instituição. A proposta passa com os votos contra do director da faculdade, da vogal representante dos docentes não doutorados e do André Pires, representante dos estudantes. Na altura talvez nem lhe tenha passado pela cabeça, mas Adriano Duarte Rodrigues assumiu-se assim como mercenário do saber. Vamos ver o que pensam os interessados nos seus serviços...

Cena 2: Domingo, 12 de Setembro de 2004. São conhecidos
os resultados das colocações da 1.ª fase do concurso de acesso ao ensino superior. O curso do distinto catedrático ficou com 21 vagas a descoberto em 30. Três cursos de Línguas e Literaturas têm dois alunos em 50 possíveis (só se candidataram duas pessoas!!!). Em Sociologia, metade das vagas estão por preencher. Em Filosofia entram 7 para 40 vagas. Dito isto, é de admitir que o presidente do Conselho Científico aceite com lúcido fair-play que a sua área de estudos, tal como muitas outras, não é do interesse dos utentes dos serviços que esta faculdade vai prestando. E, como muita gente sabe mas cala, quanto menos estudantes tiver a faculdade, menos dinheiro receberá do Orçamento do Estado. Quanto menos do Orçamento do Estado, mais devem pagar os que já lá estão em propinas, taxas e emolumentos.

Cena 3: Eu, Deco, "o luso-português", ando à rasca para pagar a minha vidinha de todos os dias, cervejinha aqui, cafézinho ali, postas de lombo de longe a longe, bacalhau é um luxo, queres carne comes o bifinho de perú e franguinho antibiótico, que até te aleijas!! Não mudo de telemóvel, não compro roupa nova, ando de transporte público, tenho 27 anos e vivo em casa dos pais. Não fui de férias para lado nenhum. Agora tenho à perna 528 euricos de propinas para acabar o curso. Um amigo recém doutor faz história no atendimento telefónico a clientes enquanto vai engolindo sapos...porque a outra, com reconhecimento académico, não pode fazer, fica em 2500 € por 4 semestres e ninguém vive do ar. Eu não tenho trabalho, mas, se tivesse um como este, precisaria de 2 meses para pagar as propinas, sem direito a cafézinhos. Isto é, para ajudar a pagar o salário de, entre outros, o distinto catedrático, as contas da luz, água e telefones. Tal como estão as coisas, terei de pedir ao director da faculdade que me adie para não sei quando o prazo de pagamento da minha contribuição para os salários de Adriano Duarte Rodrigues. Felizmente, sei que o Prof. Jorge Crespo fará os possíveis para me "facilitar" a vida.


Epílogo

Ora bem.
Sabemos que as propinas vão direitinhas para salários, papel higiénico, água e luz. Agora que até a Associação de Estudantes da FCSH acha tudo isto normal, para mim as questões começam a ser, curtas e grossas, estas:

Por que é que eu hei-de pagar os salários de gente que me lixa a vida (para não usar outros verbos que me atravessam o espírito)?

Por que é que, sendo obrigado a pagar isto e tudo o resto para chegar ao fim do curso e ir atender telefones ou trabalhar numa caixa de supermercado, o carro do distinto catedrático fica imune no pisos subterrâneos da torre A?

O que é que me impede de lhe exigir a minha quota-parte de salário de reembolso, eu que nunca tive e nunca vou ter aulas com o distinto, já que ele se assumiu como mercenário do saber? Devo dizer que nunca lhe ouvi uma crítica às políticas seguidas pelos vários governos para o financiamento do ensino superior. Talvez andasse distraído.

E por que é que, sabendo que os seus serviços interessam a cada vez menos gente nesta faculdade, o professor não se vai simplesmente embora trabalhar para onde lhe apeteça, desde que me desampare os bolsos e a paciência? É que estou mesmo farto de me indignar,...de só me indignar. E estou farto que me julguem um imbecil.

CLARO QUE EU SEI QUE A MISSÃO DA UNIVERSIDADE É OUTRA, E ESTOU HÁ ANOS A LUTAR POR UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE. MAS UMA PESSOA CANSA-SE.

11 setembro 2004

O Bastonário pidesco

Há os médicos sem fronteiras, há os médicos a sério e há os médicos sem consciência, normalmente aqueles a quem ouvimos dizer eu a mim não me obrigam a fazer abortos porque a minha consciência não permite mas nunca lhes ouvimos nada sobre a questão de saúde pública que levanta o flagelo do aborto clandestino. Nada, nem uma palavra. Mulheres, hemorrogias, entrada nas urgências dos hospitais, complicações para a saúde da mulher. Mortes. Diz respeito aos médicos? Silêncio hipócrita. Mulher grávida, tem medo de ir a um hospital, não sabe o que há-de fazer, clínica de vão-escada, sem medicação, sem assistência condigna, isto diz respeito aos médicos? Silêncio hipócrita.
Perante este cenário de profissionais cobardes (tirando as excepções honrosas) o ministro-do mar-do-jaguar manda as corvetas ameaçar um barco que traz activistas a sério, dispostas a muito mais que apontar o dedo à santíssima hipocrisia criminosa. Sim, é preciso que se diga, as nossas manifestações ordeiras à porta das residências oficiais dos mandantes comparadas com a determinação destas holandesas também deve ser responsável pelas diferenças claras, nesta lei, como noutros níveis de qualidade de vida, entre o nosso país e a Holanda.
Uma juiza portuguesa em Coimbra repete, ao recurso interposto pela associação, os argumentos do Governo (nem sequer teve tempo ou foi necessário arranjar palavras ou argumentos próprios), o Barco não entra disse o ministro, vão lá queixar-se à Europa. Em resposta a médica e activista Rebecca Gomperts explica às mulheres portuguesas como poderão fazer um aborto 90% seguro utilizando medicamentos à venda em Portugal. Não lembrou à Rebecca Gomperts nem a nenhum de nós passaria pela cabeça que na sequência desse aborto induzido se uma mulher portuguesa tivesse de recorrer a um hospital seria denunciada por um enfermeiro ou por um médico como vem nas notícias desta semana. Nem ocorreria a qualquer de nós que o bastonário da ordem, caladinho que nem um rato até agora, viria à televisão insurgir-se contra a médica holandesa (por ela ter a coragem que a ordem que ele representa não tem) e acusá-la de incitar a práticas criminosas. Não bastava o silêncio hipócrita, temos agora pela mão deste governo o acordar dos pides adormecidos deste país. Nas esquinas, nas tv`s, nos bancos de urgência dos hospitais.




A tarântula


Conheci este grupo de músicos numa visita à FNAC, mas, como quase nunca posso pagar os preços proibitivos dos produtos culturais fiquei-me pela escuta de pé. Na altura tinha ouvido só o último disco "ALL'IMPROVVISO" Ciaccone, Bergamasche & un po' di Follie. Aqui fica um link para alguns segundos de todas as faixas do penúltimo disco, com a participação de Lucilla Galeazzi, uma croma da música popular/folk/tradicional italiana. As minhas favoritas são as faixas 9 e 11, para dançar pois claro!

04 setembro 2004

Esta tristeza que trago...



Ali em baixo foi um dos meus mundos. O banho de água salgada na piscina, os barcos a motor entrando e saindo do pequeno porto de abrigo, a muralha esburacada onde passeavam as baratas marinhas que terminavam muitas vezes as vidas como isco no anzol. Nas pedras da muralha moravam caranguejos de carapaça castanha, sempre prontos a esticar as tenazes para a carne de navalha, camarão ou amêijoa na ponta das canas. Tentávamos exercitar o nosso instinto caçador a ver passar as nuvens. Ao largo, a água da baía era verde ou cinzenta mas sempre quente. Ainda consigo cheirá-la. Horas dias, tão sem fim, num tempo sem ontem nem amanhã, como uma certa tarde em Itapoã...às vezes a realidade está já ali, nos espaços serenos da memória. Ácido sulfúrico. Buraco negro. Sol nascente ao crepúsculo. Miradouro para onde?

Volto ao passado na ressaca de mais uma história sem história, ou não fosse a minha vida de todos os dias andar suspenso de coisas que não existem...as pescarias no Clube Naval é que ninguém mas tira.
Cabrões.

31 agosto 2004

MaNiFeSta-Te

CoNCeNTRaÇão De PRoTeSTo CoNTRa a DeCiSão Do GoVeRNo De iMPeDiR a eNTRaDa eM áGUaS PoRTuGueSaS Do NaVio DaS WoMeN oN WaVeS


4ª FEIRA-DIA 1 - 18H FRENTE À RESIDÊNCIA OFICIAL DO PRIMEIRO MINISTRO

29 agosto 2004

O fado dos decapitados II

Depois de escrever o post anterior e sem pensar que alguém pudesse partilhar as mesmas preocupações, encontrei isto no número de Julho/Agosto da New Left Review. Ponho aqui a referência porque os motivos que me levaram a pôr desajeitadamente aquelas interrogações (que apareceram ontem à noite em conversa com a almofada) estão aqui neste artigo, bem como a intuição que é necessário passar a um novo patamar reivindicativo na questão iraquiana, embora a editorialista só coloque a questão frontalmente na última frase, que eu, desgraçadamente, não consigo copiar para aqui. Ela por acaso passa por cima das acções mais "terroristas" no sentido que a propaganda lhes dá, acções que nenhuma entidade empenhada numa luta de libertação nacional clássica ou que queira assumir esse estatuto pode "legitimamente" cometer (atentados contra as Nações Unidas, decapitações de jornalistas...). Leiam. Eu acho que há aqui um desafio para as ATTACs deste mundo e para cada um de nós. Vamos lá assumir que os gajos não são todos totós ou fanáticos de Alá.

O fado dos decapitados

No Iraque começa a tornar-se um hábito o sequestro e assassínio de jornalistas estrangeiros ou a colocação de bombas. Sabemos que são terroristas a fazê-lo. Sabemos que se torna um hábito que bandos de radicais xiitas desatem aos tiros aos soldados americanos e aos seus assalariados iraquianos. Ou seja, não sabemos nada.

As formas de resistência à ocupação de um Estado estão tipificadas no direito internacional. Ora, julgo que essas formas foram reconhecidas no rescaldo das lutas de libertação nacional em África e na Ásia colocando no centro do sistema a Organização das Nações Unidas e o equilíbrio gerado na luta entre os dois blocos da guerra fria.

O que se passa no Iraque, i.e., a invasão e ocupação militar de um Estado por um grupo de Estados contra as normas do direito internacional podia levar a que se constituíssem movimentos de resistência a essa ocupação com legitimidade para serem reconhecidos internacionalmente. Isto implicaria um movimento em dois sentidos: os resistentes têm que operar de forma a serem reconhecidos pelo sistema de Estados-nação e estes últimos têm a chave da admissão dos primeiros à maioridade política internacional, com o evidente jogo de mútua composição de códigos de reconhecimento.

Antigamente (antes de 89) a coisa passava muito pela existência de oposição aberta entre os dois blocos imperialistas, essencialmente em zonas periféricas (Afeganistão, África, Vietname, Corea, Cuba etc.). Quem queria um Estado devia namorar as forças em presença e jogar no tabuleiro militar e diplomático o reconhecimento internacional. Hoje, parece que não é tão "fácil" a manutenção ou criação de Estados com base em reivindicações nacionalistas ou simplesmente respeitadoras do direito internacional. A existência de uma única potência hegemónica à escala mundial tornou possível o bloqueio de qualquer mecanismo de reconhecimento internacional de grupos resistentes que escape ao seu controlo.

Ou seja, os EUA estão a criar uma solução muito semelhante ao que fizeram no Vietname de Sul, por exemplo. Enquanto os EUA nomeiam e fazem eleger um governo fantoche, a "comunidade internacional" de Estados, as organizações de diverso tipo e as personalidades que se têm feito ouvir contra a guerra agem como se não houvesse interlocutores válidos no terreno. São contra a ocupação do Iraque como foram contra a guerra mas são contra as formas de resistência que existem como foram contra a ditadura de Sadam Hussein. Ao nível dos Estados isso é compreensível. Não acho que seja tão líquido esse silêncio da parte das organizações e das personalidades anti-guerra.

Será que os iraquianos, apesar de não apreciarem levar com bombas ou metralhados são demasiado frouxos para se oporem a isso? Ou será que "as organizações terroristas" e os bandos de xiitas radicais no terreno são a expressão politicamente radicalizada, errática ou imatura da resistência que existe? E que não estão tão isolados nem são bandos de criminosos como nos é dado a comer via CNN?

E será que a resistência à guerra protagonizada do lado de cá caiu no politica e etnocentricamente correcto de não reconhecer formas de resistência para lá do horizonte consagrado por décadas de conflitos nacionalistas e agressões imperialistas no direito internacional? E se o direito internacional que existe se tiver tornado um espartilho para quem não aceita, debaixo de bombas e metralha, a ordem que lhe querem impôr? E se o terrorismo condenado pela CNN fosse, neste momento, a única alternativa a um governo fantoche? E se do lado de cá andamos todos a fazer o frete à CNN, ao Pentágono, à casa Branca, ao Eliseu, ao Kremlin e a todos os grandes interesses organizados na partilha dos recursos iraquianos e na estabilidade na Mesopotâmia?

Vamos todos verter lágrimas pelos jornalistas assassinados e criticar o extremismo religioso ou começar a pensar duas vezes antes de entrar no consenso mediático e no apoio a novos testas-de-ferro dos imperialismos?

Vamos começar a exigir o diálogo com os terroristas e com os radicais islâmicos? Ou será que essa exigência, da parte das organizações e personalidades anti-guerra, esbarra com os aproveitamentos políticos e mediáticos sobre os quais se foi construindo o consenso anti-guerra?

Quantas questões, quão poucas respostas...

Aborto

Bush em 30 segundos

28 agosto 2004

Women on Waves



Uma associação invulgar holandesa vem agitar águas no mar português do esquecimento. Não nos esqueçamos que o governo rejeitou o pedido de referendo feito por mais de 120 mil pessoas este ano. Não nos esqueçamos dos números, dos factos. Infelizmente juntamo-nos à Irlanda, à Polónia, a Malta pelos piores motivos. Cobramo-nos de vergonha

27 agosto 2004

"Quiconque a de ses yeux contemplé la beauté est déjà livré à la mort"

Foi num fim de Verão em Veneza...

...Adagietto, 4.º Andamento, 5.ª Sinfonia, Mahler.







Inês

Ontem o dia passou como todos deviam passar. A Inês decidiu partir para Paris onde a espera uma paixão, o que é muito estranho na Inês. Ofereceu um almoçinho a alguns dos amigos mais íntimos em casa da mãe. Eu, para não variar, cheguei atrasado. À mesa já se sentia a empatia própria das amizades antigas, mas bem regada. Atirei-me à lasanha e ao vinho tinto antes que acabassem. À minha volta partiam-se copos e entornava-se vinho, pegava-se em conversas antigas e cenas perdidas na memória de alguém como se tudo tivesse voltado à vida e a sorte dos minutos imediatos dependesse de uma decisão sobre quem tinha razão, quem tinha feito o quê e porquê. Fumavam-se cigarros. Terminámos com salada de frutas, bolo de rum, uísque, rum, licor de uísque, café. Depois assistimos aos vídeos sobre jogadores de xadrês no jardim do Luxemburgo que a Inês gravou em Paris e ao documentário sobre as Escadinhas de São Cristóvão em Lisboa. Saímos para o verde de Sintra, o amarelo e azul da praia como se o dia fosse eterno. Foi bom. Só não foi ontem.

26 agosto 2004

Volta Tino, estás perdoado

Na mesma peça aparece, na página 11, o embrião de apoiantes da pré-candidatura de Isaltino à Câmara de Oeiras.

Arlindo Carvalho (este tem andado desaparecido): "Moro em Cascais e não costumava dar conta que Oeiras existisse. Hoje passo por lá e noto perfeitamente a evolução daquele município. Vejo com bons olhos o regresso do Dr. Isaltino de Morais à Câmara Municipal de Oeiras. É um autarca modelo e Oeiras deve-lhe muito"."

João Fernandes (quem?): "Não conheço muito bem o passado de Oeiras, mas daquilo que me contam parece ter havido ali uma grande evolução. Pessoalmente ficaria muito satisfeito se o Dr. Isaltino de Morais se recandidatasse à condução da autarquia. Foi ele que conseguiu dar desenvolvimento àquele município e por sua causa aquela câmara sempre foi exemplar"."

Luís Todo Bom (that's the man!): Sou suspeito por dizer isto porque sou um grande amigo dele. Apenas gostaria de frisar que seria bom para Oeiras se ele voltasse à presidência. Nota-se a diferença entre o que era e o que é hoje a dinâmica de Oeiras. Mais não digo porque só posso continuar a frisar que ele é um líder e faz falta a Oeiras"."
Casa Pia, Apito Dourado, PGR, Judiciária, Câmaras Municipais, Governo, Conselhos de Administração, revistas do imobiliário...parece que só há filhos da puta em todo o lado.

O leão mostra a sua raça





"Oeiras marcava o ritmo, hoje marca o passo"
"(...) infelizmente, a dr.ª Teresa Zambujo (...) não soube motivar a dinamizar aquela equipa que estava na Câmara."
"Desiludido ou traído?
Mais desiludido porque esperava mais dela, que pensasse mais pela cabeça dela. Verifico que há várias pessoas a influenciá-la, é uma espécie de "catavento", e um presidente da Câmara precisa de ser líder.(...)"
"Por vezes saía à uma ou duas da manhã para ver se os rebentos das novas árvores estavam, ou não, a rebentar e se tinham sido devidamente regados. Um presidente tem de ser capaz de sorrir, chorar ou sofrer com os seus munícipes."
"Devo sublinhar que quando me demiti do Governo - por não ter correctamente preenchida a minha declaração de património, e nada mais - poderia não ter renunciado ao cargo da câmara mas entendi faze-lo (sic) por uma questão ética."
Entrevista ao Jornal do Imobiliário, Agosto de 2004

22 agosto 2004

A indigência cultural

Como sabeis moro em Oeiras, um concelho que foi pioneiro na propaganda auto-glorificadora. Um munícipe de Oeiras acredita que vive num território marcado pela excelência, pelos níveis de desenvolvimento blá, blá, blá. Sabe que aqui vive gente com dinheiro, vê-se o mar. Considera-se muito melhor servido que um habitante de Odivelas (quem?), acha até que lá na Europa as coisas não devem ser muito diferentes e o Isaltino nunca precisou dos CDSs para vender este peixe a partir do Palácio do Marquês. Grosso modo o ranking anda ordenado assim: 1.º Lisboa (e depende das zonas), 2.º Cascais, 3.º Oeiras, a contar daquele lugar de nenhures onde gostamos de colocar o mundo em que os nossos filhos nunca viverão.
Esta conversa para dizer que em Oeiras há duas extensões da biblioteca pública camarária, em Oeiras e em Algés, com acervo e instalações acima do medíocre. E não há outras dignas desse nome. São pequenas. Têm poucos livros e poucas revistas. Quase não têm livros "em estrangeiro". Quase não têm produtos multimédia. Não têm locais de estudo isolados dos espaços de circulação e de consulta. Não têm acervos fortes em nada e são fracas em muita coisa. O concelho tem mais de 160 000 residentes e as bibliotecas com 100 pessoas estão cheias.
Ah Paris, que saudades de Paris.

Paul Auster

Enquanto não aparece por aí um espectro de novo tipo, pode sempre tirar-se alguns minutos para falar de "não importa o quê" aqui no Assedio. Desde que desagradavelmente me vi em férias sem as poder gozar como gostaria, redescobri os livros de Paul Auster. Há alguns anos já tinha lido A trilogia de Nova-Iorque na ressaca de uns filmes com o selo Auster em sessões nos cinemas onde o povo não vai. Lembro-me de três, Fumo, Fumo Azul (numa tradução idiota) e Lulu on the bridge (nas mãos dos tradutores que temos a coisa não andaria longe de Lulu na ponte...). Há dois meses, não sei porquê, decidi comprar Moon Palace (idiota tradução da Presença como Palácio da Lua) e depois The Book of Illusions. Apesar de ter gostado e de não seguir na leitura nenhuma ordem cronológica de produção, aconteceu que Paul Auster começou a repetir-se. Nos temas e nas soluções narrativas. Na Trilogia de NI tínhamos três histórias em tom de policial, com narrador e personagens perdidos no seu vazio existencial, a que a grande cidade emprestava uma côr negra e labiríntica. Em Moon Palace e The Book of Illusions as personagens voltam a perder-se na tentativa de definir sentidos para a vida, com os livros a explorarem sempre o tema do indivíduo autorecluso, em perda dos outros e do mundo. Em todos há personagens, normalmente as principais, mas também as secundárias, que a dada altura vagabundeiam sem sentido, num parque na cidade a alimentar-se de lixo, num apartamento convertido em gruta do leão ferido, em viagens cross-country pela América até ao fim de todas as estradas. Já como em Lulu on the bridge, há sempre a intervenção de algo inexplicável e inexplicado que salva Marco Fogg, David Zimmer ou Hector Mann do fim, normalmente o fascínio por uma mulher, com a qual mantêm uma relação de que saem "lavados". Ora isto define uma forma de construir as histórias algo linear, como se o Auster andasse sempre a sacar de trunfos para ganhar mais umas páginas de texto. Por outro lado estas coisas adequam-se bem ao "ar do tempo", à percepção comum das contingências da vida, toda a gente está disponível para se fascinar com o inexplicável, com o irracional, e para se confortar com os finais felizes sem justificação. O resto é bom e vê-se que aquilo leva ali muito trabalho. Em rápida consulta pela net, vê-se que as referências são sempre despoletadas pela reverência à qualidade da escrita do Auster, mas ninguém arrisca a crítica. Ou por outra, há textos laudatórios, glosadores e contextualizadores mas não há crítica, situação que me parece muito comum na imprensa que leio, e que se resume ao Cartaz do Expresso e ao Mil Folhas do Público.

19 agosto 2004

Acção de Formação

A formadora explicava o desenvolvimento de códigos de linguagem específicos em contextos particulares, trocando-se o sentido comummente aceite das palavras por outros, contra as normas da língua:

"- Por exemplo a seguir ao 25 de Abril,...vejo que não há aqui ninguém, ou quase ninguém, que já fosse nascido nessa altura..., havia pessoas que não estavam satisfeitas com as mudanças, pessoas que gostavam era...do 24 de Abril, do fascismo, enfim, eram fascistas! Ora, estas pessoas, que trabalhavam na função pública ou em empresas, que não estavam de acordo com a nova situação, eram pessoas que davam mau ambiente de trabalho, não queriam colaborar, então dizia-se que era necessário sa-ne-ar os locais de trabalho, os escritórios, as empresas, ou seja, no fundo era tirar de lá as pessoas e então dizia-se, er-ra-da-mente, que se estava a sanear essas pessoas. Ora elas não eram saneadas, porque isso não faz sentido, é um erro no uso da língua, o que era saneado era o local de trabalho. O secretário de estado de qualquer coisa era fascista, então dizia-se que ele tinha sido saneado, mas estava errado, o que se tinha era tirado a pessoa do cargo. Estão a ver?"

Depois ainda dizem que o 25 de Abril não valeu a pena...
...e vocês, o que é que acham?

17 agosto 2004

Cerveja II

E como o verão é uma boa altura para falar de caracóis (da terra e do mar) aqui destacamos mais um anúncio dos coleccionáveis para a história das ideias no primeiro quartel do séculoXXI em Portugal.

Da ficção à realidade

Ontem foi um dia importante.

O meu Curriculum Vitae sofreu mais uma actualização póstuma.

Aprendi a usar o Outlook Express.

O próximo é o PowerPoint do Office.

Um dia destes ainda me apanham numa entrevista de "emprego" a contar só verdades.


15 agosto 2004

Fátima no Ministério, já!

Fátima Bonifácio strikes again. Num artigo publicado hoje no Público, a senhora introduz-nos em alguns aspectos da sua vida enquanto vai desfiando um concentrado de ideias feitas do mais bacoco senso comum luso-pessimista, naquele registo apocalíptico de autoflagelamento colectivo que os intelectuais portugueses tão bem sabem encarnar quando falam para o povo. O problema é que "a Fátima" (é como eles se tratam lá no departamento) é professora universitária de História há 25 anos. Tem não sei quantos livros publicados sobre o nosso século XIX. Podia fazer alguma ideia das suas responsabilidades para lá da sala de aulas e dos arquivos (já que nas salas de aulas da licenciatura ninguém a vê há quase dez anos). Mas não faz. Aliás, isto lembra-me uns textos do Ricardo sobre alguns intelectuais da nossa praça (Filomena Mónica, Fernando Ruivo, Fátima Bonifácio), a estreiteza de vistas de quem se quer posicionar criticamente face a alguma coisa e é incapaz de ir mais longe que a sua mundividência de paróquia, acabando por se constituir a si próprio como medida de todas as coisas. Entre uma bica e um pastel de nata, o artigo diz isto: o ensino em portugal é uma merda e tem piorado, a culpa é "da escola", dos alunos que chegam analfabetos às universidades e das famílias que educam as crianças na preguiça mental. Como argumentação de apoio é referida a experiência de 25 anos de ensino na FCSH da Universidade Nova de Lisboa a alunos cada vez mais ignorantes. A conclusão é óbvia e transparente: não há dinheiro que resolva o problema.
Eu acho que tanta clarividência, tanto estudo das questões, tanta problematização, tanto esforço na busca de soluções só podem merecer um Ministério para Fátima.
Uma coisa é certa, minha querida: Setembro espera por ti nas paredes da faculdade onde não dás aulas há quase dez anos.




Cerveja

Descobrimos porque é que a sagres não tem sucesso em terras tripeiras. Vejam esta campanha dirigida à cidade

13 agosto 2004

regresso ao vale do Tejo

A Barbie afogou-se no Mar de Ons. Bem lhe disse para descalçar as mules dentro do barco,principalmente no meio da tempestade. Uma baixa pressão vinda da Irlanda fustigou-nos a costa da Galiza, restando-nos, para brincar, fugir das gaivotas e esturgir mexilhões. Magníficos estes sobreviventes da Maré Negra.
Descendo mais um pouco entrámos no Centro Português de Fotografia para ver, entre outras, a foto que o Deco linkou da exposição Futebol, língua universal . Das casas-de-banho da Cadeia da Relação de Souto Moura passámos para o Souto Moura da nova estação de metro da Trindade. A futura rede metropolitana vai fazer passar a invicta a mulher-da-vida. Completa será a maior rede de metro de superfície e aproximará toda a cidade e arredores. O Porto continua um estaleiro (não o serão irremediavelmente todas as cidades?) os andaimes na ponte D.Luís dão-lhe um ar mais intenso e radical. Esta ponte continua a desafiar todas as outras que foram surgindo, pela argúcia, escala, beleza. Não vimos a Casa da Música, recentemente desentaipada, porque precisava de descalçar os pés numa relva qualquer. Quando chegámos ao verde de um jardim apareceu-nos este moinho de pimenta gigante seguindo o seu rasto encontrámos o resto dos utensílios, de materiais vários, do cozinheiro Tony Cragg.
Interrompemos o passeio para vir a Lisboa beber uma sagres.

12 agosto 2004