11 setembro 2004

O Bastonário pidesco

Há os médicos sem fronteiras, há os médicos a sério e há os médicos sem consciência, normalmente aqueles a quem ouvimos dizer eu a mim não me obrigam a fazer abortos porque a minha consciência não permite mas nunca lhes ouvimos nada sobre a questão de saúde pública que levanta o flagelo do aborto clandestino. Nada, nem uma palavra. Mulheres, hemorrogias, entrada nas urgências dos hospitais, complicações para a saúde da mulher. Mortes. Diz respeito aos médicos? Silêncio hipócrita. Mulher grávida, tem medo de ir a um hospital, não sabe o que há-de fazer, clínica de vão-escada, sem medicação, sem assistência condigna, isto diz respeito aos médicos? Silêncio hipócrita.
Perante este cenário de profissionais cobardes (tirando as excepções honrosas) o ministro-do mar-do-jaguar manda as corvetas ameaçar um barco que traz activistas a sério, dispostas a muito mais que apontar o dedo à santíssima hipocrisia criminosa. Sim, é preciso que se diga, as nossas manifestações ordeiras à porta das residências oficiais dos mandantes comparadas com a determinação destas holandesas também deve ser responsável pelas diferenças claras, nesta lei, como noutros níveis de qualidade de vida, entre o nosso país e a Holanda.
Uma juiza portuguesa em Coimbra repete, ao recurso interposto pela associação, os argumentos do Governo (nem sequer teve tempo ou foi necessário arranjar palavras ou argumentos próprios), o Barco não entra disse o ministro, vão lá queixar-se à Europa. Em resposta a médica e activista Rebecca Gomperts explica às mulheres portuguesas como poderão fazer um aborto 90% seguro utilizando medicamentos à venda em Portugal. Não lembrou à Rebecca Gomperts nem a nenhum de nós passaria pela cabeça que na sequência desse aborto induzido se uma mulher portuguesa tivesse de recorrer a um hospital seria denunciada por um enfermeiro ou por um médico como vem nas notícias desta semana. Nem ocorreria a qualquer de nós que o bastonário da ordem, caladinho que nem um rato até agora, viria à televisão insurgir-se contra a médica holandesa (por ela ter a coragem que a ordem que ele representa não tem) e acusá-la de incitar a práticas criminosas. Não bastava o silêncio hipócrita, temos agora pela mão deste governo o acordar dos pides adormecidos deste país. Nas esquinas, nas tv`s, nos bancos de urgência dos hospitais.




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