29 agosto 2004

O fado dos decapitados II

Depois de escrever o post anterior e sem pensar que alguém pudesse partilhar as mesmas preocupações, encontrei isto no número de Julho/Agosto da New Left Review. Ponho aqui a referência porque os motivos que me levaram a pôr desajeitadamente aquelas interrogações (que apareceram ontem à noite em conversa com a almofada) estão aqui neste artigo, bem como a intuição que é necessário passar a um novo patamar reivindicativo na questão iraquiana, embora a editorialista só coloque a questão frontalmente na última frase, que eu, desgraçadamente, não consigo copiar para aqui. Ela por acaso passa por cima das acções mais "terroristas" no sentido que a propaganda lhes dá, acções que nenhuma entidade empenhada numa luta de libertação nacional clássica ou que queira assumir esse estatuto pode "legitimamente" cometer (atentados contra as Nações Unidas, decapitações de jornalistas...). Leiam. Eu acho que há aqui um desafio para as ATTACs deste mundo e para cada um de nós. Vamos lá assumir que os gajos não são todos totós ou fanáticos de Alá.

2 comentários:

J. disse...

Confesso que a reinvindicação de que a França deixe de proibir o uso de véu em troca de duas cabeças de jornalistas me empurra a acreditar que para além de fundamentalistas de Alá são totós. A lógica de resistência a uma invasão criminosa não tem de fazer-se segundo os nossos critérios "humanistas" de sofá, nem segundo critérios de ordem táctica ou estratégica, por parte dos que se opõem a esta guerra, que procuram encontrar do lado de lá interlocutores aceitáveis para derrotar ou ajudar a derrotar o invasor. A lógica, é certo, é a da guerra. Desigual e assimétrica, a pedra enfrentando o tanque, o David frente a Golias (acrescentaria ainda o avião contra a torre).
Ainda assim há uma lógica, mesmo que estilhaçada numa panóplia de factores, ou devia haver, ou queremos vê-la. As Filipinas negociaram e ganharam a vida do sequestrado.
Qual é o sentido de matar dois jornalistas franceses quando a França se opôs na primeira linha à intervenção no Iraque? Quando em França vivem 5 milhões de muçulmanos? A lógica deste sequestro é demasiado atroz porque nos diz ou que os raptores há muito desistiram de ganhar qualquer guerra ou que são, mais do que outra coisa, fundamentalistas totós.

Al disse...

Pois, este é um dos tais casos que é difícil de entender. Mas na resistência também há pau para toda a colher.