01 março 2006

Paris em guerra

O Sangue dos Outros
Simone de Beauvoir

Já li este livro há alguns anos e, como costuma acontecer-me, esqueço-me da história em si, ficam as memórias (boas ou más), alguns episódios, os ambientes e os conhecimentos que me trouxe.
Lembro-me que é uma história de amor e desespero difícil de deixar a meio, e lembro-me do embarque na Place de la Contrescarpe, ali onde também morou o Hemingway. É uma praça pequena, com um movimento e ambiente de bairro, e dos poucos sítios em Paris onde ainda subsistem edifícios anteriores a Haussmann.

É nesta praça que se passa a cena mais comovente deste livro, descrita de modo tão realista, que se torna claro que a autora assistiu a estes embarques várias vezes: o de crianças judias das escolas do bairro em obscuras camionetas, que tomariam o caminho da estação de Austerlitz.
Se para nós Austerlitz quer dizer chegada, saída da miséria para tentar a sorte num bidonville dos arredores de Paris, para os franceses significa a partida de comboios de gado carregados de gente a caminho da Polónia para morrer, e para onde iam também as crianças embarcadas na camioneta. Em qualquer dos casos, Austerlitz quer sempre dizer desespero, fome, miséria e a vida deixada para trás.

1 comentário:

Camarelli disse...

não conhecia. imagino que não seja de fácil digestão