"Também sabemos doutra superstição daquele tempo: a do Homem do Livro. Nalguma estante de algum hexágono ( pensaram os homens) deve existir um livro que seja a chave e o resumo perfeito de todos os outros: deve haver algum bibliotecário que o tenha estudado e seja análogo a um deus. Na linguagem desta zona hão-de persistir ainda vestígios do culto desse funcionário remoto. Fizeram-se muitas peregrinações à procura d`Ele. Durante um século percorreram em vão os mais diversos rumos. Como localizar o venerado hexágono secreto que o alojava? Alguém propôs um método regressivo: Para localizar o livro A, consultar previamente um livro B que indique o sítio de A; para localizar o livro B, consultar previamente o livro C, e assim por diante até ao infinito...Foi em aventuras destas que desperdicei e consumi os meus anos de vida. Não acho inverosímel que nalguma estante do universo haja um livro total; rogo aos deus ignorados que um só homem -um só que seja, há milhares de anos! - o tenha examinado e lido. Se não forem para mim a honra e a sabedoria e a felicidade, que sejam para outros. Que o céu exista, mesmo que o meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, a Tua enorme Biblioteca se justifique."
Jorge Luís Borges, Ficções/A Biblioteca de Babel
1 comentário:
Mas não vi grandes iniciativas à volta do livro... Curiosamente hoje, passando pelo Corte Inglés, havia uma feira do livro em Espanhol (imagino que queiram com isto dizer Castelhano, mas tá bem)... fechada!!!
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