20 abril 2010

Uma espécie de ficha de leitura#22

A tentativa de fazer incidir esse mal-estar sobre certos seres em particular é apenas algo que faz parte dos mais antigos processos psicotécnicos de dominação da vida. Era assim que o feiticeiro extraía do corpo do doente e fetiche previamente preparado, e é assim que o bom cristão transfere os seus erros para o bom judeu e afirma que foi por culpa deste que ele descobriu a propraganda, os juros, os jornais e coisas semelhantes; no decurso dos tempos sempre alguém mandou as culpas para cima do trovão, das bruxas, dos socialistas, dos intelectuais e dos generais; nos últimos anos antes da guerra, por razões que o próprio princípio obscurece, a Alemanha prussiana transformou-se num dos meios mais grandiosos e populares desse estranho procedimento.

(...)

Tudo, hoje em dia, no mundo inteiro, é barulhento e grosseiro; mas na Alemanha o ruído é ainda maior. As pessoas atormentam-se de manhã à noite em todos os países, quer trabalhem quer se divirtam. Mas no meu país ainda se levantam mais cedo e vão dormir mais tarde. O espírito do cálculo e da violência perdeu em todo o mundo o contacto com a alma; mas nós, na Alemanha, temos o maior número de comerciantes e o exército mais poderoso...-Olhou à volta, encantado. - Na Áustria as coisas não chegaram ainda a esse ponto. Aqui ainda há passado, e as pessoas conservaram alguma coisa da intuição prmitiva. Se ainda for possível libertar a alma alemã do racionalismo, o impulso só pode vir daqui.
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