A crise, económica, política, das instituições, não pode transformar-se ela própria num valor, que damos por adquirido e que nos leve a aceitar tudo, já aceitamos tanto. Por inércia, por incapacidade de ripostar, por incredulidade. A resposta esta semana do relatório da Inspecção Geral da Educação sobre o inquérito à volta da morte do Leando ultrapassa tudo quanto uma sociedade decente pode suportar.
Apesar do juízo sobre algo tão grave como a responsabilidade da morte de uma criança dever ser feito de forma tranquila e longe do ruído mediático, a verdade é que os portugueses puderam acompanhar através de inúmeros e diversos meios de comunicação social, as numerosas queixas de famílias junto de autoridades, as queixas do ministério público de casos de violência escolar, o internamento do mesmo Leandro vítima de agressões na cidade por parte de colegas da mesma escola. Ouvímos os testemunhos de crianças e pais sobre situações que, se se podem verificar em qualquer escola do país, não é suposto ficarem sem resposta e sem resolução. E lidar com bullyng numa escola em Mirandela certamente será diferente do que lidar com o mesmo fenómeno numa escola com a população desenraizada dos subúrbios das grandes cidades.
A morte do aluno Leandro durante o período escolar por fuga e medo dos colegas da escola é demasiado revoltante. A ausência de uma palavra da direcção da escola, nem sequer de condolências para a família, é uma afronta para todos, acto inominável para a família do menino. O comportamento destes professores, ou desta direcção é demasiado bárbaro para que não haja consequências para além da morte de uma criança, da sua violentação física e psicológica bem como para alguns alunos da mesma escola, consequências para além deste sentimento de vergonha e revolta que nos assalta o peito. O relatório é tão vergonhoso como o comportamento da direcção da escola que nos foi dado a ver. Com uma cobardia típica da incompetência o relatório (que demorou mais de um mês a estar pronto!) vem empurrar a água do capote para os funcionários que zelam pelo portão, contratados pela autarquia e não pelo ME. Os pais do Leadro já tinham por várias vezes procurado a direcção da escola preocupados com a mesma questão. Ninguém responde por isto?
Ter de trabalhar até aos 65 anos com uma reforma próxima de 40 ou 50% do meu salário, ter um ordenado sem alterações durante anos, um emprego precário, não ter trabalho na minha área de formação, são questões a que podemos e temos de responder politicamente, são opções políticas. São modelos discutíveis do governo das coisas.
Ver morrer um concidadão por acidente das forças de autoridade, ou por encerramento de um SAP ou por negligência grosseira dos agentes educativos é algo que não pode estar a discussão. Não é uma opção politica entre modelos do governo das coisas. É algo básico, garante mínimo de uma sociedade decente. É preciso que demos o peito contra a barbárie, que nos juntemos à população de Mirandela, à familia de Leandro Pires.
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