Há uma intuição que lhe diz: esta ordem não é tão sólida como parece, não há coisa nem Eu, não há forma nem princípio que seja seguro, tudo está sujeito a uma mudança invisível mas imparável, o futuro está mais no instável do que no estável e o presente não é mais do que uma hipótese que ainda não ultrapassámos. Que poderia ele fazer melhor senão manter-se à margem do mundo, naquele bom sentido exemplificado pelo cientista na sua relação com os factos, que poderiam querer tentá-lo a acreditar prematuramente em si? Por isso hesita em fazer de si alguma coisa: um carácter, uma profissão, um modo de vida fixo, são para ele antecipações em que é já possível discernir o esqueleto que no fim restará dele.
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Não era filósofo. Os filósofos são seres violentos que, como não dispõem de um exército ao ser serviço, dominam o mundo encerrando-o num sistema. Provavelmente está aí a explicação para o facto de, nas épocas de tirania, ter havido grandes filósofos, enquanto as fases de civilização e democracia avançadas não conseguem produzir uma filosofia convincente, pelo menos a avaliar pelo desapontamento em geral manifestando a este respeito.
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