Podemos sentir uma pancada não apenas como dor, mas também como ofensa, e neste caso ela torna-se cada vez mais insuportável; mas também aceitá-la desportivamente, como um obstáculo que não nos intimidará nem nos arrastará para uma ira cega, e então não é raro nem sequer darmos por ela. Neste segundo caso, porém, o que aconteceu foi apenas que integrámos essa pancada num contexto mais geral, o do combate, e em função disso a natureza do golpe revelou-se dependente da tarefa de desempenhar.
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Ulrich é um homem que alguma força obriga a viver contra si próprio, apesar de, aparentemente, seguir as suas inclinações sem constrangimentos. (...) Qualquer coisa o atraía em tudo o que existe, e qualquer coisa de mais forte se lhe opunha. Porque vivia ele então neste limbo de indecisão? Não havia dúvida -pensava para consigo -, o que o condenava a esta forma de existência como um desterro sem nome mais não era do que a compulsão para aquele atar e desatar do mundo que se pode designar com essa palavra que não gostamos de encontrar sozinha: o espírito.
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