"Mas não será o dinheiro um método tão seguro de tratamento das relações humanas como a força, e não nos permite ele dispensar o uso ingénuo dela? É uma violência espiritualizada, uma forma especial de violência, flexível, requintada e criativa. Os negócios não se baseiam na astúcia e na força, na obtenção de vantagens e na exploração? A diferença é que são atitudes civilizadas, transpostas para a interioridade, como que mascaradas com a aparência da sua liberdade. O capitalismo, enquanto organização do egoísmo segundo a hierarquia de forças que permite fazer dinheiro, é mesmo a maior e a mais humana das ordens que conseguimos criar em Tua honra (....
"E agora, vamos fazer o quê?", que, no fundo, tem o gosto amargo do tédio, acaba por nunca se libertar de uma voz interior que exorta ao arrependimento. A época aplica a esta o princípio da divisão do trabalho, ao destacar determinados intelectuais, penitentes e confessores para se ocuparem dessas intuições e lamentos interiores -vidas destinadas a vender indulgências, pregadores e profetas literários que é muito útil termos à mão quando não conseguimos, individualmente, viver segundo o que eles pregam. E também a propaganda e o dinheiro que o Estado enterra ano após ano em instituições culturais como em sacos sem fundo funcionam como um equivalente semelhante a esse tipo de resgate moral.
pp. 660-661
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