20 abril 2010

Uma espécie de ficha de leitura#13

Convém dizer que a existência continuada num Estado bem organizado tem qualquer coisa de fantasmático; uma pessoa não pode sair à rua, beber um copo de água ou apanhar o eléctrico sem tocar nas alavancas calculadas de um gigantesco aparelho de leis e ligações , sem as pôr em movimento ou se deixar manter por elas na tranquilidade da sua existência. Conhecemos muito pouco dessas alavancas que chegam até aos níveis mais profundos, enquanto, por outro lado, se perdem numa rede cujo emaranhado homem algum jamais conseguiu destrinçar; negamos a sua existência, tal como o cidadão nega o ar, dizendo dele que é o vazio. Mas o mais provável é que essa natureza fantasmática da vida resulte precisamente do facto de tudo aquilo que se nega, tudo o que não tem cor, cheiro, sabor, peso ou moral, como a água, o espaço, o dinheiro e o passar do tempo, ser de facto o que há de mais importante. (...)

Acontece que ele estava acostumado a ver no Estado qualquer coisa como um hotel no qual temos direito a ser tratados com delicadeza, e queixou-se do tom em que o polícia s elhe tinha dirigido.

pp.222-223

Sem comentários: