20 abril 2010

Uma espécie de ficha de leitura#15

Uma utopia é mais ou menos o equivalente de uma possibilidade; o facto de uma possibilidade não ser uma realidade significa apenas que as circunstâncias com as quais a primeira está articulada num determinado momento e impedem de ser a segunda, porque de outra forma ela mais não seria do que uma impossibilidade. Se essa possibilidade for liberta das duas dependências e puder desenvolver-se, nasce a utopia. É um processo semelhante àquele que se verifica quando um investigador observa a transformação de um elemento num composto para daí tirar as suas conclusões. A utopia é a experiência na qual se observam a possibilidade de transformação de um elemento e os efeitos que ela provocaria naquele fenómeno composto a que chamamos vida. (...)


Os contornos bem definidos da vida interior, assegurados pela moral, têm pouco valor para um homem cuja imaginação se orienta no sentido da mudança; enfim, quando a exigência de mais plena e exacta realização no plano intelectual se transfere para o das paixões, o espantoso resultado, a que já fizemos alusão, é que as paixões desaparecem para dar lugar a uma forma de bondade que se assemelha ao fogo das origens. (...)


É esta a razão pela qual Ulrich, em toda a sua vida, se sentiu sempre bastante isolado quando se tratava de saber se devemos adaptar todas as outras às formas mais poderosas da nossa realização interior ou, por outras palavras, se poderemos encontrar uma finalidade e um sentido para aquilo que nos acontece e aconteceu.

pp.338-339

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