02 junho 2006

Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo

E quando o mentiroso insiste numa argumentação coxa, nem vos digo! É um instantinho. Aliás... o melhor, é que os próprios se fazem apanhar.

Eu explico. Vi um artigo sobre um estudo comparado sobre a competitividade, e fui ver a coisa propriamente dita.

Ora, e a propósito de competitividade, o que é que nos martela os ouvidos?

- que tudo a que chamamos direitos, são afinal privilégios e têm que ser reduzidos/ extinguidos;
- que a nossa força de trabalho é caríssima e isso nos tira competitividade;
- em França, acrescenta-se a este argumento que há demasiadas greves; e que há fugas de cérebros para o estrangeiro;
- sobretudo, martelam-nos com o modelo ultra-liberal americano e inglês como o paraíso a atingir.


Este estudo cobre as economias de França, Reino Unido, Holanda, Itália, Alemanha, Japão, Singapura, Estados Unidos e Canadá, e revela que afinal a terrível, infernal, anti-liberal, conservadora e atrasada França, cujos trabalhadores são profundamente estúpidos e não percebem nada do que se tenta fazer por eles, é o país europeu que atrai mais investimento. Está em terceiro lugar, depois de Singapura e Canadá, e antes dos "paraísos" de competitividade EUA e UK.

Mas não acaba aqui: um dos factores que leva a esse lugar priveligiado são precisamente os custos ligados à força de trabalho.

"De quem é este estudo tão altamente tendencioso?", perguntarão alguns. Preparam-se talvez para ouvir PCF, ATTAC, BE, algo assim. Pois deixem dizer: KPMG. Sim, essa mesma, a consultora multinacional, e até têm bem afixada a lista dos patrocinadores do estudo, constituída por organismos oficiais e estatais dos países visados e várias empresas multinacionais.

Parece que formar as pessoas, dar-lhes um sistema de saúde eficaz e pagar-lhes decentemente ainda traz alguns benefícios. Será que alguém enviou este estudo aos governos que o encomendaram?

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