20 junho 2006

Camus - revisão

Vou voltar a um post da J., aquele sobre as "Cartas a um amigo alemão" de Albert Camus. Como disse no comentário que fiz na altura, fui ler, e li também um outro livro dele que tinha cá em casa há mais tempo, mas em que ainda não tinha pegado: "Actuelles. Écrits Politiques". Na verdade são complementares.

Este segundo tem duas partes: primeiro tem os editoriais que escreveu no jornal "Combat" durante a libertação de Paris (Agosto de 1944) enquanto o jornal saía da clandestinidade, e mais alguns editoriais de datas escolhidas (o Armistício a 8 de Maio de 1945 ou a bomba atómica a 8 de Agosto de 1945) ou temas importantes. A segunda parte são escritos políticos, a maior parte dos quais textos também publicados em jornais e que são respostas a diversas pessoas que escreviam sobre ele, criticando-o.

O que mais espanta é a clareza de espírito e o sangue frio, mesmo durante a guerra, de separar bem as armas e o ódio. Camus critica a barbárie nazi, a bomba atómica dos EUA, e a perpetuação da morte e da fome nos campos de concentração depois da libertação, enquanto os exilados de luxo eram repatriados com toda a rapidez e conforto. Separa com toda a clareza a acção dos grupos católicos da Resistência e o vergonhoso apoio do Papa ao regime nazi; não tem dúvidas em pôr a Espanha franquista ao lado da URSS estalinista, mesmo contra a opinião "bem-pensante" da época.
E no meio de todos os acontecimentos vertiginosos, uma teorização dos objectivos a atingir e dos valores e organização da sociedade a construir: a dualidade justiça/liberdade, o comunismo e o anti-comunismo, a ordem social/ unidade de governo/ ordem na conduta individual.

Ainda hoje existem os preconceitos que denuncia e ainda hoje a sociedade que ele preconiza está por cumprir. Estes editoriais dos anos 40 e 50, na verdade, podiam ser os desta manhã.

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