Para mim as eleições francesas são mais fáceis de perceber. Tenho, obviamente, candidatos preferidos, mas estou de fora.
Até há poucos meses, o pré-vencedor das Presidenciais francesas de 2007 era Sarkozy. Ele eram capas de jornais, revistas, grandes cartazes de publicidade a televisões ou jornais, mas em que só se via a cara e o nome do pré-vencedor ainda não oficialmente candidato. As sondagens davam todas o mesmo resultado, e nem sequer se falava de mais ninguém. Aliás, até beneficiou com os motins de novembro e o movimento anti-CPE: dava-lhe aquele ar de protector/vingador que põe toda a gente na ordem. Depois começou a aparecer a questão da Clearstream.
Ao mesmo tempo e muito a jeito, apareceu a Royal, candidata do PS, e desde então todo o discurso da imprensa mudou. A máquina é a mesma, a cara da senhora é omnipresente, todos os trocadilhos possíveis com o nome dela enchem as parangonas dos jornais. Deve dar imenso jeito: é mulher, o que dá uma imagem de país civilizado e de lição à Europa (coisa que os franceses adoram), tem um discurso às vezes ainda mais direitista que o próprio Sarkozy que copia os discursos do Le Pen, sai de um partido chamado socialista. Os principais títulos consistem em explicar calmamente ao público que os campos de reeducação militares são uma reivindicação perfeitamente natural da esquerda, e que a grande preocupação da verdadeira esquerda é a histeria securitária. Resumindo, importa fazer saber que a Royal é de direita, ensinando que afinal aquilo é que é a esquerda. E com uma pré-vencedora (ainda nenhum é sequer oficialmente candidato) de direita que explica ser de esquerda, todos os votos são poucos, e as sondagens viraram.
O bom de tantos candidatos de direita, é que os da extrema-direita têm andado desaparecidos.
E nem o José Bové é deixado em paz. Ao público, a rádio explicava hoje que este pré-vencido (e este ainda nem decidiu se vai mesmo candidatar-se, só falou no assunto) não terá o acordo dos partidos da esquerda, e que sem meios para a candidatura, não era possível levá-la adiante. Declarações dos tais partidos da esquerda? Não! Assim, de chofre, sem uma reflexão, sem dúvidas, como se tudo isto fossem verdades absolutas e indesmentíveis. Ignoram, obviamente, o facto de o José Bové estar ligado a várias associações não políticas e que têm meios para o ajudar a financiar a campanha, mesmo que os partidos decidam não se meter. A Cofédération Paysane e a ATTAC.
Era também explicado, assim à laia de aula ao menino Tonecas, que ele só tem a perder com esta candidatura, porque nós ouvintes temos a obrigação de achar que o José Bové é exterior à política e ficar desiludidos por esta candidatura a um cargo político.
Fiquei logo descansada. É muito mais fácil ter alguém a dizer-nos o que havemos de pensar. Imaginem o que era começar a sair fumo da cabeça de cada um que lesse um jornal ou ouvisse um noticiário!
Até há poucos meses, o pré-vencedor das Presidenciais francesas de 2007 era Sarkozy. Ele eram capas de jornais, revistas, grandes cartazes de publicidade a televisões ou jornais, mas em que só se via a cara e o nome do pré-vencedor ainda não oficialmente candidato. As sondagens davam todas o mesmo resultado, e nem sequer se falava de mais ninguém. Aliás, até beneficiou com os motins de novembro e o movimento anti-CPE: dava-lhe aquele ar de protector/vingador que põe toda a gente na ordem. Depois começou a aparecer a questão da Clearstream.
Ao mesmo tempo e muito a jeito, apareceu a Royal, candidata do PS, e desde então todo o discurso da imprensa mudou. A máquina é a mesma, a cara da senhora é omnipresente, todos os trocadilhos possíveis com o nome dela enchem as parangonas dos jornais. Deve dar imenso jeito: é mulher, o que dá uma imagem de país civilizado e de lição à Europa (coisa que os franceses adoram), tem um discurso às vezes ainda mais direitista que o próprio Sarkozy que copia os discursos do Le Pen, sai de um partido chamado socialista. Os principais títulos consistem em explicar calmamente ao público que os campos de reeducação militares são uma reivindicação perfeitamente natural da esquerda, e que a grande preocupação da verdadeira esquerda é a histeria securitária. Resumindo, importa fazer saber que a Royal é de direita, ensinando que afinal aquilo é que é a esquerda. E com uma pré-vencedora (ainda nenhum é sequer oficialmente candidato) de direita que explica ser de esquerda, todos os votos são poucos, e as sondagens viraram.
O bom de tantos candidatos de direita, é que os da extrema-direita têm andado desaparecidos.
E nem o José Bové é deixado em paz. Ao público, a rádio explicava hoje que este pré-vencido (e este ainda nem decidiu se vai mesmo candidatar-se, só falou no assunto) não terá o acordo dos partidos da esquerda, e que sem meios para a candidatura, não era possível levá-la adiante. Declarações dos tais partidos da esquerda? Não! Assim, de chofre, sem uma reflexão, sem dúvidas, como se tudo isto fossem verdades absolutas e indesmentíveis. Ignoram, obviamente, o facto de o José Bové estar ligado a várias associações não políticas e que têm meios para o ajudar a financiar a campanha, mesmo que os partidos decidam não se meter. A Cofédération Paysane e a ATTAC.
Era também explicado, assim à laia de aula ao menino Tonecas, que ele só tem a perder com esta candidatura, porque nós ouvintes temos a obrigação de achar que o José Bové é exterior à política e ficar desiludidos por esta candidatura a um cargo político.
Fiquei logo descansada. É muito mais fácil ter alguém a dizer-nos o que havemos de pensar. Imaginem o que era começar a sair fumo da cabeça de cada um que lesse um jornal ou ouvisse um noticiário!
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