Neste ensaio tentei aplicar alguns conhecimentos, da muito recente ciência que dá pelo nome de Vida Artificial, à arte e à análise social.
Pegando na afirmação de Chris Langton enquanto fala da vida artificial como estudo da “vida como ela poderia ser” (Life as it could be, instead of life as we know it), procuro demonstrar que temos agora os meios para desenvolver os estudos de uma “arte como ela poderia ser” ou uma sociedade como ela poderia ser.
Leonel Moura mistura formigas, vagabundos literários e anarquia, demonstrando como as primeiros são um exemplo de organização anarquista em que a sociedade, o formigueiro, é um sistema que funciona. Organizado sem hierarquias e em que o poder se estabelece de baixo para cima. E não ao contrário como em todas as sociedades humanas (com raríssimas excepções).
São pois os mecanismos simples e as suas propriedades emergentes que na verdade estão na origem da vida e que permitem a existência de sistemas tão complexos como a organização social. E alguns estudos recentes demonstram como os neurónios do cérebro funcionam com base em tais mecanismos, assemelhando-se a outros sistemas vivos de que o comportamento das colónias de formigas é um dos paradigmas mais recorrentes nas novas ciências da inteligência e da complexidade.
Com base nos mesmos princípios o autor, artista plástico, defende um novo paradigma para a arte. Não como ela é, mas como poderia ser::
- O objectivo é agir sobre um ambiente dado.
- O jogo é desencadeado pela decisão de participar, nada mais.
- A acção é individual mas partilhada por muitos indivíduos.
- Não existe definição prévia de outros pressupostos (para além do desejo inicial de participar) e não se admite a presença de qualquer autoridade ou hierarquia.
- A interacção entre todos é livre e múltipla mas tem de contemplar a comunicação indirecta, isto é, de stigmergia.
- A mecânica dessa comunicação, à maneira da feromona, deve permitir acumulação e evaporação.
(...) O ambiente tanto pode ser um espaço disponível, um site na internet, uma zona urbana, como o planeta inteiro ou um problema, um conceito ou a cultura no seu todo. O artista desencadeia um processo para logo de seguida perder totalmente o controlo da situação. (...) Perder o controlo para deixar emergir a arte que pode ser.
Leonel Moura testou estes princípios numa experiência com Vitorino Ramos a que deram o nome de MC2 Máquinas de Consciência Colectiva. E os mesmos modelos inspiraram os últimos trabalhos realizados por robôts que cumpriam os princípios enunciados neste pequeno e saboroso ensaio.
5 comentários:
excelente proposta
O livro deve ser o máximo!
Olá
Gostei imenso desta tua sugestão. Obrigada.
Bjs.
boa sugestão, fiquei curioso.
J.
Amiguita, boa escolha!!
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À Sra. D. Historiadora de Arte, Adepta de Azulejos:
Ai, ai, tens que participar na iniciativa de preservação dos painéis de Rolando Sá Nogueira, em estado de quase total degradação, passa pelo meu blogue!!
Obrigada,
:)
Sandra
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