05 janeiro 2006

Coitadinho do Xô Silva!

À falta de ideias, princípios, bons modos, simpatia, empatia, competência e honestidade, a única estratégia que o Xô Silva pode adoptar é a vitimização. Se estivesse estado acordado nos últimos meses saberia que isto não resulta. O último que a adoptou foi posto na rua, e até tinha mais jeito para a coisa, sabia fazer de menino mimado com beicinho (de resto, como qualquer puto mimado com idade mental de 2 anos)!

O Xô Silva informou-nos aqui há dias que há algumas dezenas de anos teve que abdicar da praia por uns dias para trabalhar no campo. Coitadinho do Xô Silva! Teve que abdicar da praia por uns dias! Coitadinho! O que o Xô Silva não disse, mas qualquer algarvio (ou nazareno, ou poveiro, etc.) sabe, é que quando ele era adolescente NINGUÉM ÍA À PRAIA!
Havia realmente uma coisa chamada "ir a banhos", mas era no Estoril e mais uma ou duas praias no país e apenas para famílias muuuuuuito ricas!

No Algarve não se ía à praia!!! A praia, no Algarve, na Nazaré, em Peniche, na Póvoa de Varzim, era o local de trabalho dos pescadores e das peixeiras. Ponto final.
No máximo, ao domingo à tarde, podia-se ir andar no passeio junto à praia. Tudo vestidinho com fato domingueiro, nada de "poucas vergonhas"; e tudo no passeio, ninguém se lembrava de ir para a areia, quanto mais ao mar!


Portanto, o Xô Silva não passa de um palerma que se aproveita da falta de memória das pessoas para caçar votos através da vitimização. Mas o que mais me indigna não é que haja um palerma a aproveitar-se da situação. A sério, fossem esses todos os nossos problemas...

O que realmente me indigna é que, tendo ele tido o desplante de dizer isto no Algarve, tenha saído de lá inteiro e com aplausos! Os algarvios sabem perfeitamente que há 50 anos um tipo de uma aldeia (que nem sequer é junto ao mar!) não ía à praia! Ouviram aquelas aldrabices pegadas, o choradinho fácil, sabem bem e na pele que não é verdade, e ainda aplaudiram! O que me indigna é que não o tenham desmascarado, que não lhe tenham chamado aldrabão no instante e virado as costas no instante seguinte! Isso é que me indigna!

6 comentários:

J. disse...

Tens a certeza? Não se ía à praia da forma massiva que a partir de certa altura, mas a época de banhos já é anterior a Cavaco, a não ser que queiras dizer que ele é bem mais antigo do que parece...

Helena Romão disse...

Bem, eu não estava lá, claro... não estou à beira dos 70... Mas é das coisas que sempre ouvi dizer na família e voltei a confirmar antes de escrever o post.

Como escrevi, a "época de banhos" é antiga, mas era nas praias da moda (ali para Cascais e Estoril) e só para as famílias podres de ricas.

Cláudia [ACV] disse...

Então e as descrições de férias de Sophia de Mello Breyner em Lagos, das várias famílias (não propriamente aristocráticas) que as frequentavam? Ou de José Afonso, muito jovem, levando turistas a visitar grutas no seu bote, nos intervalos da pesca da lula e do polvo, para compôr o orçamento lá de casa antes de ser músico reconhecido? Independentemente de não ter sido um fenómeno de massas, é tudo treta?

Helena Romão disse...

Cláudia, citas exemplos de pessoas que não são do Algarve, e que pertencem a meios ainda assim priveligiados e culturalmente muito diferentes de um aldeão do interior algarvio. Quanto ao Zeca Afonso, mais me ajudas. Pelo que dizes eram os turistas (estrangeiros, não?) que iam para lá passear.

Não falaste dos algarvios, camponeses, pescadores (ou gasolineiros). Estas pessoas não tinham o hábito de ir à praia e ainda nos anos 70 (já Cavaco era adulto) ficavam muito surpreendidos com essa gente estranha que vinha de fora e se punha na praia meio despida.

Mais: antes da via do Infante, Poço de Boliqueime era muuuuuuuito longe de Lagos! E não só em distância quilométrica.

Cláudia [ACV] disse...

Helena, se não fui clara, reformulo:

1. Os exemplos que citei (referi Lagos, mas há outros...), tanto a passagem estival de Sophia de Mello Breyner quanto a actividade "complementar" de Zeca Afonso, são anteriores à década de 60. Citei-os para ilustrar que a tua afirmação está um bocado longe de ser indiscutível, mesmo para as classes modestas (é claro que se me disseres que uma pessoa extremamente pobre de Casais de Monchique não ia à praia eu posso aceitá-lo sem pestanejar....). Já então havia actividade estival no Algarve, e essa frequência não estava relacionada com procura estrangeira, à época ainda mais rara que a interna.

2. O fenómeno de veraneio no Algarve, anterior à massificação, foi filho da ligação sazonal que muitas famílias da pequena e média burguesia (provenientes de Lagos, Sagres, Portimão, Tavira, etc, instaladas em Lisboa há uma ou mais gerações, habituadas a mimetizar o que na capital há muito se fazia) mantiveram com as suas terras de origem; é óbvio que não se ia à praia na modalidade de hoje, família-inteira-quinze-dias-de-bronze-intensivos de-bikini-ou-calção-de-banho(esse "choque" das novas indumentárias que falas verificou-se até em Lisboa, onde a "ida a banhos" era secular...), mas ia-se, e muitas vezes os parentes locais de origem modesta ficavam ao serviço de outros mais abastados, em veraneio.

3. É também óbvio que quem ia à praia exclusivamente em lazer era pouca gente, mas não nos esqueçamos que os tempos de descanso para quem não era rico existiam. Esse tempos de lazer não eram compartimentados, muito menos pagos como hoje, antes fluidos e curtos. A população domingava e feriava, e o Verão prometia algum lazer sobretudo à "mocidade" costeira, estudante ou trabalhadora, nos intervalos da ajuda à família ou do trabalho sazonal.

4. De Poço de Boliqueime (ou de Ferreiras, ou de Alcantarilha, ou de Almancil...) a Lagos era muito, claro, mas havia outras aldeias (e cidade) costeiras bem mais acessíveis, verdade?

Peço desculpa se ocupei muito espaço e fui massacrante, até outro dia,

Ant.º das Neves Castanho disse...

Também acho abusiva e enganadora essa frase de Cavaco Silva, claro. Penso, no entanto, que não passa de uma questão de somenos, revelando unicamente uma atitude de displicência muito típica dos políticos portugueses (e não só...), habituados como estão a um Povo acrítico e ainda bastante ignorante (em grande percentagem até analfabeto!).

Quanto à questão em si, apesar de pouco importante, acho que devemos tentar sempre esclarecer-nos em tudo e discutir com a perspectiva de aprender algo, o que só por si já constitui um importante "vitória política", neste caso contra a ignorância e a incapacidade de dialogar democraticamente.

Só por isso entrei nesta "conversa a duas", para precisar que a conclusão final depende em muito da idade de Cavaco na altura do episódio que referiu, que entretanto não vi clarificada.

Isto porque a sua adolescência decorre precisamente numa época de transição de hábitos! Isto é, tendo ele 67 anos, nascido portanto cerca de 1940, a verdade é que na sua infância (anos 40) ainda não se havia generalizado o hábito da ida à praia (e a Helena tem toda a razão no que afirma). Por outro lado, durante a sua juventude (anos cinquenta) começaram a implantar-se e a banalizar-se, de Norte a Sul, as férias balneares, pelo que a Cláudia também tem razão.

A minha família, pertencente à "classe média-baixa" de Lisboa, começou precisamente a frequentar as praias, de início apenas aos fins-de-semana - ainda não como opção de férias de Verão -, precisamente nos inícios dos anos sessenta. Creio que no Algarve se terá passado um pouco o mesmo, por isso a frase de Cavaco é pouco mais que irrelevante.

Ao contrário, obviamente, do efeito que pretendeu (e conseguiu, pelos vistos!) provocar na sua assistência...