16 julho 2004

A política está na rua II

De acordo quanto ao hipotético sentimento de desilusão/abandono/traição que anda por aí no ar. Que até podia explicar a tal mobilização de milhares de pessoas. Só me parece que esse número não corresponde a nenhuma mobilização de massas, mais de metade são pessoas que vão a todas, como tu e eu. Ao resto não andam alheios os esforços de algum PS (pelo menos o João Soares andou a mobilizar para esses milhares) e pessoal da cultura zangado com o Santana já não sei porquê. Ou seja, a desilusão que está nas ruas não se exprimiu nas manifs. O que se exprimiu nas manifs foi a ilusão de alguns militantes da esquerda quanto à reviravolta possível.
Em desacordo quanto à segunda parte. Em primeiro lugar não me parece certo associar dois factos: a convocação de eleições antecipadas e o Ferro como 1º Ministro no fim do ano. Isto é uma daquelas coisas que de tão repetida passa a ser verdade mesmo que nada o justifique. É preciso ver que já havia vários candidatos assumidos ao lugar do Ferro e outros por assumir e que aparecem agora. É mentira que o Ferro gozasse de tanto à vontade naquele ninho de víboras como se tenta acreditar à esquerda e isso viu-se na desorientação da facção que o apoiava (grosso modo a maioria da Comissão Política) quando ele se demitiu. É preciso lembrar que ainda era necessário disputar eleições e que o Ferro teve dois anos muito difíceis como líder do PS, que perdeu o número dois, que teria que ir a eleições sob o estigma de ter andado em panelinha com o Sampaio para apear uma maioria com dois anos...
Portanto parece-me abusivo dizer que o Sampaio agiu premeditadamente no sentido de impedir que o Ferro ou os sociais-democratas honestos do PS (o que não é especialmente elogioso, acho) fossem para o Governo. E volto a dizer: a partir do momento em que o Portas e o Santana seguraram o barco, o Sampaio foi coerente consigo próprio. Afinal, ele está de acordo com o essencial da política dos governos do PSD!
Por tudo isto e o resto que já disse quanto à inconsistência da maioria das críticas ao Santana Lopes, acho que o pessoal anda a iludir-se demasiado facilmente com miragens de poder que não passam de miragens de alternativas políticas. E que por isso perde a noção da importância das coisas.

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