Esta gente passou-se. Estive a ler o que para aí vai em blogs sobre a decisão do Sampaio, em particular nos blogs da malta que estava à espera de vir para a rua buzinar se a decisão fosse outra. É incrível. Comportam-se em política como (os outros, os outros!!) no futebol. Sacam da bandeira, enchem os pulmões e gritam que isto é uma vergonha, que isto é traição, que uma maioria, um governo e um presidente, blá, blá, blá.
A ninguém ocorre aquilo que, antes de tudo isto começar, era óbvio e entretanto foi esquecido no ambiente de afianço de unhas que se foi produzindo: que o Sampaio ia convidar o PSD a indicar um novo 1º Ministro e que só não o faria se a maioria parlamentar desse sinais de não se aguentar. A história destes quase 15 dias é em grande medida a história das pressões perfeitamente legítimas da esquerda e alguma direita para criar um ambiente político de desgaste à maioria parlamentar que influenciasse a decisão do Sampaio. E de pressões da maioria parlamentar e seus aliados sociais para neutralizar esse ambiente e influenciar o Sampaio em sentido inverso. Esta decisão vem provar que a postura de low-profile da Direcção do Ferro não colheu. Admitindo que o Sampaio era sensível a pressões, ter-se-ia exigido mais tomates na oposição. Que o Ferro agora se demita e que ninguém no PS critique essa decisão é sinal claro que está pessoalmente farto daquilo tudo e que não tinha condições internas para ser 1º ministro em Outubro. E é provável que o Sampaio soubesse disto. Por outro lado, a razão mais forte, mesmo que subliminar, para que o PSd não formasse novo Governo sempre esteve indissociavelmente ligada à figura do Santana. Ora, para além do trabalho de merda em Lisboa e das queixas de algum pessoal da cultura, não vi muito mais em substância que se pudesse atirar à cara do homem quanto a incompetências várias no exercício de cargos públicos. Então, alguém me diz qual era a competência no exercício de funções públicas demonstrada por, por exemplo, o António Guterres antes de ser 1º Ministro? Zero, não é (ele ainda foi qualquer coisa num governo do Soares...)? E não é caso único. Claro que o BE e o PCP insistiram na questão das políticas. Pois, e eu estou de acordo com tudo o que disseram, só que o Sampaio veio do PS, e o PS sempre foi muito competente a protagonizar saídas pela direita e em tratar dos seus interesses muito próprios, que muitas vezes se confundem com os interesses das bolsas, como dizia o Ber algures. A estabilidadezinha. E são como são.
O que também é interessante é ver como tanta gente esperava genuinamente e até cria noutra decisão. É sinal que, no fundo, a ausência de perspectivas, de saídas, à esquerda, está tão presente que a malta se agarra à primeira miragem de poder.
A decisão do Sampaio não me parece politicamente correcta, não gosto dela, mas penso que não se construíram alternativas de poder. E pelo caminho que toma o PS e pelas reacções no BE estou mesmo a ver que elas ainda vão ter de esperar um pouco.
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