09 novembro 2005

Notícias do dia

1. A proposta do BE, apoiada pelo PCP, para dar início ao processo de mudança da lei do aborto na AR, foi chumbada pela direita (PS, PSD, CDS). Evolução civilizacional parada na Idade Média e sem perspectivas de retoma.

2. Outra proposta do BE, de um voto de condenação pelo abandono dos subsarianos em pleno deserto para morrer à fome e à sede, foi chumbado na AR pela direita (PS, PSD, CDS). Não percebo que raio de gente se pode opôr a um protesto face à morte de tantas pessoas. Também não percebo que ando é que o PS assume que mudou completamente de campo político e muda a sigla. É que a designação de "Socialista" num partido cada vez mais à direita incomoda mesmo.

3. Mais um sinal dos tempos em que parámos o relógio: namoros na escola, só de heterosexuais. E são exactamente agentes de educação, que deviam educar, quem dá os piores exemplos de discriminação, tacanhez e falta de civismo e de educação.

4. Em França, Sarkozy reincide. Bom, uma coisa é certa: o tipo não descansa. Todos os dias arranja um novo disparate, do mais previsível ao mais absurdo! Agora incentiva a dupla pena. Os estrangeiros condenados em tribunal pelos distúrbios dos últimos dias serão extraditados uma vez cumprida a pena. Só que dos 1800 condenados, só cerca de 120 são estrangeiros. A revolta é de franceses, não é de estrangeiros. Mas vá-se lá explicar a este tipo que uma pessoa de pele escura tem nacionalidade francesa. Ele não concebe isso!

É de salientar a súbita rapidez dos tribunais para lidar com os acusados destes distúrbios. Não se pense que em França os tribunais funcionam sempre a esta velocidade. Não, só quando lhes cheira que podem "tratar" de uns quantos "escumalhas" todos por junto. Afinal o problema do atraso dos tribunais é mais fácil de resolver do que parece: basta apelar-lhes ao sentido de racismo e patriotismo mais bacoco.

E pára aqui hoje a leitura dos jornais. Ao contrário de um palestiniano, ou de um dos mortos esta noite em Amã, um qualquer detido em Guantanamo, em Melilla ou em parte incerta, eu tenho a imensa sorte de poder decidir que não quero saber mais nada disto hoje. Em princípio, estou segura de que a manchete de amanhã não me vai entrar pela casa dentro hoje à noite em forma de bomba, chicote ou decreto ministerial.

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