4ª FEIRA-DIA 1 - 18H FRENTE À RESIDÊNCIA OFICIAL DO PRIMEIRO MINISTRO
Abaixo-assinado aqui  http://www.petitiononline.com/19592c11/ 
 
 
 
 
 
 
 
 Há alguns anos já tinha lido A trilogia de Nova-Iorque na ressaca de uns filmes com o selo Auster em sessões nos cinemas onde o povo não vai. Lembro-me de três, Fumo, Fumo Azul (numa tradução idiota) e Lulu on the bridge (nas mãos dos tradutores que temos a coisa não andaria longe de Lulu na ponte...). Há dois meses, não sei porquê, decidi comprar Moon Palace (idiota tradução da Presença como Palácio da Lua) e depois The Book of Illusions. Apesar de ter gostado e de não seguir na leitura nenhuma ordem cronológica de produção, aconteceu que Paul Auster começou a repetir-se. Nos temas e nas soluções narrativas. Na Trilogia de NI tínhamos três histórias em tom de policial, com narrador e personagens perdidos no seu vazio existencial, a que a grande cidade emprestava uma côr negra e labiríntica. Em Moon Palace e The Book of Illusions as personagens voltam a perder-se na tentativa de definir sentidos para a vida, com os livros a explorarem sempre o tema do indivíduo autorecluso, em perda dos outros e do mundo. Em todos há personagens, normalmente as principais, mas também as secundárias, que a dada altura vagabundeiam sem sentido, num parque na cidade a alimentar-se de lixo, num apartamento convertido em gruta do leão ferido, em viagens cross-country pela América até ao fim de todas as estradas. Já como em Lulu on the bridge, há sempre a intervenção de algo inexplicável e inexplicado que salva Marco Fogg, David Zimmer ou Hector Mann do fim, normalmente o fascínio por uma mulher, com a qual mantêm uma relação de que saem "lavados". Ora isto define uma forma de construir as histórias algo linear, como se o Auster andasse sempre a sacar de trunfos para ganhar mais umas páginas de texto. Por outro lado estas coisas adequam-se bem ao "ar do tempo", à percepção comum das contingências da vida, toda a gente está disponível para se fascinar com o inexplicável, com o irracional, e para se confortar com os finais felizes sem justificação. O resto é bom e vê-se que aquilo leva ali muito trabalho. Em rápida consulta pela net, vê-se que as referências são sempre despoletadas pela reverência à qualidade da escrita do Auster, mas ninguém arrisca a crítica. Ou por outra, há textos laudatórios, glosadores e contextualizadores mas não há crítica, situação que me parece muito comum na imprensa que leio, e que se resume ao Cartaz do Expresso e ao Mil Folhas do Público.
Há alguns anos já tinha lido A trilogia de Nova-Iorque na ressaca de uns filmes com o selo Auster em sessões nos cinemas onde o povo não vai. Lembro-me de três, Fumo, Fumo Azul (numa tradução idiota) e Lulu on the bridge (nas mãos dos tradutores que temos a coisa não andaria longe de Lulu na ponte...). Há dois meses, não sei porquê, decidi comprar Moon Palace (idiota tradução da Presença como Palácio da Lua) e depois The Book of Illusions. Apesar de ter gostado e de não seguir na leitura nenhuma ordem cronológica de produção, aconteceu que Paul Auster começou a repetir-se. Nos temas e nas soluções narrativas. Na Trilogia de NI tínhamos três histórias em tom de policial, com narrador e personagens perdidos no seu vazio existencial, a que a grande cidade emprestava uma côr negra e labiríntica. Em Moon Palace e The Book of Illusions as personagens voltam a perder-se na tentativa de definir sentidos para a vida, com os livros a explorarem sempre o tema do indivíduo autorecluso, em perda dos outros e do mundo. Em todos há personagens, normalmente as principais, mas também as secundárias, que a dada altura vagabundeiam sem sentido, num parque na cidade a alimentar-se de lixo, num apartamento convertido em gruta do leão ferido, em viagens cross-country pela América até ao fim de todas as estradas. Já como em Lulu on the bridge, há sempre a intervenção de algo inexplicável e inexplicado que salva Marco Fogg, David Zimmer ou Hector Mann do fim, normalmente o fascínio por uma mulher, com a qual mantêm uma relação de que saem "lavados". Ora isto define uma forma de construir as histórias algo linear, como se o Auster andasse sempre a sacar de trunfos para ganhar mais umas páginas de texto. Por outro lado estas coisas adequam-se bem ao "ar do tempo", à percepção comum das contingências da vida, toda a gente está disponível para se fascinar com o inexplicável, com o irracional, e para se confortar com os finais felizes sem justificação. O resto é bom e vê-se que aquilo leva ali muito trabalho. Em rápida consulta pela net, vê-se que as referências são sempre despoletadas pela reverência à qualidade da escrita do Auster, mas ninguém arrisca a crítica. Ou por outra, há textos laudatórios, glosadores e contextualizadores mas não há crítica, situação que me parece muito comum na imprensa que leio, e que se resume ao Cartaz do Expresso e ao Mil Folhas do Público. 

Fátima Bonifácio strikes again. Num artigo publicado hoje no Público, a senhora introduz-nos em alguns aspectos da sua vida enquanto vai desfiando um concentrado de ideias feitas do mais bacoco senso comum luso-pessimista, naquele registo apocalíptico de autoflagelamento colectivo que os intelectuais portugueses tão bem sabem encarnar quando falam para o povo. O problema é que "a Fátima" (é como eles se tratam lá no departamento) é professora universitária de História há 25 anos. Tem não sei quantos livros publicados sobre o nosso século XIX. Podia fazer alguma ideia das suas responsabilidades para lá da sala de aulas e dos arquivos (já que nas salas de aulas da licenciatura ninguém a vê há quase dez anos). Mas não faz. Aliás, isto lembra-me uns textos do Ricardo sobre alguns intelectuais da nossa praça (Filomena Mónica, Fernando Ruivo, Fátima Bonifácio), a estreiteza de vistas de quem se quer posicionar criticamente face a alguma coisa e é incapaz de ir mais longe que a sua mundividência de paróquia, acabando por se constituir a si próprio como medida de todas as coisas. Entre uma bica e um pastel de nata, o artigo diz isto: o ensino em portugal é uma merda e tem piorado, a culpa é "da escola", dos alunos que chegam analfabetos às universidades e das famílias que educam as crianças na preguiça mental. Como argumentação de apoio é referida a experiência de 25 anos de ensino na FCSH da Universidade Nova de Lisboa a alunos cada vez mais ignorantes. A conclusão é óbvia e transparente: não há dinheiro que resolva o problema.
Eu acho que tanta clarividência, tanto estudo das questões, tanta problematização, tanto esforço na busca de soluções só podem merecer um Ministério para Fátima.
Uma coisa é certa, minha querida: Setembro espera por ti nas paredes da faculdade onde não dás aulas há quase dez anos.

 
 seguindo o seu rasto encontrámos o resto dos utensílios, de materiais vários, do cozinheiro Tony Cragg.
 seguindo o seu rasto encontrámos o resto dos utensílios, de materiais vários, do cozinheiro Tony Cragg. 
"E eu defendo-me um bocadinho do lixo informativo que nos submerge todos os dias. Faz parte da opressão submegir-nos em montes de estímulos absolutamente desnecessários que só têm como função distrair-nos do essencial, ocupar-nos o tempo, a atenção, tirar-nos autonomia crítica."
Visão, 22 Abril 2004
 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
 
 
 
 
As férias são como o futebol, há quem jogue
e há quem fique na bancada.
Nem de propósito, a primeira das imagens que acabei de linkar era uma das fotografias que a exposição da Relaçon mostrava, o que me levou a consultar o catálogo Magnum em linha e a perceber que as fotografias, com toda a informação necessária incluindo legendas, estão disponíveis no sítio da agência.
Ide até lá e inscrevei-vos, não vos arrependereis.