17 outubro 2006

Crónicas da Gália 2

Agora já posso ter um olhar exterior, já não são "as minhas cebolas" - c'est pas mes oignons. Na rua, no Metro, no supermercado, fica uma só impressão.
A agressividade domina: as pessoas empurram-se, entreolham-se ameaçadoramente. Correm para ficar um só lugar à frente na fila da caixa. Olhares estranhos no Metro, na rua, que nos seguem, inquisidores, que não se entendem, impenetráveis mas trocistas, pessoas muito estranhas, meio loucos de ares misteriosos, quase fantasmas.
Não se vê um sorriso, alguém com ar alegre, ou apenas contente. Passam-se dias inteiros na cidade sem que uma pessoa nos olhe sem um ar profundamente triste, ou simplesmente apático. Aquele ar de quem já está tão triste há tanto tempo, que desistiu de esperar.

Tudo isto num silêncio ensurdecedor. Só há ruído no Metro à noite, quando se apanha um grupo de bêbedos na carruagem ao lado, ou se entra um grupo de turistas italianos ou espanhóis.

Entretanto, o Metro desenvolve portas nos cais das estações para isolar a linha. O número de suicídios e homicídios nas linhas do Metro justificam este investimento; não são notícia de jornal, são o dia-a-dia dos parisienses.

Conheço mais cidades nortenhas dominadas por céus cinzentos, mas nenhuma tem o cinzento em todas as caras.

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