30 maio 2006

Frio, música, frio, BD, frio (em Junho), frio e SDF

Está frio. Está mais frio desde a última vez que o disse aqui. Tenho andado aqui em conversa com o S. António, para lhe dizer que o S. Pedro este ano arrisca-se a apanhar-me de muito mau humor. Se alguém tiver aí um globo terrestre, importam-se de verificar se passámos para o hemisfério sul? É que o tempo está a arrefecer.

Este disco tem livros. Ou estes livros traziam três discos... nem sei bem.
A colecção "Le Cri du Peuple", de Tardi, faz a adaptação do romance homónimo de Jean Vautrin, e conta em BD a história da Revolução Francesa e da Comuna de Paris.

No último volume que comprei, vinha um desconto para a compra de um CD duplo de Serge Utgé-Royo, "Contrechamps... de ma mémoire", com música de combate e resistência do mundo inteiro. Nestes, incluem-se do Zeca: "Cantar Alentejano" e "Grândola, Vila Morena", cantadas com uma muito boa dicção.
Mas a canção de hoje vem num outro CD promocional, do mesmo cantor, e que se chama "Serge Utgé-Royo en public...". A canção, essa, chama-se "Des hivers qui durent douze mois" - "Invernos que duram doze meses" - e fala dos SDF (Sans Domicile Fixe), a maneira afrancesada e politicamente correcta(?) de se referir a quem dorme/morre na rua, de frio.

É que em Paris, no meio dos desfiles de moda, dos restaurantes que nem têm tabuleta porque são fechados e exclusivos aos super-VIPs, há todos os invernos um sem-número de gente que morre nas noites de frio. Morre-se de frio, por falta de um tecto ou um cobertor. Não se morre de fome, porque os caixotes do lixo parisienses têm sempre algo com que sobreviver. Morre-se de doença e overdose (como em Lisboa, Madrid, Porto, etc.). Mas além disso, morre-se de frio, numa noite, em 5 horas pode entrar-se em hipotermia e morrer.

Este ano em Paris o frio continua. E eu tenho frio, queixo-me de ter que continuar com as mesmas horríveis (só porque já não as posso ver) camisolas de lã, só de pensar que é Junho ainda custa mais; mas tenho a minha casa e as tais camisolas, mantas de lã e um aquecimento suplementar. Há quem esteja na rua. Tal como o meu aquecimento central foi desligado, os centros de acolhimento de inverno e as horas suplementares do Metro acabaram em Abril. Agora está frio, e para muitas pessoas não há mesmo para onde ir. As temperaturas também não estão a níveis mortais, certo, mas está aquela mistura de frio, vento e chuva.

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