Em termos relativamente breves, a questão é a seguinte: em 1988 a Thomson (francesa) quis vender 6 fragatas a Taiwan. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da época, Roland Dumas, preferiu manter as boas relações com o aliado Chinês, e não permitiu o negócio. Começa então uma gigantesca onda de pressões e pagamentos entre diversos grupos económicos e governantes (franceses e chineses) envolvidos. Em 1991 o negócio é finalmente concluído, e a existência da corrupção é conhecida pouco depois.
Em 2004, 13 anos depois, um anónimo entrega uma lista de nomes ao juíz encarregue do caso. Os pagamentos teriam sido depositados no Luxemburgo, numa sociedade de reputação muito duvidosa, a Clearstream. Nesta altura era Primeiro-Ministro Raffarin (que agora é Senador e está em Espanha numas férias fora de época, mas muito oportunas), Villepin estava nos Negócios Estrangeiros e Sarkozy estava nos Assuntos Internos. Sarkozy acusa então Villepin de ter escondido informações que o poderiam ilibar, o juíz faz saber que a lista resultava de manipulações. Começa então a caça ao anónimo.
Aparece agora o general Rondot, militar aparentemente fiável, que em diversas ocasiões esteve à frente das investigações mais sensíveis dos serviços secretos. Diz-se que Villepin lhe terá pedido uma investigação sobre Sarkozy, também há quem diga que a ordem terá vindo de Chirac. Villepin desmente, Chirac também. O agora Primeiro-Ministro Villepin diz-se vítima de um conluio mediático.
Que conclusões tirar de tudo isto?
1. O assunto data de 1988, estamos a descobri-lo 18 anos depois. O jovem Sarkozy teve entretanto tempo de chegar quase ao Eliseu, Chirac fez a sua presidência em descanso e está praticamente na reforma, e o então desconhecido Villepin é Primeiro-Ministro. Será que teremos que esperar até 2024 para saber o que estão a fazer hoje os nossos governantes?
2. Villepin tem nas sondagens uma taxa de aceitação ainda mais baixa do que durante as manifestações anti-CPE: 20%. A demissão seria a saída lógica num regime verdadeiramente democrático, mas a França tem antes um regime presidencial. O Presidente determina o governo, protege-o, nomeia-o, é ele o real Chefe de Governo, não o Primeiro-Ministro. Não há qualquer independência entre estes dois orgãos de soberania. A haver eleições antecipadas, seriam presidenciais e não legislativas. Dado que o Presidente não tem um orgão superior que o possa mandar embora e o Primeiro-Ministro é o seu protegido, aconteça o que acontecer, só há mudanças fora das eleições agendadas se o Eliseu vier abaixo. Já não sei se os franceses têm queda para as Revoluções, ou se têm antes queda para regimes para os quais não há outra saída...
3. O nazi Sarkozy, que nos últimos tempos se tem dedicado a ultrapassar Le Pen em bestialidade, é quem mais sobe nas sondagens para as presidenciais de 2007, e é também quem mais lucra com este papel de pobre vítima que lhe é atribuído no filme Clearstream. Vejamos, primeiro a reutilização da frase de Le Pen para efeitos de governação: "França: ama-a ou deixa-a". Parece que Sarkozy não se limitou a dizê-la tal e qual, desenvolveu-a. Segundo, a sua "lei da imigração escolhida", verdadeira tradução francesa da teoria nazi. E é este o Presidente que se adivinha para a França em 2007. E não é tudo: não está totalmente afastada a hipótese de Le Pen passar novamente à segunda volta.
Em 2004, 13 anos depois, um anónimo entrega uma lista de nomes ao juíz encarregue do caso. Os pagamentos teriam sido depositados no Luxemburgo, numa sociedade de reputação muito duvidosa, a Clearstream. Nesta altura era Primeiro-Ministro Raffarin (que agora é Senador e está em Espanha numas férias fora de época, mas muito oportunas), Villepin estava nos Negócios Estrangeiros e Sarkozy estava nos Assuntos Internos. Sarkozy acusa então Villepin de ter escondido informações que o poderiam ilibar, o juíz faz saber que a lista resultava de manipulações. Começa então a caça ao anónimo.
Aparece agora o general Rondot, militar aparentemente fiável, que em diversas ocasiões esteve à frente das investigações mais sensíveis dos serviços secretos. Diz-se que Villepin lhe terá pedido uma investigação sobre Sarkozy, também há quem diga que a ordem terá vindo de Chirac. Villepin desmente, Chirac também. O agora Primeiro-Ministro Villepin diz-se vítima de um conluio mediático.
Que conclusões tirar de tudo isto?
1. O assunto data de 1988, estamos a descobri-lo 18 anos depois. O jovem Sarkozy teve entretanto tempo de chegar quase ao Eliseu, Chirac fez a sua presidência em descanso e está praticamente na reforma, e o então desconhecido Villepin é Primeiro-Ministro. Será que teremos que esperar até 2024 para saber o que estão a fazer hoje os nossos governantes?
2. Villepin tem nas sondagens uma taxa de aceitação ainda mais baixa do que durante as manifestações anti-CPE: 20%. A demissão seria a saída lógica num regime verdadeiramente democrático, mas a França tem antes um regime presidencial. O Presidente determina o governo, protege-o, nomeia-o, é ele o real Chefe de Governo, não o Primeiro-Ministro. Não há qualquer independência entre estes dois orgãos de soberania. A haver eleições antecipadas, seriam presidenciais e não legislativas. Dado que o Presidente não tem um orgão superior que o possa mandar embora e o Primeiro-Ministro é o seu protegido, aconteça o que acontecer, só há mudanças fora das eleições agendadas se o Eliseu vier abaixo. Já não sei se os franceses têm queda para as Revoluções, ou se têm antes queda para regimes para os quais não há outra saída...
3. O nazi Sarkozy, que nos últimos tempos se tem dedicado a ultrapassar Le Pen em bestialidade, é quem mais sobe nas sondagens para as presidenciais de 2007, e é também quem mais lucra com este papel de pobre vítima que lhe é atribuído no filme Clearstream. Vejamos, primeiro a reutilização da frase de Le Pen para efeitos de governação: "França: ama-a ou deixa-a". Parece que Sarkozy não se limitou a dizê-la tal e qual, desenvolveu-a. Segundo, a sua "lei da imigração escolhida", verdadeira tradução francesa da teoria nazi. E é este o Presidente que se adivinha para a França em 2007. E não é tudo: não está totalmente afastada a hipótese de Le Pen passar novamente à segunda volta.
Liberdade para os manifestantes presos!
Porra, quando nasci em 75 não foi para andar a dizer esta frase! Pensei que esta ... tinha acabado!
Sem comentários:
Enviar um comentário