15 fevereiro 2006

Eça e as ruas de Lisboa, com o Tejo ao fundo

A Tragédia da Rua das Flores
Eça de Queiroz

Hoje tinha que ser, não podia passar mais tempo: o eterno Eça, e Lisboa.

Ora, acontece que eu tinha lido a Tragédia há pouco tempo, quando entrei na ESML. A Rua das Flores passou a ser local de passagem diário. E que rua! O movimento fica ao lado, na Rua do Alecrim (estes nomes de ruas, não são lindíssimos?). Ainda hoje me delicio a descer a Rua das Flores ao fim da tarde. Junto ao Camões vê-se apenas o casario, as varandas desalinhadas na descida, algumas (poucas, é pena) flores a enfeitar os gradeamentos, os candeeiros.
Depois, numa ligeira curva, o Tejo vai aparecendo ao fundo, lá em baixo.

Todos os dias, quando lá passava quotidianamente, eu olhava para as varandas a ver se adivinhava, mas todas as outras ruas do bairro mudaram de nome entretanto, e era impossível localizar a casa propriamente dita.

Voltei ao livro. E voltei a gostar, voltei a ver toda a história desenrolar-se e a mesma Lisboa. O amor que ele tinha pela cidade e o carinho com que a descreve são maravilhosos. E a ironia na descrição dos figurões que já na altura se passeavam no Chiado!

Bom, mas eu continuava sem saber qual era o prédio, até que consultei o Dicionário de Eça de Queiroz, da Caminho. A casa da Genoveva é uma das quatro que ficam no cruzamento com a actual Rua do Ataíde. Tudo se passa naquela esquina.

Mas a história é inspirada num caso verdadeiro passado um pouco mais acima, num palacete do Largo Barão de Quintela, onde está a estátua do autor por entre as musas.

Voltar ao Eça, a este ou outro livro, é perceber como se vivia no Séc. XIX, e Lisboa amada, com o Tejo ao fundo...

7 comentários:

M.M. disse...

Obrigada pelo apontamento, desconhecia a casa.

Vanessa disse...

Gosto muito de Eça,obrigado.

Sofia Pinheiro disse...

Estou a ler o Mandarim, neste momento, por algum motivo nunca o tinha lido, e confirmo: Falar do Eça é mesmo inevitavel.

van disse...

Confesso que ainda não li este livro, mas gosto bastante de Eça e das suas descrições...

Camarelli disse...

Interessante essa coisa de visitar os espaços físicos (e alguns mundos humanos, apesar do tempo que passou) protagonistas nos livros. Já quando li os Maias também senti a curiosidade de conhecer as casas que ele descreve e que existem (existiam?) mesmo.

merdinhas disse...

É engraçado esse post e surpreende-me a escolha, embora te refiras à rua e tudo isso.. Eu li quase todos ou mesmo todos os seus livros e acho curioso que se escoha a tragédia da Rua das Flores em vez dos Maias. Sem pretensões literárias é como escolher entre uma obra em bruto e uma obra acabada. Do que li e aprendi o incesto materno da tragédia da R. das Flores foi transformado, nos Maias, em incesto de dois irmãos; o romance é diferente mas os Maias são um livro "melhor", de que gosto muito. No meu blog fiz um post já há bastante tempo sobre a estátua do Eça....a estátua de pedra e a de bronze pois a de pedra está em bocados e exibe um símbolo anarquista nas mamas-podes ver a foto das duas no post) (a de pedra estava no museu da cidade, penso que ainda lá está.). quem era a mulher etc. Se quiseres espreita.
Confesso que tenho vontade de explorar com atenção as semelhanças e as diferenças entre ambos.

Helena Romão disse...

merdinhas, a escolha teve a ver com o facto de eu conhecer melhor a Tragédia. Só li os Maias uma vez (por enquanto), e a Tragédia, como disse, duas. Além disso, há uma ligação afectiva por causa da rua e de ter lá passado quase diariamente durante 5 anos.

Não é só uma questão literária, nem eu tenho conhecimentos para fazer uma avaliação crítica. Sou "só" leitora, não sei mais de literatura do que ler e apreciar. E os Maias seria a escolha óbvia... já deve haver dezenas de posts sobre os Maias...