Nós
Ivgueniv Ziamiatine
Edições Antígona, 2004
Aqui há umas quarta feiras passadas descobri no blogue do piano da floresta uma distopia anterior a 1984 do Orwell que não conhecia, a Casa dos Mil Andares de J. Weiss, por causa dela lembrei-me deste livro que antecede nalguns anos um tipo de obra que teve no século passado uma pujança invulgar, talvez porque o século tenha sido rico não só a imaginar como a precipitar a aplicação de modelos de sociedade que muitos acreditaram poder ser perfeita. Deste Nos até ao Fahreinheit 454 muitos autores calcularam que isto das perfeições podia trazer problemas. Anteciparam-nos em ficção criando assim uma espécie de prognóstico a evitar a todo o custo. Estas visões continuam hoje todas válidas, tanto quanto hoje também vivemos em modelos de sociedade com as suas cartilhas e modelos económicos feitos manifestos. Mantêm-se actuais porquanto nos depertam para os sinais poucas vezes evidentes do(s) totalitarismo(s).
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Menos divulgada do que «Admirável Mundo Novo» e «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro», esta “contra-utopia” – como lhe chama o tradutor – terá no entanto inspirado Huxley e Orwell. O romance do russo Zamiatine (1884-1937) foi publicado primeiro numa tradução inglesa em 1924, em Nova Iorque, e só depois da “perestroika” saiu na Rússia. É uma parábola irónica e trágica que decorre no ano 3000 num “Estado Único” que decide sujeitar «ao benéfico jugo da razão todos os (…) que porventura vivam ainda no estado selvagem de liberdade».
in «Mil Folhas» (Público) em 11/12/2004, em 16-12-2004
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«Nós» – escrito em 1920 – a primeira grande distopia visionária do século passado – que inspirou as ficções congéneres de Huxley, Orwell e Bradbury – que tem como cenário uma civilização futura matematicamente perfeita, em que a felicidade é induzida e em que tudo é transparente, desde as habitações aos pensamentos e às emoções – ali não se pode pensar ou amar sem autorização. Enfim, uma sociedade “ideal” em que o livre arbítrio, a liberdade e a imaginação se tornaram prescindíveis. Crítico óbvio do regime soviético em construção e de todos os totalitarismos – o «Nós» é disso uma metáfora – exilou-se em Paris em 1931, onde morreu sete anos depois.
Vítor Quelhas in revista «Actual» (Expresso) em 30/10/2004, em 15-11-2004
Ivgueniv Ziamiatine
Edições Antígona, 2004
Aqui há umas quarta feiras passadas descobri no blogue do piano da floresta uma distopia anterior a 1984 do Orwell que não conhecia, a Casa dos Mil Andares de J. Weiss, por causa dela lembrei-me deste livro que antecede nalguns anos um tipo de obra que teve no século passado uma pujança invulgar, talvez porque o século tenha sido rico não só a imaginar como a precipitar a aplicação de modelos de sociedade que muitos acreditaram poder ser perfeita. Deste Nos até ao Fahreinheit 454 muitos autores calcularam que isto das perfeições podia trazer problemas. Anteciparam-nos em ficção criando assim uma espécie de prognóstico a evitar a todo o custo. Estas visões continuam hoje todas válidas, tanto quanto hoje também vivemos em modelos de sociedade com as suas cartilhas e modelos económicos feitos manifestos. Mantêm-se actuais porquanto nos depertam para os sinais poucas vezes evidentes do(s) totalitarismo(s).
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Menos divulgada do que «Admirável Mundo Novo» e «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro», esta “contra-utopia” – como lhe chama o tradutor – terá no entanto inspirado Huxley e Orwell. O romance do russo Zamiatine (1884-1937) foi publicado primeiro numa tradução inglesa em 1924, em Nova Iorque, e só depois da “perestroika” saiu na Rússia. É uma parábola irónica e trágica que decorre no ano 3000 num “Estado Único” que decide sujeitar «ao benéfico jugo da razão todos os (…) que porventura vivam ainda no estado selvagem de liberdade».
in «Mil Folhas» (Público) em 11/12/2004, em 16-12-2004
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«Nós» – escrito em 1920 – a primeira grande distopia visionária do século passado – que inspirou as ficções congéneres de Huxley, Orwell e Bradbury – que tem como cenário uma civilização futura matematicamente perfeita, em que a felicidade é induzida e em que tudo é transparente, desde as habitações aos pensamentos e às emoções – ali não se pode pensar ou amar sem autorização. Enfim, uma sociedade “ideal” em que o livre arbítrio, a liberdade e a imaginação se tornaram prescindíveis. Crítico óbvio do regime soviético em construção e de todos os totalitarismos – o «Nós» é disso uma metáfora – exilou-se em Paris em 1931, onde morreu sete anos depois.
Vítor Quelhas in revista «Actual» (Expresso) em 30/10/2004, em 15-11-2004
1 comentário:
Parece muito interessante, e muito actual! Aposto que o presidente deste tal país único se chamaria Jorge Guilherme Ramo ou uma tradução disso...
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