25 fevereiro 2006

Não apaguem a memória... nem a democracia!

Segue o texto da conferência de imprensa do Movimento Não Apaguem a Memória! na sequência de um processo instaurado a dois dos seus membros, por terem participado numa manifestação.

Sim, leram bem: por terem participado numa manifestação onde houve um corte de estrada de um minuto certo. Um minuto contadinho. Eu estava lá e vi. Aliás, eu e muitas dezenas de pessoas, das quais duas foram escolhidas para ser processadas.

Claro que um maduro que estaciona o carro em segunda ou terceira fila e corta o trânsito e os transportes públicos durante horas é um chico-esperto que soube safar-se. Quanto muito é elogiado, e quantas vezes copiado pela própria polícia!
Um manifestante é perseguido e julgado.


Conferência de Imprensa – 24/02/2006
(na Sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa)


EM DEFESA DA MEMÓRIA,
SOMOS TODOS ARGUIDOS !


Participantes em representação do Movimento Cívico:

Martins Guerreiro
Duran Clemente
João Almeida
Henrique Sousa



Dois membros do Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória!”, Coronel Duran Clemente e João Almeida, foram convocados pela PSP nos dias 20 e 21 de Fevereiro e constituídos arguidos a propósito duma concentração cívica junto às antigas instalações da sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em que estiveram presentes, no passado dia 5 de Outubro, tal como muitos outros cidadãos amantes da liberdade e preocupados com a preservação da nossa memória colectiva.

Este facto, causador de natural estupefacção e indignação, suscita a este Movimento Cívico o seguinte esclarecimento e tomada de posição:

- A concentração informal de cidadãos realizada em 5 de Outubro, para protestar contra a conversão das antigas instalações da PIDE/DGS, sinistra instituição do fascismo responsável pela prisão, tortura e mesmo assassinato de milhares de portugueses, em condomínio residencial fechado, revestiu-se de um carácter sereno, pacífico e em nada perturbador da ordem pública, como todos os presentes puderam testemunhar, incluindo os representantes da Comunicação Social que lá se deslocaram.

- A pretensão de autoridades policiais de converterem em crime uma legítima acção colectiva de cidadãos, que tranquila e serenamente exprimiram o seu ponto de vista, no uso das liberdades consagradas na Constituição, e de assim desperdiçarem recursos, tempo e meios tão necessários para o efectivo combate ao crime e à corrupção, é uma incompreensível acção intimidatória que importa denunciar para que suscite um generalizado, firme e mais vasto movimento de repúdio na sociedade portuguesa.
A tentativa de reprimir um acto de cidadania é tanto mais intolerável quanto a nossa sociedade democrática o que precisa é de mais participação e de mais iniciativa dos cidadãos e não o contrário!

- Aos nossos companheiros vítimas desta perseguição arbitrária, injustificada e sem fundamento, afirmamos publicamente a solidariedade activa de todos os membros do Movimento Cívico e a exigência de que seja posto termo a esta ridícula e injustificada perseguição policial.
E, com toda a clareza, afirmamos: fomos muitos, membros ou não deste Movimento Cívico depois constituído, os que estivemos na concentração informal de 5 de Outubro. Todos somos responsáveis por um acto de liberdade que deveria ser, não perseguido nem criminalizado, mas valorizado como um pacífico exercício de cidadania responsável!

O Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória!”, foi constituído em reunião plenária na Biblioteca-Museu da República e Resistência, prestigiada instituição devotada à investigação histórica e divulgação de valores democráticos, a partir de cidadãos que estiveram presentes na concentração de 5 de Outubro e que entenderam que era necessário prosseguir, de modo organizado e continuado, o esforço de mobilização cívica para a preservação da memória colectiva sobre a ditadura do chamado “Estado Novo” e sobre os combates pela liberdade travados nesse período por muitos portugueses.

Tem vindo a colher a adesão e o apoio de portugueses dos mais diversos quadrantes sociais e políticos, de prestigiados resistentes antifascistas, de sindicalistas, de historiadores, de escritores, de organizações sociais relevantes, como a prestigiada Associação 25 de Abril (cujas instalações nos foram cedidas para esta iniciativa e que tem sido incansável no seu continuado apoio), a Fundação Humberto Delgado, a FENPROF, o SPGL, o STML, a ATTAC, a Associação República e Laicidade, etc.

Este Movimento Cívico está a realizar contactos com diversas entidades públicas e organizações sociais, no sentido de dar corpo aos objectivos que orientaram a sua constituição e que estão expressos no abaixo-assinado sujeito à subscrição pública, o qual num curto espaço de tempo reuniu já mais de 1 500 assinaturas.

Queremos aqui destacar o frutuoso e positivo diálogo institucional estabelecido com o Ministério da Justiça e com representantes da magistratura judicial do Tribunal da Boa Hora, que conduziu já à autorização superior para ali ser instalada uma placa memorial que recorde o que foi o tristemente célebre Tribunal Plenário da ditadura. O diálogo agora estabelecido com a Câmara Municipal de Lisboa para que seja possível, pela cooperação de esforços e pelo diálogo com o promotor imobiliário, encontrar uma solução que preserve no local a memória e a lição, para as futuras gerações, do que foi a sinistra PIDE/DGS e de quem ali resistiu. Os contactos com deputados (vários dos quais, de diversos grupos políticos, subscritores do abaixo-assinado) e grupos parlamentares para a sensibilização da Assembleia da República no sentido de assumir também o seu indispensável papel na responsabilização do Estado pela salvaguarda, investigação e divulgação da memória do fascismo e da resistência, designadamente no que respeita aos seus espaços simbólicos mais importantes que sejam de carácter público. Os contactos em curso com a Câmara Municipal de Peniche e a preparação duma grande deslocação colectiva ao Forte de Peniche, no sentido de contribuir para a necessária mobilização e convergência de todas as boas vontades no sentido de serem assegurados os necessários apoios públicos à necessária e qualificada preservação daquele espaço, cuja história é inseparável da memória da repressão das liberdades, mas também de alguns dos momentos mais significativos da resistência.

Tudo isto, todo o activismo deste Movimento, queremos sublinhá-lo, assenta no voluntariado e na solidariedade e estímulo de organizações sociais e instituições que têm compreendido e valorizado a nobreza e interesse social e cívico dos seus propósitos.

Assim vamos continuar, não desistindo de combater para que espaços simbólicos como o Aljube, o Forte de Caxias, o Forte de Peniche, as instalações fundamentais da antiga PIDE/DGS, contenham espaços, elementos memoriais e históricos que preservem o significado e as lições dum período decisivo da História do século XX português.

Porque sem preservação da memória, não é possível construir um melhor futuro!


http://maismemoria.org/

24 fevereiro 2006

Para a menina de oiro:

Quando não conseguires dormir, a mamã ou o papá podem pôr-te esta música. É aquela de que tu gostas e com que adormeces mais calma.
Boa noite, e sonhos de todas as cores do arco-íris!

23 fevereiro 2006

As palavras do Zeca

Estas palavras foram repetidas em vários blogs ao longo do dia, mas não é demais repeti-las.
Além disso, o meu contacto consciente com a música do Zeca Afonso começou só na adolescência, já depois da morte dele. Em pequena lembro-me de cantarolar o "Vejam Bem", sem saber o que queria dizer, sem lhe conhecer a importância. Eu sou da geração do PREC, "do nunca desmentido PREC, do assumido, sempre assumido PREC" (disse o Zeca, quando apresentava o Fausto no concerto do Coliseu). Por isso não tenho testemunhos de concertos. Só da lenta descoberta da sua música ao longo da adolescência, até se tornar uma referência essencial, provavelmente igual à de muita gente da minha geração. Daí a importância que também tem para mim a canção "Os filhos da madrugada".


Por estas razões, a homenagem que posso prestar-lhe é relembrar as suas palavras, copiadas da página da Associação José Afonso, e tentar pouco a pouco viver à altura dessa luta pela utopia:

"Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os alibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta."


"Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for."

Utopia

Que bela maneira de inaugurar a música cá no blog, não é?

A 29 de Janeiro de 1983 no Coliseu dos Recreios em Lisboa, o Zeca Afonso deu o seu último concerto. Ao apresentar a Utopia, disse:

"Esta canção chama-se Utopia, e é um pouco aquilo que eu imaginei que pudesse ser uma sociedade sem, como se costuma dizer, sem oprimidos nem opressores, não é? Mas eu creio que efectivamente essa Utopia pode efectivamente concretizar-se."

Eu também penso assim, e por isso escolhi esta canção hoje.


Nota: haverá música mais vezes aqui no Assédio. Hoje fica no automático, podem desligar se quiserem. Nas próximas vezes será ao contrário: quem quiser ouvir carrega no play.

Zeca Afonso

Faz hoje 19 anos que perdemos o Zeca Afonso.
Há pessoas assim, que, sem serem da nossa família ou de um círculo de amigos muito próximos, continuam a fazer-nos falta todos os dias. Pela esperança que nos transmitia, e pelas análises muito frontais da realidade, pela coragem.

zeca.jpg

E como disseram tempos depois alguns dos amigos dele:
"Nunca mais te hás-de calar, ó Zeca, para nós."

E para nós também não.
Obrigada.

22 fevereiro 2006

Quarto livro à Quarta

Nós
Ivgueniv Ziamiatine
Edições Antígona, 2004



Aqui há umas quarta feiras passadas descobri no blogue do piano da floresta uma distopia anterior a 1984 do Orwell que não conhecia, a Casa dos Mil Andares de J. Weiss, por causa dela lembrei-me deste livro que antecede nalguns anos um tipo de obra que teve no século passado uma pujança invulgar, talvez porque o século tenha sido rico não só a imaginar como a precipitar a aplicação de modelos de sociedade que muitos acreditaram poder ser perfeita. Deste Nos até ao Fahreinheit 454 muitos autores calcularam que isto das perfeições podia trazer problemas. Anteciparam-nos em ficção criando assim uma espécie de prognóstico a evitar a todo o custo. Estas visões continuam hoje todas válidas, tanto quanto hoje também vivemos em modelos de sociedade com as suas cartilhas e modelos económicos feitos manifestos. Mantêm-se actuais porquanto nos depertam para os sinais poucas vezes evidentes do(s) totalitarismo(s).

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Menos divulgada do que «Admirável Mundo Novo» e «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro», esta “contra-utopia” – como lhe chama o tradutor – terá no entanto inspirado Huxley e Orwell. O romance do russo Zamiatine (1884-1937) foi publicado primeiro numa tradução inglesa em 1924, em Nova Iorque, e só depois da “perestroika” saiu na Rússia. É uma parábola irónica e trágica que decorre no ano 3000 num “Estado Único” que decide sujeitar «ao benéfico jugo da razão todos os (…) que porventura vivam ainda no estado selvagem de liberdade».
in «Mil Folhas» (Público) em 11/12/2004, em 16-12-2004

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«Nós» – escrito em 1920 – a primeira grande distopia visionária do século passado – que inspirou as ficções congéneres de Huxley, Orwell e Bradbury – que tem como cenário uma civilização futura matematicamente perfeita, em que a felicidade é induzida e em que tudo é transparente, desde as habitações aos pensamentos e às emoções – ali não se pode pensar ou amar sem autorização. Enfim, uma sociedade “ideal” em que o livre arbítrio, a liberdade e a imaginação se tornaram prescindíveis. Crítico óbvio do regime soviético em construção e de todos os totalitarismos – o «Nós» é disso uma metáfora – exilou-se em Paris em 1931, onde morreu sete anos depois.
Vítor Quelhas in revista «Actual» (Expresso) em 30/10/2004, em 15-11-2004

Um dia com o Zeca - é já amanhã!

zeca.jpg

Esta é uma ideia da Isabel, para celebrar a vida e a música do Zeca Afonso no dia em que passam 19 anos da sua morte, e agradecer-lhe tudo o que nos ensinou.

E também a partir de amanhã, teremos música no Assédio! Um grande obrigado à Isabel e ao Farpas, que nos deram os códigos para a música de amanhã, e a partir dos quais eu finalmente percebi como isto se faz! Vejam bem a foto de hoje... já foi cá posta por esse processo!

20 fevereiro 2006

Uma exposição num dia qualquer



Helena Almeida, Intus, 2005
A obra que representou o país na Bienal de Veneza.
Em exibição no CAM da Gulbenkian.

Esta radicalização da experiência-do-corpo-enquanto-experiência-do-mundo-enquanto-experiência-da-arte fá-la atravessar todos os domínios plásticos que podem representar um corpo. Não é pintora, não é fotógrafa, não é escultora, não é performer, não é videoasta. E no entanto é tudo isso, ora simultaneamente, ora alternadamente (...)

Paulo Cunha e Silva, Director do Instituto das Artes

18 fevereiro 2006

Que dizer...?

...de um país onde um vereador que recusa ser corrupto é notícia de primeira página?

Descubra as diferenças




E agora, será que alguém ainda consegue chamar socialistas a estes senhores?
Depois das privatizações em massa, da permissão da concentração das telecomunicações, favorecendo o monopólio e mais despedimentos, vem agora o aniquilamento da Constituição.

Foi há pouco mais de dez anos que fizeram o mesmo na educação. Apesar de "tendencialmente gratuita" na Constituição, o sr. "Presidente recauchetado de Primeiro-Ministro" aumentou as propinas com a desculpa da actualização da moeda. Os estudantes revoltaram-se, e ouviram tudo: que deviam era trabalhar, que queriam era ter dinheiro para sair à noite, que vida de estudante é não fazer nada e ainda queriam ensino gratuito, que cortassem na cerveja e nos arraiais, que eram uns exagerados, que as propinas estavam mais do que correctas. Agora é a mesmíssima coisa, mas para todos, na saúde.
Pensando bem, talvez o governo tenha razão... se as pessoas são favoráveis a esta medida quando se trata de educação, só podem gritar "vivas" quando se trata da saúde.


Há menos pancadaria nas manifestações e dão desculpas diferentes para fazer o mesmo que o PSD defende em relação ao aborto e ao casamento de homossexuais. À parte isso, não vejo absolutamente diferença nenhuma entre este PS e o PSD. E bem que procuro... mas nada, nadinha!

17 fevereiro 2006

Canções populares e uma sinfonia

Luciano Berio
Formazioni, Folk Songs, Sinfonia
pelo Electric Phoenix, Jard van Nes e a Royal Concertgebouw Orchestra, dirigida por Riccardo Chailly


Luciano Berio é um dos meus compositores favoritos, e a Sinfonia é sem dúvida uma das grandes obras do século passado. Ainda me lembro de ver Michael Zilm dirigir esta obra. Estivemos mais ou menos a segurar-nos uns aos outros para não desatarmos a valsar em pleno auditório Gulbenkian! E daí, talvez tivesse tido piada ver as caras incrédulas das senhoras dos visons, que já de si não costumavam estar nada concertadas durantre os encontros de música contemporânea...

Ah, a Gulbenkian da cultura, antes dos gestores e das poupanças... Até havia encontros de música contemporânea, jornadas de música antiga e imagine-se: uma companhia de bailado conhecida mundialmente!


E as Folk Songs são uma pequena maravilha, uma espécie de bonbom. Uma visita da música de Berio às canções tradicionais do mundo inteiro. Também vi ao vivo, no anfiteatro da ópera de Lyon, pelo soprano Luisa Castellani. Só apetece cantar!

15 fevereiro 2006

Eça e as ruas de Lisboa, com o Tejo ao fundo

A Tragédia da Rua das Flores
Eça de Queiroz

Hoje tinha que ser, não podia passar mais tempo: o eterno Eça, e Lisboa.

Ora, acontece que eu tinha lido a Tragédia há pouco tempo, quando entrei na ESML. A Rua das Flores passou a ser local de passagem diário. E que rua! O movimento fica ao lado, na Rua do Alecrim (estes nomes de ruas, não são lindíssimos?). Ainda hoje me delicio a descer a Rua das Flores ao fim da tarde. Junto ao Camões vê-se apenas o casario, as varandas desalinhadas na descida, algumas (poucas, é pena) flores a enfeitar os gradeamentos, os candeeiros.
Depois, numa ligeira curva, o Tejo vai aparecendo ao fundo, lá em baixo.

Todos os dias, quando lá passava quotidianamente, eu olhava para as varandas a ver se adivinhava, mas todas as outras ruas do bairro mudaram de nome entretanto, e era impossível localizar a casa propriamente dita.

Voltei ao livro. E voltei a gostar, voltei a ver toda a história desenrolar-se e a mesma Lisboa. O amor que ele tinha pela cidade e o carinho com que a descreve são maravilhosos. E a ironia na descrição dos figurões que já na altura se passeavam no Chiado!

Bom, mas eu continuava sem saber qual era o prédio, até que consultei o Dicionário de Eça de Queiroz, da Caminho. A casa da Genoveva é uma das quatro que ficam no cruzamento com a actual Rua do Ataíde. Tudo se passa naquela esquina.

Mas a história é inspirada num caso verdadeiro passado um pouco mais acima, num palacete do Largo Barão de Quintela, onde está a estátua do autor por entre as musas.

Voltar ao Eça, a este ou outro livro, é perceber como se vivia no Séc. XIX, e Lisboa amada, com o Tejo ao fundo...

14 fevereiro 2006

Especial S. Valentim



Diz o Público que na India houve uma manifestação contra a celebração do S. Valentim. Não é tradição local, não tem nada que ser festejado.
Junto-me a eles. É cópia de uma festa dos EUA e é só um negócio.

Por este andar ainda vamos ter os criadores de perú a promover o Thanksgiving!

Porto uma bela ideia


Fiz este teste e deu 100% de alma tripeira. Aconselho, principalmente em tempos de choques de civilizações.

Época de saldos em Belém-S. Bento

Toma lá 30000 votos, dá cá 400 milhões de euros.

Durante um ano enfiaram na cabeça dos mais incautos que o país estava sem Segurança Social, que não ía haver reformas, espalharam o pânico pelos portugueses. É sabido que esses climas de pânico económico favorecem a direita (que é coisa que ainda não entendi, mas adiante).

De repente, o mesmo ministro que lançou esta mais recente investida quando declarou na RTP - no Prós e Contras - que não havia dinheiro para as pensões (muito a jeito, aliás, em termos de campanha eleitoral), descobre 400 milhões de euros! Um pequeno erro de contas, nada de especial... qualquer pessoa se engana nalguns tostões. Quem é que passa de um saldo negativo de 100 milhões para um positivo de 300? E ninguém lá no ministério tinha ainda dado por isso? Um pequeno erro de 400 milhões!????

Um pequeno erro que tinha dado tanto jeito descobrir para dar a vitória ao Soares ou ao Manuel Alegre, e que só é descoberto estrategicamente depois de assegurada a direita em Belém... Com amigos como o Sócrates, o Mário Soares não precisa de inimigos!

Também vem muito a calhar ter sido descoberto depois de resolvidos os aumentos para este ano... Aliás, é sempre bom saber que cumprem as metas da UE com "poupanças" nas pensões de quem já trabalhou.

Eu sempre gostava de perceber porque é o Sr. Sócrates e companhia se increveram no PS em vez do partido cujas políticas defendem e fazem. Se calhar quando lá foram inscrever-se eles tinham numerus clausus...


Quem se lixa no meio disto tudo, como sempre, é o mexilhão. Como já votaram, têm mesmo que aturar o Cavaco a representar os portugueses mundo fora durante 5 anos! E ainda apanham com o governo Sócrates cá dentro!
Isto algum dia ainda dá laranjada...



E agora, sr. ministro, já pode aumentar as pensões miseráveis dos trabalhadores, ou tem algum administrador da CGD ou RTP à espera da reforma?
Mas, olhe, sr. ministro, sobretudo não se apoquente. Os pobres assim como assim já estão habituados a passar fome, e o que é importante é cumprir as regras da UE. O melhor é continuar a poupar nas reformas. As continhas no papel antes de tudo o resto, já dizia a outra senhora. Lá para o verão há Mundial e há sempre fado no Politeama. E hoje até faz um ano que morreu a Irmã Lúcia, que parece que vai para santa. Não se apoquente, sr. ministro, que o pessoal continua contente a cantarolar. A maior parte nem lê os jornais que falam destes pequenos erros...
Tome é bem conta dos numerozinhos e da patroa UE, e, pelo sim pelo não, vá tendo cuidado com as cadeiras.

10 fevereiro 2006

A Madeira e os "jardins"

Que mais será preciso para porem estes tipos todos na linha? Afinal isto é um país com direitos, será que a Constituição caiu e ninguém nos avisou? Ainda temos PR, ainda é o Sampaio? Ou o Jardim é que é o PR e o continente uma região sub-autónoma?

Que mal fizeram os madeirenses para serem ignorados pelo poder nacional (hierarquicamente superior ao regional) e deixados à mercê da ausência de legalidade e à arbitrariedade vigentes no regime ditatorial do Jardim?


Nota: espero sinceramente uma reacção urgente do PR e que este post fique desactualizado ainda hoje.

Não há tolerância para o intolerável.

09 fevereiro 2006

Volevo commentare…

La tigre e la neve
O tigre e a neve


…ma non riesco. Sono troppo innamorata di questo film. Roberto Benigni ci fa trovare una tigre sulla neve proprio in Roma!

08 fevereiro 2006

Terceiro Livro à Quarta


Palestina - Na Faixa de Gaza e Palestina: Uma Nação Ocupada


Joe Sacco, um quase norte-americano, quis um dia entender o que era o conflito isarel-árabe, e quis entendê-lo visitando Israel e a Palestina e prolongando a sua estadia. Quis conhecer sem grandes mediações e tentando não levar consigo pré-juízos. O resultado foram estes dois livros. Numa linguagem de fácil apreensão, a banda-desenhada, podemos mergulhar na Faiza de Gaza atavés de um olho sem parcimónia e sem parcialidade. Os momentos são pesados. O autor crispa-se e endurece ao contar-nos sem nunca esquecer o que aí o tinha levado, sem demagogia, sem folclore nem exploração, que seria fácil, do sujeito desta história.
Joe Sacco é natural de Malta, mas vive em Nova Iorque, onde ganha a vida como quadrinista e jornalista. Sacco fez o bacharelato em Jornalismo na Universidade de Oregon, em 1981; no final de 1991 e início de 1992, passa dois meses em Israel e nos territórios ocupados, viajando e fazendo anotações. Quando finalmente regressa a Portland, em 1992, pretende divulgar o que tinha testemunhado e ouvido durante a sua aventura no Médio-Oriente, combinando as técnicas da reportagem in loco com a narrativa das histórias em quadrinhos, para explorar aquela pesada situação emocional. O resultado foi Palestina, Uma Nação Ocupada, publicado em Janeiro de 1993 nos Estados Unidos (publicado no Brasil em 2000, pela Conrad).Desde que foi publicado, Sacco tem sido elogiado pela profundidade da sua pesquisa, pela sensibilidade com que tratou um assunto tão delicado, e pela maestria exibida nos seus dinâmicos e sofisticados argumentos e narrativas ousadas. Palestina foi considerado Melhor Nova Série pelo Harvey Awards, recebeu um American Book Award e foi amplamente citado em publicações como The Utner Reader (“Sacco é um engenhoso contador de histórias”), e o Washington City Paper (“...um dos mais profundos e pungentes tratados sobre o Oriente Médio...”).

07 fevereiro 2006

À pied à l'école

Ora aqui está uma iniciativa muito gira! Aqui em Boulogne chama-se "à pied à l'école", em Genève é o "Pédibus"...

Dantes os pais escalonavam-se para levar as crianças de carro à escola. Cada dia uma família diferente enchia o carro com as crianças vizinhas e iam levá-los à escola. Ou então havia os autocarros escolares.

Esta iniciativa parte desse mesmo princípio, mas a pé. Há percursos marcados no chão, com origem nas mais diversas partes do bairro abrangidas pela escola primária. Os caminhos estão indicados com patinhas destas aves do desenho, há paragens também marcadas, e nas esquinas o percurso é indicado pelo desenho com uma seta. Os pais fazem um mapa de escalas, e cada dia um deles faz o percurso a pé com as crianças, parando como um autocarro nas paragens indicadas para apanhar os "passageiros".

02 fevereiro 2006

O violino de Cabo Verde...

...ou o princípio deste blog muito antes de haver blogs.


Travadinha
Le Violon du Cap Vert

Há alguns anos ouvíamos este disco do princípio ao fim vezes sem conta: para dançar, para falar, para beber, acompanhava-nos a toda a hora. E tínhamos um teatro todo só para nós! Qual discoteca, qual quê! Tínhamos luzes, bar (er... sim... pois... sempre se tirava qualquer coisita do bar), pista, cadeiras, jardim, um palácio, e só entravam os amigos. A única coisa que não havia era hora de fecho. Punhamos a tocar a música de que gostávamos, o que, como o grupo era relativamente grande, dava alguma luta. Mas o meu preferido era este.

Um brinde à adolescência e às boas amizades que ficam!



Nota da editora: esta rubrica fica apenas à minha responsabilidade. Assim, vai ser quinzenal, e fica à sexta. Não é para ser do contra, mas porque me é realmente mais fácil garantir a sua edição sem falhas.

01 fevereiro 2006

Casamento entre homossexuais

As reacções à tentativa do casamento das duas raparigas têm sido várias nos últimos dias:

BE - agir, apresentar um projecto de lei para modificar o Código Civil. É pena ser só agora, uma vez que eles estão na AR já há alguns anos, mas mais vale tarde que nunca. Além disso, mesmo tarde, continuam sozinhos.

PCP - apela à discussão do tema, quer debater. Não falam directamente em mudar a lei. No fundo, parece é que querem adiar o processo ou mesmo pará-lo.

PS - não acha importante. Manda dizer que a lei da descriminalização do aborto é mais urgente. Urgente, urgente, não foi até agora. Oportunidades e apoios para mudar a lei não lhes falta. Tudo o que vimos desta grande urgência foram adiamentos e desculpas esfarrapadas para a inacção. Ora, se nem pelo que dizem urgente começam... quando chegarão ao que não acham urgente?
Além disso, uma votação na AR despacha-se nalguns minutos. Quase todo o resto do processo se passa nos bastidores do hemiciclo. Numa tarde faziam as duas votações e ainda tinham tempo para muita outra coisa.

PSD - não está na agenda, ou de como se declara o cinismo numa conferência de imprensa.

CDS - pelo menos não é cínico como os dois anteriores, honra lhes seja feita. Só que de 1910 até hoje ainda não entenderam que a República é laica, e que o respeito pelos outros é o fundamento da sociedade.

João César das Neves - está para este pessoal todo como o Manelinho estava para o resto da turma, na BD da Mafalda: um dia a professora perguntou-lhe o que é que não estava a perceber; o Manelinho respondeu "de Outubro até hoje, nada." No último artigo no DN, o sr. César das Neves revela finalmente qual é o seu medo. É que desde o início deste debate (que se perde nos tempos) até hoje, ele não percebeu nada. Nem um niquinho, coitado. Não chegou ainda a perceber que ninguém o vai obrigar a tornar-se homossexual!
Verdade, verdadinha? Eu acho que ele só quer desconversar para bloquear o debate. À mistura, claro, com algum trauma por causa da história das moedas e do Sexta-feira 13 com o Crusoe lá sozinhos na ilha.


Bem pode espernear... Bom o importante, mais até que qualquer debate pontual, era a mudança de mentalidade, a educação para a igualdade e a liberdade, a cidadania de todos. Isso sim, era necessário. Aliás, esta é uma mudança que não altera nem obriga a nada a vida de quem tem opiniões diferentes. Nem sequer os obriga a mudar de opinião... A sua mudança não muda a vida de ninguém, a sua inalteração, sim.

Mude-se a lei, e é para ontem!

Olhe, era uma bica, se faz favor!

Aqui nesta terra, e por uma qualquer razão insondável, a maior parte dos cafés não serve café depois das 19h. Talvez sirvam no fim de uma refeição completa, mas a quem pedir apenas a bicazinha não. No entanto, posso ocupar a mesa e pedir outra coisa qualquer (água, sumos, cerveja, vinho...), só café é que não!

Alguém conhece as razões insondáveis dos cafés parisienses?

A Guidinha

A Guidinha é uma miúda que escreve como fala. Sem noção do que diz (as crónicas foram escritas em 69 e 70) e do perigo que isso representa, vai criticando com ingenuidade - e muita pontaria - a sociedade que a rodeia e os costumes da família, ou seja, das famílias portuguesas.

Na realidade são crónicas de Luís de Sttau Monteiro, publicadas em 69 e 70 no Diário de Lisboa, e que foram depois reunidas num livro intitulado "As redacções da Guidinha". As palavras postas assim na caneta de uma adolescente inconsciente e irreverente são uma forma muito engenhosa de fazer passar as críticas que o autor queria fazer.

Além do mais, são todas muito cómicas para o leitor! Para a Guidinha, talvez nem tanto... ela arranja sempre forma de sair com o "toutiço dorido".