Na tradução oficial, e para não variar, o título foi adulterado para "Ventos de Mudança". O original é "The wind that shakes the barley" - o vento que abana/ sacode a cevada.
Mas o essencial é que este filme de Ken Loach ganhou este ano a Palma de Ouro de Cannes, e foi muito bem ganho. Outros filmes, como o "Volver" de Pedro Almodôvar, teriam sido também justos vencedores.
Ken Loach conta-nos a história de dois irmãos na cisão que levou à guerra civil de 1922 na Irlanda, e fá-lo de um ponto de vista do interior da própria cisão, de dentro do próprio IRA. É um filme duro, difícil de ver, forte, parece mais longo do que é na realidade pelo desconforto em que nos põe. Faz o que deve fazer um filme destes: a informação básica já nós temos, já todos sabemos mais ou menos o que se passou/ passa na Irlanda. O filme pode eventualmente é clarificar-nos algumas datas ou alguns episódios que não conheçamos. Também sabemos que esta história de 1922 é igual ou muito parecida a outras que se passam hoje noutras partes do mundo. O que precisamos é de perceber como as coisas são na realidade.
No fundo, falta explicar a quem se pode sentar confortavelmente numa sala de cinema, como é ter aquela outra vida, de modo a que esta pessoa o entenda realmente. E isso, a assimilação verdadeira, só é possível com a inteligência emocional (que António Damásio explica). Assim (muito) resumido, só percebemos realmente quando entendemos com o coração.
É o que Ken Loach e um punhado de excelentes actores nos traz: a compreensão emocional do que é uma guerra fratricida, na Irlanda, em Jerusalém, Beirute, ou seja onde fôr...
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