Cena 1: Reunião do Conselho Directivo da FCSH da Universidade Nova de Lisboa em período não lectivo, Julho a pique. Adriano Duarte Rodrigues, presidente do Conselho Científico, apresenta uma proposta de aumento do valor total das propinas pagas pelos estudantes de licenciatura em cerca de 70 €, passando para 528,00 €. É necessário, segundo o distinto catedrático, dar à faculdade um símbolo de prestígio que a sociedade possa reconhecer, colocando a FCSH no seu lugar, entre as melhores faculdades do país, porque a propina mais baixa é um desprestígio para a instituição. A proposta passa com os votos contra do director da faculdade, da vogal representante dos docentes não doutorados e do André Pires, representante dos estudantes. Na altura talvez nem lhe tenha passado pela cabeça, mas Adriano Duarte Rodrigues assumiu-se assim como mercenário do saber. Vamos ver o que pensam os interessados nos seus serviços...
Cena 2: Domingo, 12 de Setembro de 2004. São conhecidos os resultados das colocações da 1.ª fase do concurso de acesso ao ensino superior. O curso do distinto catedrático ficou com 21 vagas a descoberto em 30. Três cursos de Línguas e Literaturas têm dois alunos em 50 possíveis (só se candidataram duas pessoas!!!). Em Sociologia, metade das vagas estão por preencher. Em Filosofia entram 7 para 40 vagas. Dito isto, é de admitir que o presidente do Conselho Científico aceite com lúcido fair-play que a sua área de estudos, tal como muitas outras, não é do interesse dos utentes dos serviços que esta faculdade vai prestando. E, como muita gente sabe mas cala, quanto menos estudantes tiver a faculdade, menos dinheiro receberá do Orçamento do Estado. Quanto menos do Orçamento do Estado, mais devem pagar os que já lá estão em propinas, taxas e emolumentos.
Cena 3: Eu, Deco, "o luso-português", ando à rasca para pagar a minha vidinha de todos os dias, cervejinha aqui, cafézinho ali, postas de lombo de longe a longe, bacalhau é um luxo, queres carne comes o bifinho de perú e franguinho antibiótico, que até te aleijas!! Não mudo de telemóvel, não compro roupa nova, ando de transporte público, tenho 27 anos e vivo em casa dos pais. Não fui de férias para lado nenhum. Agora tenho à perna 528 euricos de propinas para acabar o curso. Um amigo recém doutor faz história no atendimento telefónico a clientes enquanto vai engolindo sapos...porque a outra, com reconhecimento académico, não pode fazer, fica em 2500 € por 4 semestres e ninguém vive do ar. Eu não tenho trabalho, mas, se tivesse um como este, precisaria de 2 meses para pagar as propinas, sem direito a cafézinhos. Isto é, para ajudar a pagar o salário de, entre outros, o distinto catedrático, as contas da luz, água e telefones. Tal como estão as coisas, terei de pedir ao director da faculdade que me adie para não sei quando o prazo de pagamento da minha contribuição para os salários de Adriano Duarte Rodrigues. Felizmente, sei que o Prof. Jorge Crespo fará os possíveis para me "facilitar" a vida.
Epílogo
Ora bem.
Sabemos que as propinas vão direitinhas para salários, papel higiénico, água e luz. Agora que até a Associação de Estudantes da FCSH acha tudo isto normal, para mim as questões começam a ser, curtas e grossas, estas:
Por que é que eu hei-de pagar os salários de gente que me lixa a vida (para não usar outros verbos que me atravessam o espírito)?
Por que é que, sendo obrigado a pagar isto e tudo o resto para chegar ao fim do curso e ir atender telefones ou trabalhar numa caixa de supermercado, o carro do distinto catedrático fica imune no pisos subterrâneos da torre A?
O que é que me impede de lhe exigir a minha quota-parte de salário de reembolso, eu que nunca tive e nunca vou ter aulas com o distinto, já que ele se assumiu como mercenário do saber? Devo dizer que nunca lhe ouvi uma crítica às políticas seguidas pelos vários governos para o financiamento do ensino superior. Talvez andasse distraído.
E por que é que, sabendo que os seus serviços interessam a cada vez menos gente nesta faculdade, o professor não se vai simplesmente embora trabalhar para onde lhe apeteça, desde que me desampare os bolsos e a paciência? É que estou mesmo farto de me indignar,...de só me indignar. E estou farto que me julguem um imbecil.
CLARO QUE EU SEI QUE A MISSÃO DA UNIVERSIDADE É OUTRA, E ESTOU HÁ ANOS A LUTAR POR UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE. MAS UMA PESSOA CANSA-SE.
Cena 2: Domingo, 12 de Setembro de 2004. São conhecidos os resultados das colocações da 1.ª fase do concurso de acesso ao ensino superior. O curso do distinto catedrático ficou com 21 vagas a descoberto em 30. Três cursos de Línguas e Literaturas têm dois alunos em 50 possíveis (só se candidataram duas pessoas!!!). Em Sociologia, metade das vagas estão por preencher. Em Filosofia entram 7 para 40 vagas. Dito isto, é de admitir que o presidente do Conselho Científico aceite com lúcido fair-play que a sua área de estudos, tal como muitas outras, não é do interesse dos utentes dos serviços que esta faculdade vai prestando. E, como muita gente sabe mas cala, quanto menos estudantes tiver a faculdade, menos dinheiro receberá do Orçamento do Estado. Quanto menos do Orçamento do Estado, mais devem pagar os que já lá estão em propinas, taxas e emolumentos.
Cena 3: Eu, Deco, "o luso-português", ando à rasca para pagar a minha vidinha de todos os dias, cervejinha aqui, cafézinho ali, postas de lombo de longe a longe, bacalhau é um luxo, queres carne comes o bifinho de perú e franguinho antibiótico, que até te aleijas!! Não mudo de telemóvel, não compro roupa nova, ando de transporte público, tenho 27 anos e vivo em casa dos pais. Não fui de férias para lado nenhum. Agora tenho à perna 528 euricos de propinas para acabar o curso. Um amigo recém doutor faz história no atendimento telefónico a clientes enquanto vai engolindo sapos...porque a outra, com reconhecimento académico, não pode fazer, fica em 2500 € por 4 semestres e ninguém vive do ar. Eu não tenho trabalho, mas, se tivesse um como este, precisaria de 2 meses para pagar as propinas, sem direito a cafézinhos. Isto é, para ajudar a pagar o salário de, entre outros, o distinto catedrático, as contas da luz, água e telefones. Tal como estão as coisas, terei de pedir ao director da faculdade que me adie para não sei quando o prazo de pagamento da minha contribuição para os salários de Adriano Duarte Rodrigues. Felizmente, sei que o Prof. Jorge Crespo fará os possíveis para me "facilitar" a vida.
Epílogo
Ora bem.
Sabemos que as propinas vão direitinhas para salários, papel higiénico, água e luz. Agora que até a Associação de Estudantes da FCSH acha tudo isto normal, para mim as questões começam a ser, curtas e grossas, estas:
Por que é que eu hei-de pagar os salários de gente que me lixa a vida (para não usar outros verbos que me atravessam o espírito)?
Por que é que, sendo obrigado a pagar isto e tudo o resto para chegar ao fim do curso e ir atender telefones ou trabalhar numa caixa de supermercado, o carro do distinto catedrático fica imune no pisos subterrâneos da torre A?
O que é que me impede de lhe exigir a minha quota-parte de salário de reembolso, eu que nunca tive e nunca vou ter aulas com o distinto, já que ele se assumiu como mercenário do saber? Devo dizer que nunca lhe ouvi uma crítica às políticas seguidas pelos vários governos para o financiamento do ensino superior. Talvez andasse distraído.
E por que é que, sabendo que os seus serviços interessam a cada vez menos gente nesta faculdade, o professor não se vai simplesmente embora trabalhar para onde lhe apeteça, desde que me desampare os bolsos e a paciência? É que estou mesmo farto de me indignar,...de só me indignar. E estou farto que me julguem um imbecil.
CLARO QUE EU SEI QUE A MISSÃO DA UNIVERSIDADE É OUTRA, E ESTOU HÁ ANOS A LUTAR POR UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE. MAS UMA PESSOA CANSA-SE.
2 comentários:
Não compras roupa nova mas estás sempre cheio de estilo :) E o teu telemóvel parece funcionar bem. Vai lá trabalhar dois mesitos para pagar as propinas e não estrabucha!
força !
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