Ao contrário do restante ensino público, o ensino artístico tem quase exclusivamente professores contratados. Alguns têm os contratos renovados durante décadas, de tal modo que se tornam indispensáveis na casa. No Conservatório de Lisboa e na Escola Superior há muitos casos de grandes Mestres que continuam contratados sem fazer parte do quadro. Professores que ensinaram várias gerações de músicos e que se tornaram referências da vida musical: Mestres!
Chamo Mestre não no sentido de quem tem o diplomazinho de mestrado (desses até eu tenho um...), mas sim quando me refiro àquelas pessoas de rara sabedoria, com conhecimento profundo do que ensinam e uma vontade incessante e contagiante de procurar saber mais. Neste caso refiro-me ao Paulo Brandão.
Quando estas pessoas não estão no ensino público, ficam inacessíveis para a maior parte da população. Alguns dão aulas no privado, outros não dão aulas de todo. Ou seja, toda essa sabedoria fica sem transmissão para outros e para a população, para continuação, para desenvolvimento.
Na última quinta-feira, a um terço do ano-lectivo, o compositor Paulo Brandão e mais alguns colegas professores do Conservatório foram informados de que os contratos não seriam renovados. Os alunos chegaram para as aulas e foram informados de que aquelas disciplinas estavam suspensas até ser possível haver novo professor, não se sabe quando.
Choveram petições e assinaturas, telefonemas para o Ministério da Educação, visitas ao gabinete da Ministra, e nada. A dita senhora tranca-se no gabinete com o secretário de Estado e não recebem ninguém. Não há apelo nem reunião que adiente. Deram a ordem, a ordem está dada, não há mais nada a dizer; ou haverá, consoante a decisão agora entregue aos tribunais.
O processo de premeditadamente ir despedindo ou deixando desertar os melhores professores e mais competentes destas duas escolas vem de muito longe. Ficam os mais novos, alguns absolutamente fantásticos e que de certeza um dia atingirão esse patamar de Mestre, mas nessa altura serão também corridos, se a coisa não mudar.
Está mais que visto que esta ministra só consegue lidar com os seus professores através dos tribunais, como um casal em processo de divórcio litigioso. E nem com a quantidade de processos que tem perdido e as quantias que tem pago de indemnizações ela aprende.
2 comentários:
há motivos, mais ou menos aparentes, para o despedimento? Se estão lá há mui9tos anos e se vão substituir os professores. E os outros não têm direito a nome? E a mania irritante de desprezar os diplomas por parte de quem os tem. Faz lembrar os licenciados relativamente bem pagos a dizer que em Portugal faltam é profissões técnicas, porque é que tudo quer ser doutor e não sei o quê.. (QUANDO NÃO HÁ LICENCIADOS A MAIS)
J.
Não, a não ser uma suposta poupança fincanceira.
Não se vislumbra substituição, as turmas ficam mesmo sem professor nesta altura do ano. Não vejo sentido em substituir um professor competente apenas porque sim.
Não sei o nome de todos os outros, além do que o Paulo é deles o único que se insere na situação mais vasta que eu descrevi.
Não vejo como é que a falta de licenciados veio aqui parar.
Não há qualquer desprezo, a não ser talvez da parte de quem lança venenos impensados, eu limitei-me a pôr as coisas na sua importância relativa. De facto, gente com mestrados há aos milhares (atenção, ler: eu não disse a mais, disse simplesmente que são alguns milhares). Muitos são praticamente analfabetos.
Pessoas com sabedoria, cultura, interesse, curiosidade e capacidade de ensinar, independentemente dos diplomas, são raríssimas.
Continuo sem perceber como raio a falta de licenciados mais o não sei quê das profissões técnicas veio cá parar...
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