Mas há a teoria do mal menor. O PSD tem sempre um aliado natural, 
o
CDS. O PCP é um inimigo histórico e o PS nunca pode contar com o Bloco. 
Não é melhor para o Bloco conseguir um acordo de “serviços mínimos” com o PS do 
que deixar a direita no poder?
Acho que vale a pena lutar pelos “serviços mínimos”, por uma plataforma 
mínima, se essa plataforma for de esquerda. Primeiro, o PS não é para o Bloco o 
mesmo que é para o PCP. Há muitas diferenças e se alguém as quiser estudar basta 
ler os textos das duas moções de censura. Nós não procuramos encostar o Partido 
Socialista à direita, até porque, além do mais, não é necessário. O que nós 
pretendemos é desencostá-los. O nosso objectivo na moção de censura foi escrever 
um texto que permitisse que o PS votasse essa moção. A opção do PS foi outra, 
ponto final parágrafo. Esse capítulo está encerrado sem o voto do PS. Nós 
estamos na disposição de uma plataforma mínima. A nossa moção – ao contrário da 
moção B, que fala de uma forma vaga de uma ampla convergência de esquerda – diz 
o que são para nós os mínimos de esquerda. São quatro pontos apenas: primeiro, 
rasgar o Memorando. Segundo, devolver aquilo que os portugueses perderam em 
direitos, em salários, em pensões, em serviços públicos. Terceiro, uma reforma 
fiscal que tribute mais os rendimentos de capital e de propriedade que os 
rendimentos do trabalho. Quarto e último ponto: o controlo público do crédito 
bancário, que significa a nacionalização dos bancos que entretanto foram 
intervencionados.
O BCP e o BPI?
Os que foram. Por uma razão simples: sem controlo público do investimento não 
há economia. E esse é um dos nossos dramas. Esta é a nossa proposta e a partir 
daí estamos disponíveis para todas as conversas e todas as discussões. Agora, 
qual é o obstáculo? É que António José Seguro não diz isto. Diz que quem quer 
convergir com o PS tem de ter convergência sobre a União Europeia. Muito bem, 
nós também não queremos sair da União Europeia. Segundo, manutenção no euro. Nós 
também não pomos a questão de sair do euro. Terceiro, respeito pelo Memorando. E 
eu pergunto: é possível a esquerda entender-se, construir um governo, uma 
alternativa, com base no respeito pelo Memorando? Se os mínimos da esquerda são 
os máximos do Memorando... (...)
Quando dizem “vamos rasgar o Memorando da troika” parece que estão a dizer 
“não falamos mais com aqueles senhores”...
Nós somos membros da União Europeia, inevitavelmente temos de falar com a 
Comissão Europeia, com as instituições europeias, com o FMI, tudo isso. O 
problema é o que se discute. O problema da dívida hoje são os juros que nós 
pagamos. Quando dizemos “rasgue-se o Memorando” estamos a dizer que é preciso 
reestruturar a dívida, é preciso renegociar a dívida e os juros. O Banco Central 
Europeu empresta a 0,75% aos bancos comerciais. Nós pagamos uma média de 3,55%. 
Se nós conseguíssemos renegociar a taxa de juro poupávamos 4,8 mil milhões de 
euros. Quando falamos em rasgar o Memorando queremos dizer duas coisas: 
reestruturar a dívida e recuperar soberania económica, financeira e orçamental. 
Não estamos na disposição de aceitar que seja a Comissão Europeia a definir a 
rede das escolas públicas, os direitos de protecção social, o Serviço Nacional 
de Saúde, as empresas públicas que funcionam ou deixam de funcionar. Isto é 
soberania! O governo não é dono do Estado, não tem mandato para isso, nenhum 
partido nas eleições levantou essa questão. Depois há a Constituição. Os 
programas de governo dos partidos crescem a partir da Constituição.
Entrevista a João Semedo. “Bloco pode apoiar governo PS se socialistas cortarem com Memorando da troika”
Por Ana Sá Lopes, publicado em 3 Nov 2012, ionline.
 
 
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