Cá ou lá, deste lado ou do outro do Atlântico, o racismo é sempre o mesmo.
Do lado de cá:Não é uma coincidência que em poucos meses se tenham deixado arder três prédios onde viviam famílias maioritariamente negras. As causas estão, nalguns dos casos, por esclarecer inteiramente, mas uma é certa: não houve prevenção, os prédios não estavam em condições mínimas de habitabilidade (há muitos anos). E neles vivia gente muito pobre, sobretudo mulheres e crianças, a maior parte delas eram negras.
Os incêndios não eram previsíveis, mas o risco era sobejamente conhecido. Nada foi feito antes dos incêndios. Nada foi feito depois do primeiro incêndio em Abril. Nada foi feito após o segundo incêndio mais de três meses depois. Foram precisos três incêndios, todos com mortos, para o sr. Sarkozy perceber que tinha que fazer alguma coisa.
E é agora, com a aproximação do frio e da chuva, no dia do início das aulas, que o sr. Sarkozy resolve desalojar toda a gente e metê-los em bairros afastados dos empregos e das ecolas das crianças. Todos em situação provisória.
Nada está dito sobre o que se segue. Menos ainda para quem não esteja legalizado, mesmo que sejam pais de crianças francesas.
Do lado de lá:Também não é coincidência que, perante as previsões do furacão, com alguns dias de antecedência, quem não teve meios para sair de New Orleans foram os mais pobres, quase todos negros. Aqui a questão da nacionalidade não se põe: são quase todos cidadãos dos EUA.
Sabia-se há muito que os diques estavam em mau estado, e que podiam romper em caso de tempestade. Sabia-se também que, na generalidade, quem não tem carro são os negros e são também eles que moram na parte baixa da cidade. Sabia-se que é uma área de tempestades tropicais e furacões. Soube-se deste furacão com vários dias de antecedência, da sua rota e da sua força.
Os brancos saíram quase todos. Os negros ficaram à espera do transporte que lhes foi prometido para fugirem ao furacão (antes do furacão).
Continuam à espera, os que ainda sobrevivem, mas agora de quem os salve das águas contaminadas, da falta de comida e de água potável, das doenças, do agravamento dos ferimentos, dos gangs criminosos. A primeira coisa que tiveram foi uma ordem dada à polícia para atirar a matar.
Mas não se apresse, sr. Bush. Cada um que morrer, sempre é menos um subsídio de desemprego a pagar.
Não se apresse. Cada um que morrer, é menos um doente a gastar dinheiro do seu
Wellfare.
Não se apresse. Claro que os seus soldados são muito mais precisos no Iraque, a matar, do que em casa, a salvar. Não é óbvio, sr. Bush?
Não, sr. Bush, não se apresse. São só pretos. Nem sequer são bem pessoas, não é sr. Bush?
Fique antes em casa, durma descansado. Olhe-se bem ao espelho, sr. Bush. Se conseguir, sr. Bush.
E na ONU:Se cumprisse o papel para que foi fundada, se não estivesse ao serviço dos interesses económicos de meia dúzia, impunha-se criar uma força de capacetes azuis para salvar as pessoas que estão retidas em New Orleans sem assistência. É uma emergência humanitária. Contra os poderes instalados, se preciso fosse. Não seria a primeira vez no Mundo, só seria a primeira vez nos EUA.
E no TPI:É ainda assim irónico, para não dizer ilógico, que um tribunal esteja à espera da assinatura do criminoso para julgar o próprio criminoso. Quantas mais mortes, quantos mais crimes, quantas mais guerras, e em quantos mais países é que é preciso morrerem não brancos até este tipo ser parado?
Porra!