No Centro do mundo há um lugar situado entre as terras,
o mar e as regiões celestes, os limites do tríplice universo.
Dali se avista tudo o que acontece em qualquer sítio, mesmo
no mais distante, e todas as vozes lhe chegam às orelhas ocas.
Mora ali o Rumor. Escolhera casa para si no cimo da cidadela.
À mansão proporcionou entradas sem conta e mil aberturas,
mas com portas nenhumas fechou os umbrais:de noite e de dia
permacene escancarada. É toda feita de bronze ressonante:
ela vibra toda, e ecoa as palavras todas, e repete o que ouve.
Lá dentro não há sossego nem silêncio em parte alguma.
Não é, porém, um clamor, mas antes um murmurar baixinho,
tal como costumam soar as ondas do mar quando se ouvem
ao longe, ou como o som do troar dos derradeiros trovões
quando Júpiter faz ribombar as negras nuvens.
O átrio formiga de gente; vêm e vão, multidão insubstancial,
e por toda a parte vagueiam milhares de rumores, falsidades
à mistura com verdades, e fazem rebolar conversas confusas.
Estes atafulham os ouvidos ociosos com mexericos,
aqueles levam aos outros o que ouviram contar, e a invenção
cresce de tamanho: cada um junta algo novo ao que ouviu.
Ali mora a Credulidade, ali o Erro que age sem pensar,
e a Alegria fútil, tal como os angustiados Temores,
e a repentina Sedição, e os Sussurros, de origem incerta.
Dali o Rumor observa tudo o que se passa no céu e no mar
e na terra, e tudo procura inquirir sobre o mundo inteiro.
Os Gregos em Áulis - Ifigénia - O Rumor, Metamorfoses, Ovídeo, p.291 (tradução Paulo Farmhouse, 2007).
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