"Se abandonarmos os caminhos-de-ferro, ou os entregarmos ao sector privado, evitando a responsabilidade colectiva pelo seu destino, teremos perdido um bem prático valioso cuja substituição ou recuperação seria intoleravelmente cara. Se deitarmos fora as estações ferroviárias -como começámos a fazer nas décadas de 50 e 60 com a destruição vândala da Euston Station, da Gare de Montparnasse e, sobretudo, da grande Pennsylvania Railroad Station of Manhattan- estaremos a deitar fora a nossa memória de como viver uma vida cívica confiante. Não é por acaso que Margaret Thatcher fazia questão de nunca viajar de comboio.
Se não conseguirmos perceber a vantagem de despender os nossos recursos colectivos em comboios, não será só por termos todos aderido a comunidades muradas e já só precisarmos de carros para circular entre elas. Será por nos termos tornado indivíduos murados que não sabem partilhar o espaço público para vantaem comum. As implicações de uma perda dessas transcenderiam de longe o declínio ou a extinção de um sistema de transportes entre outros. Significaria que tinhamos acabado com a vida moderna".
Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2011, p.202
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