Hás-de voltar aqui, hás-de sentir
a estupidez do mundo como um pêndulo
batendo a horas certas
ao ritmo dos dias, das semanas,
dos meses ou dos anos que, sem dares por isso,
hão-de passar velozes até dissolverem
o céu e o inferno e os teus últimos
rastilhos do orgulho. Hás-de aprender
a amar os que te odeiam
e a afogar a tua bilís negra
no caudal desse rio a que chamas
perdão ou esquecimento.
Hás-de voltar aqui, hás-de envergar
essa coroa de espinhos que te assenta
tão bem, hás-de mentir
de novo a essa gente, obedecer
com um sorriso inócuo ao seu tráfico
de pequenos conluios burocráticos,
às rasteiras da inveja, aos mais iníquos
crimes humanos - tudo isso
a que mais tarde alguém há-de chamar
simplesmente injustiça.
Hás-de voltar aqui, hás-de saber
dar-lhes a outra face
Fernando Pinto do Amaral
Sem comentários:
Enviar um comentário