"Mas haverá uma idade em que serão esquecidos por completo
os grandes nomes opacos que hoje damos às coisas"
Mário Cesariny
26 dezembro 2014
24 setembro 2014
O papel de Freud
"Marx dizia: o mérito de Lutero foi o ter determinado a essência da religião, definindo-a não a partir do objecto mas como religiosidade interior; o mérito de Adam Smith e de Ricardo foi o terem determinado a essência ou a natureza da riqueza, não como natureza objectiva mas como essência subjectiva abstracta e desterritorializada, actividade de produção em geral. Mas, como esta determinação se faz nas condições do capitalismo, eles objectivam de novo a essência, alienam-na e reterritorilizam-na, mas agora sob a forma de propriedade privada, dos meios de produção. De modo que o capitalimo é, sem dúvida, o universal de todas as sociedades, mas apenas na medida quem é capaz de levar até certo ponto a sua própria crítica, isto é, a crítica dos meios pelos quais ele re-encadeia o que, nele, procurava libertar-se ou aparecer livremente. É preciso dizer o mesmo de Freud: a sua grandeza foi a de ter determinado a essência ou a natureza do desejo, não em relação aos objectos, fins ou origens (territórios), mas como essência subjectiva abstracta, líbido ou sexualidade. Simplesmente, ele refere ainda esta essência à família, como última territorialidade do homem privado (donde a situação do Édipo, que no princípio, nos Três Ensaios, é marginal, e que depois se vai abatendo progressivamente sobre todo o desejo). Tudo se passa como se Freud se desculpasse por ter descoberto a sexualidade, dizendo-nos: garanto-lhes que isto não sairá da família. E assim temos o segredinho nojento em vez da imensidão entrevista; o rebatimento familiarista em vez da deriva do desejo; pequenos riachos recodificados no leito materno em vez dos grandes fluxos descodificados; a interioridade em vez de uma nova relação com o exterior".
07 agosto 2014
Europa Fortaleza no programa de Juncker
"Je souhaite promouvoir une nouvelle politique européenne en matière de migration légale. Une telle politique pourrait nous aider à remédier aux pénuries de qualifications spécifiques et à attirer des talents afin d'être mieux à même de relever les défis démographiques qui se posent à l'Union européenne. Je veux que l'Europe devienne au moins aussi attrayante que les destinations migratoires favorites que sont l'Australie, le Canada et les États-Unis. Dans un premier temps, j'ai l'intention de réexaminer la législation sur la «carte bleue», et sa mise en oeuvre peu satisfaisante.
Je pense aussi que nous devons nous attaquer plus résolument à la question de l'immigration clandestine, notamment par une meilleure coopération avec les pays tiers, notamment en matière de réadmission.
Je désignerai un commissaire chargé de la migration, qui aura pour mission de s'attaquer à ces questions en collaboration avec l'ensemble des États membres et avec les pays tiers les plus concernés.
Dernier élément mais non des moindres, nous avons besoin de frontières sécurisées en Europe. Nos politiques communes en matière d'asile et de migration légale ne fonctionneront que si nous pouvons empêcher un afflux incontrôlé de migrants illégaux. Nous devons donc renforcer les capacités opérationnelles de Frontex, l'agence européenne pour la gestion des frontières. Un budget annuel d'à peine 90 millions d'euros ne saurait correspondre à la tâche que représente la protection des frontières communes de l'Europe. Nous avons besoin de mettre en commun plus de ressources entre les États membres pour renforcer le travail de Frontex et mettre en place des équipes européennes de garde-frontières, qui pourront être déployées rapidement dans le cadre d'opérations Frontex conjointes et d'interventions aux frontières. Cette tâche incombe conjointement à tous les États membres de l'UE, au Nord comme au Sud, et doit être assumée dans un esprit de solidarité".
O que distingue emigração legal de ilegal? Quem tem direito a entrar na Europa? Quem distingue o que é uma entrada legal na UE à luz das regras disintas de país para país? Este pequeno texto relativo à entrada de cidadãos de outros espaços diz-nos de Juncker e do seu programa para as outras esferas da Comissão Europeia: continuar com o que temos.
05 agosto 2014
J`accuse
"Quando bombistas suicidas se fazem explodir em autocarros nas cidades de Israel não vejo ninguém preocupado com a curva etária dos passageiros estraçalhados. Por que será?" escreve Eduardo Pitta no seu blogue em 2006. É um blogger particularmente activo, escreve sobre literatura futebol o bes o ps e o psd, diríamos que é um activo incansaável. E de repente, passado quase um mês da mais completa barbárie na faixa de Gaza eis que o seu blogue está omisso, nem uma palavra. Suponho que seja um tema tão difícil que não quis entrar nem somente referir nenhuma informação em relação à catástrofe que, pelas suas características hediondas, não deixa ninguém indiferente. Mas engano-me redondamente. Este não é um tema ausente da reflexão do blogue de Eduardo Pitta. Está presente por todo lado. Mas os bombardeamentos isaelitas que fizeram desde dia 8 do mês passado perto de 1900 mortos na sua maioria civis não merecem uma única palavra deste autor, comentador. O seu silêncio está cheio de sangue. Como o estão as palavras dos que se precipitam a vir falar de sionismo como se da cultura e história semita se tratasse, quem se precipita a vir justificar enquadrar legitimar o que não pode ter em nenhum lugar no mundo onde queiramos ou seja possível viver a mínima desculpa. A dívida de Israel com a História e com a humanidade tornou-se demasiado grande para ser saldada sem acusar os que a silenciam ou justificam de cúmplices deste Holocausto.
03 agosto 2014
INGRESSOS EM MUSEUS E MONUMENTOS: DESVARIO E MIOPIA LUÍS RAPOSO 2014-05-27
Luís Raposo 27-05-2014
"O que se passa é que de toda a evidência a mera ideia de gratuitidade deve causar incómodo ao actual poder político, como aliás ao anterior, dominados que estão ambos por meros gestores de mercearia (sem ofensa dos merceeiros, claro) e com total ausência de estadistas.
Finalmente, existe a questão dos preços estabelecidos. Em geral os valores actualmente praticados, ou são mantidos ou sofrem apenas ligeiros aumentos. Com excepções estranhas, em todo o caso. A visita Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, é reduzida em 20% (de 5 para 4 euros), porque, segundo informa a directora regional de Cultura, “as pessoas achavam que o valor de entrada era caro” (Diário de Coimbra, 20-5-2014). Mas nos Jerónimos é estabelecido um aumento de 30% (de 7 para 10 euros), não tanto porque as pessoas achem o preço barato, mas porque existe “necessidade de assegurar condições para a salvaguarda e a protecção do Monumento Património da Humanidade de um desgaste provocado pelo contínuo crescimento de visitantes”, segundo fonte anónima da DGPC (Público, 21-5-2014) – o que lido realisticamente quer apenas dizer que as instituição do Estado português “estão-se nas tintas” para os cidadãos nacionais e o seu poder de compra, sabendo bem que assim poderão extorquir mais dinheiro aos turistas".
O texto completo aqui.
27 junho 2014
Vigiar e Punir - Portugal 2014
o sentimento de insegurança gerado pelas autoridades policiais – filmes na estação de comboio
Sexta-feira à noite, estação do Rossio, em Lisboa: mais uma “operação policial para identificação de pessoas suspeitas de entrada e permanência ilegal no país”(...) e “do cometimento de certos crimes.”... Um grande aparato policial junta SEF, PSP e fiscais da CP. Objectivo: controlar os passageiros, nomeadamente imigrantes, enquanto saem das carruagens um a um, verificar a identificação de todos e, já agora, o título de transporte válido. Não é a primeira, não será a última, têm vindo a aumentar. Aliás, nessa noite há, em simultâneo, operações policiais semelhantes em várias zonas da cidade e na periferia. Quantas mais se juntarmos outras cidades e outros dias?
Algumas dezenas de passageiros esperam fora das cancelas. Vários parecem já habituados a que haja alturas em que não se pode apanhar o comboio a horas, já não por não ter bilhete, mas agora por não ter “papéis”... Outros esperam e filmam a cena de dentro das carruagens, mas todas as imagens que a polícia detecta são apagadas no momento da sua identificação e revista, um a um...
Focamo-nos numa personagem que, sozinha, observa e regista. Não veio de comboio, está do lado de fora da cancela, e não no cais onde se aglomeram polícias e fiscais. Um agente aborda-a, “que não pode filmar, que se identifique”. Pergunta porquê, a resposta final é que “se a polícia diz é para acatar”; rapidamente é isolada, algemada e detida. É revistada numa “esquadra de investigação”, sem acesso público, dentro da própria estação. É-lhe retirado o telemóvel e são apagadas as poucas imagens que recolheu. É depois mudada para outra esquadra, onde passará as próximas horas – quase seis, o limite máximo previsto na lei. Pelo meio, é ainda levada à sede da Policia Judiciária, para uma “resenha de identificação mais completa”. Novo aparato: vários agentes, uma carrinha, para contornar uma única esquina. É apenas para a impressionar, a ela e aos companheiros que entretanto se juntaram à porta? Finalmente, é libertada, mas fica de se apresentar no tribunal na segunda-feira seguinte. Mas, de que é, afinal, acusada?
Noutra ponta da estação, outros tiveram uma situação semelhante mas com um desfecho bem diferente. Poderia ser, também, porque foram abordados por um polícia mais bem-disposto, mas uma melhor explicação é que eram vários. Não estavam sozinhos. E, assim, o primeiro polícia foi chamando também os seus colegas, subindo a hierarquia, até quase se igualar o número de intervenientes de cada lado da discussão. Das trocas de argumentos sobre “o delicado equilíbrio entre a eficácia das operações policiais e o respeito pelos direitos e garantias dos cidadãos”, sobre “o confronto entre a autoridade e a liberdade” se consegue depreender ao menos parte da outra história.
Primeiro eram as filmagens. Mas filmar não é, em si, ilegal, qual é o problema? É complicado: “porque é em espaço público, porque o espaço não é totalmente público, porque...”, “não é que seja explicitamente proibido filmar operações policiais, mas os agentes individualmente não gostam de ser filmados...”. Bom, aqui o que interessa é o conjunto da operação, notoriamente publica, não nos focamos em nenhum agente, também não gostamos de ser focados em filmagens, e sabemos que não é legal filmarem-nos sem a nossa autorização. Note-se, no entanto, que a nossa personagem não poderá agora ser acusada de nada disto, já que ainda que houvesse algum crime, a prova – as imagens no telemóvel – já foi apagada. (1)
A conversa segue agora para a identificação. Mas por que pretendia a polícia identificar estas pessoas? Porque estavam a filmar”, afinal não serve como já vimos... hm... será no âmbito da operação, procuram suspeitos de quê? Também “não lhe podemos dizer o objecto da operação...”, mais tarde ou mais cedo chega o “Porque é suspeito não se querer identificar!” É? Parece, apenas abuso de autoridade – se perguntas, se questionas, se não acatas ordens sem as tentares entender e enquadrar legalmente, és suspeito. Este caso, teria eventualmente “circunstâncias excepcionais”: estavam a identificar toda a gente que passava na estação, mas não foi explicado porquê... A nossa personagem não tinha consigo o cartão de cidadão, mas tinha companheiros ali mesmo na estação que a poderiam identificar, só que foi impedida de os contactar. (2)
Passa-se assim, sem razão, ao último passo: a ida à esquadra escondida, a revista, a detenção. É inclusive algemada e claro que fala. Protesta. A acusação seguinte, afinal a única neste caso, torna-se a de “crime de resistência e coacção sobre funcionário”. Disso terá de se defender, então. Que perguntou, que questionou o enquadramento das ordens, que resistiu portanto a actuações arbitrárias, mas não a uma autoridade explicada e entendida. Que, claro, uma pessoa sozinha desarmada não coage um polícia armado, e menos numa operação que junta dezenas deles. Que é apenas natural resistir a uma detenção arbitrária. Que o direito de resistência está previsto nas leis, a Constituição diz que “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias” e até “de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.”
Se estivéssemos ainda na outra discussão, poderíamos agora responder que “não, não é só que nós não gostamos de fardas; é que em geral não confiamos na polícia; e mais desconfiaremos, e mais gente desconfiará, com certeza, com a generalização destes abusos de autoridade”. “Que, assim, mais importante se torna que haja companheiros atentos sempre que há uma operação policial, que a registem ou tentem intervir para evitar que haja abusos, pessoas detidas sem justificação.”
Quantos trabalhadores chegaram mais tarde ao descanso ou, por outro lado, ao trabalho nocturno? Quantos imigrantes foram assediados e assustados? Quantos outros terão sido detidos nessa noite? “O SEF deteve quatro cidadãos estrangeiros por permanência ilegal e notificou doze para abandonarem o território nacional. Foi ainda detectado um indivíduo na posse de arma ilegal. No âmbito desta acção foram identificados cerca de 400 cidadãos, dos quais 150 estrangeiros.” Quanto tempo passaram nessa esquadra sem acesso público, sem poder comunicar com ninguém, provavelmente sem saber bem o que lhes aconteceu, sem saber o que poderia vir a acontecer ainda? Para que servem estas operações? Para criar insegurança à maioria das pessoas, para nos habituar ao controlo constante, para nos fazer aceitar regras arbitrárias por forma a “não arranjar problemas”.
Esta não foi a primeira, nem será a última, destas operações. Acontecem regularmente na periferia e, cada vez mais, no centro da cidade. Visam principalmente imigrantes, mais sujeitos à chantagem dos papéis, e é muitas vezes juntas ao controlo dos bilhetes dos transportes públicos. É urgente questionar e resistir, registar e divulgar, não deixar ninguém sozinho, e organizarmo-nos para impedir o avanço da perseguição aos imigrantes, do medo e do autoritarismo. Propomo-nos a acompanhar e relatar este tipo de operações, a denunciar os seus propósitos de controlo e repressão, e a juntar as ferramentas para evitar os abusos sistemáticos. Ouvimos e lemos vários relatos, sabemos haver muitos mais, juntemo-nos para perceber melhor os seus efeitos.
1) O que a lei diz é: “Não é necessário o consentimento da pessoa retratada quando (...) a imagem vier enquadrada na de lugares públicos, ou na de factos de interesse público ou que hajam decorrido publicamente” (Art 79º-2 do Código Civil); Mas, por outro lado, incorre em pena quem “contra vontade filmar ou fotografar outra pessoa” (Art 199º-2 do Código de Processo Penal).
2) O que a lei diz, no artigo 250º do Código de Processo Penal, é: “Os órgãos de polícia criminal podem proceder à identificação de qualquer pessoa encontrada em lugar público, aberto ao público ou sujeito a vigilância policial, sempre que sobre ela recaiam fundadas suspeitas”, devendo “comunicar ao suspeito as circunstâncias que fundamentam a obrigação de identificação”. “Na impossibilidade de identificação imediata no local, os órgãos de polícia criminal podem conduzir o suspeito ao posto policial mais próximo e obrigá-lo a permanecer ali pelo tempo estritamente indispensável à identificação, em caso algum superior a seis horas. Será sempre facultada ao identificando a possibilidade de contactar com pessoa da sua confiança.”. Segundo o mesmo artigo 250º: o “Reconhecimento da sua identidade por uma pessoa identificada (...) que garanta a veracidade dos dados pessoais indicados (...)”, serviria também, e é apenas em último caso, que se aplica a ida à esquadra. Quanto aos meios acrescidos de identificação, os tais realizados na PJ, “são sempre reduzidos a auto e as provas de identificação dele constantes são destruídas na presença do identificando, a seu pedido, se a suspeita não se confirmar.”
3) Esta informação legal está em http://informaccao.blogspot.pt/:
http://informaccao.blogspot.pt/2014/06/se-recolheres-imagens.html http://informaccao.blogspot.pt/2014/06/se-fores-identificado.html
02 junho 2014
Fuck Lisbon Lovers
Mais uma história de exploração e precariedade, 300 euros a recibos verdes na Lisbon Lovers. Um país de empreendedores. Aqui
23 maio 2014
Algumas notas sobre o início do julgamento dos “acontecimentos do Chiado”
Um texto de Miguel Carmo
Olá.
Olá.
O meu julgamento começa amanhã à tarde no Campus de Justiça e prossegue, pelo menos, nas próximas duas quintas-feiras.
O Ministério Público (MP) acusa-me, com base no testemunho de um polícia que assina o Auto de Notícia em anexo, de ter projectado uma cadeira de uma das esplanadas do Chiado sobre uma linha de polícias que na Rua Serpa Pinto protegia a detenção de um manifestante. Não tendo sido identificado durante a manifestação, nem em nenhum outro momento anterior ou posterior, o Auto refere que se fez uso para tal de informações do Núcleo de Informações da PSP, na forma que passo a citar: “trata-se de um indivíduo que é presença habitual neste tipo de manifestações/concentrações, pautando sempre a sua conduta de forma agressiva para com as Forças de Autoridade”.
Ainda não é certo se este julgamento servirá para esclarecer a qualidade de polícia política que a PSP parece requerer para si no documento citado.
Passaram agora mais de dois anos sobre os “acontecimentos do Chiado” e a memória dilui-se. Nada que a Internet e os jornais da altura não reponham num instante. Foi dia de greve geral combativa, com várias manifestações a atravessarem o Chiado em direcção a São Bento. Perante a passagem de uma delas a PSP tem a ideia genial de deter um estivador que vinha rebentando petardos ao longo do percurso. É um homem de meia-idade com um pacemaker, cuja detenção provoca o espanto e reacção imediata dos seus amigos e depois a indignação de toda a manifestação. Foi este o momento inicial de um descontrolo policial que varreu, a vários tempos e intensidades, todo o Chiado até ao Largo de Camões com um balanço final de dezenas de feridos entre manifestantes, jornalistas e transeuntes. Nesse dia temos o Ministro da Administração Interna na televisão a explicar-se e dias depois a ser requerido pelo Bloco de Esquerda para uma audiência parlamentar convocada de urgência para o efeito; temos um inquérito aberto pelo IGAI ao comportamento da PSP, preenchido com declarações de várias pessoas agredidas; e temos o MP a agrupar num mega-processo penal cerca de uma dezena de queixas.
De tudo isto nada reza a história. Macedo é ainda Ministro da Administração Interna, os resultados do IGAI são aparentemente nulos e o MP arquiva todos os processos na fase de instrução, por falta de provas, todos à excepção daquele contra mim. A PSP atacou uma manifestação em dia de greve geral, o Ministro da Administração Interna defende-a e responde politicamente no parlamento; as várias queixas apresentadas contra polícias, tanto no penal como junto do IGAI, são arquivadas e esquecidas, sobrando um processo contra uma pessoa que, como milhares de outras desde o último mandato de Sócrates, têm participado e organizado várias manifestações.
É disto que fala, em específico, a ideia de que a história é sempre a história dos vencedores.
Junto algumas ligações de Internet,
As audiências serão sempre às 14h, no 5º Juízo Criminal de Lisboa, 1º Secção (edifício “B” do Campus de Justiça, na Expo)
Agradeço divulgação em blogues e fb pois não os tenho. Que a denúncia seja por ora a nossa arma. Se alguém quiser produzir opinião com mais folêgo sobre esse dia/julgamento posso enviar documentação vária do processo, nomeadamente o despacho de acusação e a nossa contestação.
Abraços e beijinhos
Miguel Carmo
Ligações:
http://versaletes.blogspot.pt/2012/03/miguel-macedo-brinca-com-o-fogo_27.html
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2012/03/carga-policial-de-22-de-marco-mocao-de.html
http://jsgphoto.blogspot.pt/2012/03/22-de-marco.html
http://passapalavra.info/2012/03/54758
17 maio 2014
12 maio 2014
Discurso do fdp
Francisco José Viegas governou-se (Pais do Amaral e a saída ilegal do quadro de Corelli) saiu com esperança de que fora da luz dos holofotes os outros e os tribunais se esquecessem que foi um criminoso no exercício das suas funções Francisco José Viegas vem aqui cantar aquela cantiga de que agora temos o dever de rever a nossa forma de vida porque fomos todos uns estarolas gastadores. A mentira tal como as armas de destruição maciça no Iraque é o que sustenta a devastação e a barbárie. Quando se quer descobrir um crime começa-se por perceber quem beneficia com ele.
Perante um país onde 2 milhões estão no limiar de pobreza como é possível ler alguém dizer que temos de usar cotoveleiras nos nossos casacos e usar carros com 15 anos como forma de estar no presente e no futuro?
11 maio 2014
06 maio 2014
José Mário Branco
Estreou este ano no Indie de Lisboa. Feito ao longo de 9 anos com os recursos que os realizadores foram encontrando, é um grande filme documentário, à altura do grande homem que é e foi sendo José Mário Branco. O filme não se precipita para os lados doméstico e íntimo e fixa-se no percurso público e político da sua biografia. Não fazer concessões e não desistir da vida e da luta, misturando uma e outra porque não são diferentes, fazem do músico José Mário Branco um exemplo e uma inspiração. São raros, os que conhecemos, sorte a nossa.
06 abril 2014
O Património artístico dos Hospitais da colina de Santana: Imperativo de Salvaguarda
Parto do princípio de que o património acumulado nos edifícios do antigo Hospital Miguel Bombarda e nos ainda Hospitais de Santa Marta, Santo António dos Capuchos e São José é não apenas relevante sob o ponto de vista histórico e hospitalar mas também sob o ponto de vista arquitectónico e artístico. Na minha qualidade de historiador de arte e ollisipógrafo, creio que se trata de conjuntos por demais relevantes em termos de arquitectura e de acervos artísticos, e por isso tenho pugnado pela sua salvaguarda integral desde que, acompanhando a desafectação de serviços, surgiram propostas visando a destruição de parte substancial desse património.
Para nós, e tomando a definição de bem patrimonial veiculado pelo Arq. José Aguiar, Património é tanto a obra-de-arte a ruína, o objecto-construção, a arquitectura de um edifício (o monumento clássico), como o lugar-ambiente, os núcleos urbanos a que (mal) chamamos centros históricos, ou seja, a cidade antiga e a cidade consolidada.
É património o território e a paisagem humanizada, enquanto arquitecturas de vasta escala, ou seja, organizações voluntárias do espaço feitas por (e portadoras dos valores dos) homens. É também património (intangível) o saber que permitiu projectar, construir, manter ou alterar».
No caso dos quatro hospitais ameaçados, que foram conventos de franciscanos, dominicanos, vicentinos e jesuítas com origens arcanas e mantendo recheios artísticos e científicos de primeira ordem, defendemos desde sempre o caminho da revitalização desses patrimónios sem amputar o existente, ao contrário do que quiseram e querem impôr os projectos da ESTAMO. A valia arquitectónica dos quatro hospitais da Colina é inquestionável e documenta um percurso desde o Maneirismo ao XIX, com corpos da responsabilidade de arquitectos como Nicolau de Frias e Baltazar Álvares, no século XVI, João Antunes no fim do XVII, ou José Maria Nepomuceno, autor do célebre Pavilhão Panóptico do Miguel Bombarda, jóia do racionalismo oitocentista, bem estudado pelo Dr. Vítor Freire, e também colecções preciosas de arte, como a azulejaria que enriquece os quatro conventos – na sua maioria dos séculos XVII e XVIII, estudada por especialistas como Santos Simões, José Meco, Barros Veloso e Isabel Almasqué, já aliás devidamente inventariada pelos técnicos da Rede Temática em Estudos de Azulejaria e Cerâmica João Miguel dos Santos Simões da Faculdade de Letras de Lisboa, com um banco de dados exaustivo.
Independentemente da qualidade arquitectónica e artística das propostas de projecto da ESTAMO, e do mérito dos seus proponentes, o que esteve e está em causa é a violação do «espírito de lugar» sacrificado a uma cega lógica especulativa de «rentabilização a todo o custo», como se os edifícios antigos, por existirem, fossem um estorvo para os gabinetes ditos de reabilitação urbana ! Ora, seja qual for o destino que venham a ter estes ex-conventos que foram ex-hospitais, eles têm de ser considerados, à lupa, como mais-valias do tecido histórico-cultural da cidade... Num momento em que as ameaças de destruição estão temporariamente travadas, face à decisão da Assembleia Municipal, é ainda mais urgente e imperioso avançar com propostas de salvaguarda e alternativas de utilização, incluindo as museológicas, mostrando claramente o repúdio por qualquer ‘solução final’ destrutiva, como a que se desenhava – a qual nem sequer respeitava as ZEP's dos edifícios classificados envolvidos no processo e que esquecia mesmo uma proposta de classificação do ex-Miguel Bombarda em análise da DGPC…
A incapacidade de saber intervir com sensibilidade, e as más decisões pautadas pelo afã do lucro, originam atentados patrimoniais sem remissão, e este seria de imensas proporções, a ser cumprido, tanto na componente patrimonial e histórico-artística, como no impacto ambiental, na descaracterização da zona e na perda de serviços da comunidade. A ausência de «perspectivas estratégicas» (cuja busca, em princípio, deveria ter envolvido todas as partes, da CML à SEC, Universidades, associações de cultura, historiadores, arqueólogos, comunidade), esteve arredada da parte de quem, face aos dados conhecidos, apenas pretendeu e pretende destruir sem sofismas para «construir com aval em nome do progresso». Mas afinal que progresso é este ? Refutamos que o país histórico só exista à medida da conveniência de grandes interesses. Não é verdade quem diz que só existem duas opções para estes espaços patrimoniais: ou se deixa como está por ditame de um patrimonialismo serôdio, ou se avança com projectos e funcionalidades previamente determinadas, mesmo que estas apaguem as «memórias valorativas» dos espaços.
É certo que as cidades crescem, geram dinâmicas e novos patrimónios, mas não se aceita que esse processo se faça destruindo testemunhos históricos tão relevantes, negando-lhes valia, como é o caso dos corpos hospitalares oitocentistas de Rilhafoles e Capuchos condenados pela ESTAMO ao camartelo... Há sempre alternativas sustentadas, que passam decerto por nova construção pontual, em intervenção micro-arquitectónica sustentada, como defende o Arq. José Aguiar como princípio a seguir, mas mesmo essas não poderão prescindir da conservação do existente, respeitando as áreas de protecção dos imóveis classificados e suas linhas de evolução, tomando como base a qualidade dos edifícios, pensando serviços adequados, como centros culturais, laboratórios, pólos de vivenciação, o museu de História da Medicina que se pretende criar, sem deixar de reforçar o Museu de Arte Outsider já instalado no Miguel Bombarda e que é, no seu acervo, um dos mais importantes do mundo... tudo reflectido e pensado, sempre, com respeito pelo princípio do «espírito de lugar», de que uma cidade como Lisboa não pode prescindir.
Existe alternativa aos projectos da ESTAMO, que equilibre a reconstrução com a conservação, a pontual demolição de excrescências com a valorização efectiva da Colina como todo, a rentabilização de partes com musealização de outras. É o que se espera da parte da CML para o futuro da Colina – e não o cenário apocalíptico que se quis impõr como facto consumado, depois de apagar a memória histórica e hospitalar das existências. É certo que o futuro não se constrói só a defender o passado, mas seguramente não se constrói se alienarmos esse mesmo passado. Existem sempre alternativas quando os agentes, técnicos e comunidade, sabem destacar o essencial: a dignificação de Lisboa, acima de interesses especulativos e falaciosas argumentações que visam a des-memória do tecido olisiponense. Está em causa, enfim, uma questão que à classe médica é muito querida: a História da Medicina em Portugal e a sua memória, física e museológica.
O património comum une passado, presente e futuro numa intimidade de interstícios, pelo que a reabilitação dos lugares históricos só pode mesmo ser cruzada com o sentido da sua dignificação plena. Exige-se perspectiva responsável e aberta, que só faz sentido se Património, Herança e Memória caminharem de mãos dadas. É preciso que a lucidez faça doutrina, inflectindo o processo que ameaça com destruições sem remissão os ex-conventos de Rilhafoles, Santa Marta e Santo António dos Capuchos e o ex-Colégio de Santo Antão.
Vítor Serrão
(texto da minha intervenção no Debate Cívico a 29 de Março, na Sociedade de Geografia, organizado pelo ICOMOS-Portugal, o ICOM-Portugal, a Secção de História da Medicina da Sociedade de Geografia de Lisboa e o Núcleo de História da Medicina da Ordem dos Médicos).
Imagens obtidas no Hospital Miguel Bombarda em 2010
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27 março 2014
02 março 2014
A percepção dos mercados
O programa continua no bom caminho, como aliás refletido na melhoria da perceção dos mercados. Os juros da dívida soberana têm continuado a baixar e as recentes emissões obrigacionistas, articuladas com os restantes desembolsos do programa, asseguram que as necessidades de financiamento do setor público para 2014 estão plenamente cobertas. A dívida pública permanece elevada, mas é sustentável desde que a dinâmica do processo de reforma se mantenha para além do horizonte do programa. Um amplo entendimento político, no sentido de que a disciplina orçamental e os esforços de reforma estrutural têm de continuar a pautar as futuras políticas em Portugal, constituiria certamente uma importante base para restaurar o financiamento pleno e sustentável junto dos mercados. Desde que as autoridades prossigam uma execução firme do programa, os Estados-Membros da zona euro declararam que estão dispostos a apoiar Portugal até à recuperação plena do acesso aos mercados.
O programa de ajustamento económico de Portugal é apoiado por empréstimos da União Europeia, no montante de 52 mil milhões de euros, e do FMI, ao abrigo do Mecanismo Alargado de Financiamento, no montante de 26 mil milhões de euros. A conclusão da décima primeira avaliação poderá ter lugar em abril de 2014, dependendo da aprovação do ECOFIN e do EUROGRUPO, bem como do Conselho de Administração do FMI. Tal permitirá o desembolso de 2,5 mil milhões de euros (1,6 mil milhões da UE e cerca de 0,9 mil milhões do FMI) na sequência da aprovação da atual avaliação. A missão conjunta para a próxima avaliação do programa está prevista para abril de 2014.
28 fevereiro 2014
Declaração dA CE, DO BCE e DO FMI sobre a décima primeira missão DE AVALIAÇÃO EM Portugal
05 fevereiro 2014
Miró
Presentemente, vivemos sob os auspícios de uma cultura que se caracteriza por um capitalismo obcecado pelo low cost, suportado por uma sociedade em rede, preocupada com a sustentabilidade da velocidade da informação/comunicação, dos MB (mega bites), mas sobretudo viciada nos gráficos impregnados de adrenalina, que tentam demonstrar que os números são o pilar do desenvolvimento da civilização.
O Homem tecnológico, cultural, humanista, faz parte de um passado distante e evoluímos para uma nova Era – a do Homem Descartável. Muitos de nós erigimos algumas das questões essenciais postas pelos números, no que se refere aos visitantes dos museus, ao desinvestimento na cultura, e sobretudo ao alheamento da sociedade relativamente ao Património Histórico.
Teorias e análises foram faladas e escritas ao longo de décadas, por pensadores, profissionais da cultura e comentadores, sobre as novas necessidades culturais das gerações presentes e vindouras. Mas, infelizmente, mesmo as visões mais apocalípticas falharam.
O caso das obras de Miró, no nosso estimado Portugal, é paradigma de como se comporta esta geração descartável:
a) Para com as Instituições, que deveriam ter sido convidadas a analisar a questão, e que simplesmente não o foram – a Secção dos Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial (SMUCRI) do Conselho Nacional de Cultura, a Direcção-Geral do Património Cultural / DGPC, a APOM (Associação Portuguesa de Museologia) e o ICOM-Portugal.
b) Para com a respectiva área de especialidade - Secretário de Estado da Cultura.
c) Para com a Lei de Portugal, que obriga a que as obras de arte, ao serem deslocadas para outro país, tenham de obter uma autorização para o efeito.
d) Para com os Portugueses, que não tiveram a oportunidade delas usufruírem, nem que fosse por breves momentos numa exposição.
e) Para com os Museus do Estado, que teriam, porventura, a oportunidade de incorporar algumas obras (já que possamos concordar que, devido à situação actual do País, nem todas pudessem ficar em Portugal).
f) Para com a inteligência. A colecção Miró constitui um acervo artístico gerador de riqueza em qualquer parte do mundo, em especial num país turístico como é Portugal, que através de uma política de comunicação/actuação semelhante a outras recentes exposições, poderia ajudar (não a resolver) a remover a imagem da profunda trapalhada ligada ao caso BPN.
g) Para com Juan Miró, artista universal, nascido no território Ibérico, representativo de uma Era próspera da pintura europeia, um dos mais importantes pintores do século XX, cujas obras não mereceriam tamanha desfeita. Hoje as de Miró, amanhã de outro artista de referência. Não deixa de ser um precedente, tão insólito como preocupante.
Associação Portuguesa de Museologia
Presidente João Neto
Lisboa, 3 de Fevereiro
O Homem tecnológico, cultural, humanista, faz parte de um passado distante e evoluímos para uma nova Era – a do Homem Descartável. Muitos de nós erigimos algumas das questões essenciais postas pelos números, no que se refere aos visitantes dos museus, ao desinvestimento na cultura, e sobretudo ao alheamento da sociedade relativamente ao Património Histórico.
Teorias e análises foram faladas e escritas ao longo de décadas, por pensadores, profissionais da cultura e comentadores, sobre as novas necessidades culturais das gerações presentes e vindouras. Mas, infelizmente, mesmo as visões mais apocalípticas falharam.
O caso das obras de Miró, no nosso estimado Portugal, é paradigma de como se comporta esta geração descartável:
a) Para com as Instituições, que deveriam ter sido convidadas a analisar a questão, e que simplesmente não o foram – a Secção dos Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial (SMUCRI) do Conselho Nacional de Cultura, a Direcção-Geral do Património Cultural / DGPC, a APOM (Associação Portuguesa de Museologia) e o ICOM-Portugal.
b) Para com a respectiva área de especialidade - Secretário de Estado da Cultura.
c) Para com a Lei de Portugal, que obriga a que as obras de arte, ao serem deslocadas para outro país, tenham de obter uma autorização para o efeito.
d) Para com os Portugueses, que não tiveram a oportunidade delas usufruírem, nem que fosse por breves momentos numa exposição.
e) Para com os Museus do Estado, que teriam, porventura, a oportunidade de incorporar algumas obras (já que possamos concordar que, devido à situação actual do País, nem todas pudessem ficar em Portugal).
f) Para com a inteligência. A colecção Miró constitui um acervo artístico gerador de riqueza em qualquer parte do mundo, em especial num país turístico como é Portugal, que através de uma política de comunicação/actuação semelhante a outras recentes exposições, poderia ajudar (não a resolver) a remover a imagem da profunda trapalhada ligada ao caso BPN.
g) Para com Juan Miró, artista universal, nascido no território Ibérico, representativo de uma Era próspera da pintura europeia, um dos mais importantes pintores do século XX, cujas obras não mereceriam tamanha desfeita. Hoje as de Miró, amanhã de outro artista de referência. Não deixa de ser um precedente, tão insólito como preocupante.
Associação Portuguesa de Museologia
Presidente João Neto
Lisboa, 3 de Fevereiro
13 janeiro 2014
E chamam-lhe apoio à cultura
A câmara municipal de Lisboa resolveu colocar à diposição um imóvel recuperado através de um concurso de arrendamento. O concurso é promovido pela direcção de cultura e chamam-lhe apoio à cultura. Que querem trazer as artes para a cidade. As associações juvenis podem também concorrer a pagar rendas nos imóveis devolutos da câmara. O valor é definido de acordo com o estado do imóvel e com o valor do metro quadrado dos imóveis na zona. Dão utilização a um fogo devoluto, muitas vezes com obras pagas pelos arrendatários, recebem uma renda e ainda fazem uma lista de associações juvenis "apoiadas" pela Câmara
06 janeiro 2014
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