23 outubro 2013

Dia 26 Sábado



A sensação é de anestesia, qualquer coisa como o stress pós-traumático. Evitamos pensar demasiado, em tudo o que envolva a nossa vida comum. É demasiado. Inimaginável. Quem poderia supôr nestes três anos tudo que o se passou. Não só dos orçamentos e políticias deste governo (e do anterior) mas das formas e dos meios. Das gigantescas operações de corrupção, assistida e amparada por quem detém os instrumentos públicos de poder, que são públicos numa teoria a que é arrancada, aos minutos, a sua efectividade. A amnésia, ou o deixar de lembrar cada ponto e cada explicação são os remédios, para a maioria, para que seja possível continuar a viver e a passear com os filhos pelo jardim. Os 48 anos de ditadura mais os 30 de democracia à Cavaco cavaram fundo esta ideia de que o governo das coisas não cabe a cada um de nós. 
E que podemos ou devemos aspirar à sobrevivência recorrendo às cartas que nos sairam no jogo. Aspirar portanto ao melhor possível dentro deste mundo e não noutro, humano mas ideal. Como se este ou outro mundo qualquer não resultasse de todas as cartas em jogo ao mesmo tempo, como quando se fala na Europa como uma entidade fora de nós. 
Para que o torpor não vença e para que nos lembremos sempre desse humano por vir, para que o cansaço não nos faça esquecer que é possível, em cada momento, vislumbrá-lo e resgatá-lo. Não há saída sem ser a que possamos construir colectivamente. A primeira saída tem de ser a deste governo e de todos os que se perfilham para seguir as pisadas da austeridade. 

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