25 junho 2010

600 novos milionários em ano de crise

Tudo bate certo. A crise é indissociável do sistema económico vigente, e este sistema é o que permite as enormes descrepâncias, a democracia em Portugal permitiu alargar a percentagem dos ricos e milionários e permitiu também aumentar de forma incomparável os valores de riqueza daqueles que, antes do 25 de Abril, já viviam abastadamente à conta da pobreza da maioria. Por isso não resistiram muito à mudança do sistema político. Alguns souberam que a médio prazo iam ganhar ainda mais.



Devia ser claro que se há crise e se ela se mantém é porque existe quem tenha muito a ganhar com ela. Estes 5.5 % de portugueses ou c. de 5,5% da população mundial trata todos os dias, desde que se levanta até que se deita e enquanto dorme, de assegurar que o sistema não se altere. As formas que têm de o fazer não estão ao alcance dos outros 95%, quem não detêm acções em grupos económicos detentores de meios de comunicação social, de transportes, de empresas de construção, de energia, de editoras, etc.etc., não tem os mesmos instrumentos de que é detentora e força de forma sistémica os limites do controlo público sobre os mesmos. Para juntar a este "fascismo financeiro", como lhe chamou Boaventura Santos, os polítcos fazem-se eleger com programas que não correspondem ou são exactamente o oposto daquilo que vão fazer ao longo do mandato, não havendo no sistema político qualquer instrumento de penalização para este facto. Juntamos ao fascismo financeiro um sistema pólítico que está longe de corresponder à democracia de que nós, como os companheiros do continente europeu, gostam de se gabar (alguns mais papistas ou mais entusiastas do ultra-liberalismo ainda gostam de defendê-lo como oposição a países onde não se gozam os direitos, liberdades e garantias que sentem nos seus gabinetes onde escrevem e pensam, enquanto lá fora, pela janela ignoram a senhora da limpeza a ganhar menos de 2 euros à hora, sem acesso a saúde, os filhos sem acesso a educação, os primos dela espancados pela polícia, e por aí fora).



Tudo isto, de forma muito simplificada, não é nenhuma novidade mas aquilo que daqui naturalmente decorre não é compatível com o que grande parte da esquerda espera de mudança através das formas institucionais. Como se o sistema político não fizesse parte dos instrumentos de que dispõem para manter "um modo de vida". Como se, de forma expontânea e pacífica, com 300 mil pessoas ou mais na rua a gritar, os 5,5% tomasse parte de uma Contrição Colectiva e viessem " para a terra sujar as mãos".

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