Jerónimo de Sousa fez um grande discurso na assembleia por ocasião da apresentação do PCP da moção de censura ao governo. "... Foram os mais de 700 mil desempregados ou os que já nem direito têm ao subsídio de desemprego? Foram os trabalhadores despedidos da indústria naval, da siderurgia, da Quimonda, da Rodhe, da Delphi do sector têxtil, os mais de um milhão de trabalhadores com vínculos precários os mais de 40 mil jovens diplomados sem emprego nem alternativas, os milhares de comerciantes sufocados e arruinados na concorrência desleal com as grandes superfícies, nas centenas de milhar de pequenos agricultores que viram arruinadas as suas explorações agrícolas, os pequenos empresários da indústria que entraram na falência devido aos custos dos factores de produção e a falta de firmeza do Governo nas negociações da OMC, foram os pescadores e os trabalhadores da Marinha Mercante que viram as respectivas frotas serem abatidas?..."
Ele e o PCP não têm poupado esforços na mobilização para a grande manifestação de sábado em Lisboa, convocada pela CGTP e apoiada por todos quantos se revejam na necessidade de aumentar o combate, acelerá-lo e elevá-lo para outros patamares, aqueles que vejam resultados. Eu vou estar na manifestação e estou ao lado de quase tudo o que diz Jerónimo de Sousa. Infelizmente o que diz Jerónimo de Sousa não corresponde com os resultados das práticas que o PCP tem tomado desde o congresso que preparou a consagração de uma certa ideia de luta para derrotar a direita (o mesmo que prepara a entrada de Jerónimo de Sousa como secretário-geral).
Bem pode pregar Jerónimo que temos de derrotar as políticas de direita quando o PCP não tem feito outra coisa que ajudar à construção da PAZ SOCIAL de que o capital gosta tanto de se gabar no nosso país. Quando não consegue estar em plataformas unitárias, quando não consegue estar em lutas que não controle ou domine, quando perseguiu centenas de militantes empurrando comunistas (muitas vezes com uma história e experiência de luta insubstituíveis) para fora das estruturas que eles ajudaram a construir. Afastou com as suas práticas fechadas centenas de pessoas da luta, ajudou ao desacreditar e ao afastamento de tantas pessoas da política. Falo a partir de factos concretos, não são considerações vagas construídas a ler as teses dos congressos ou as notícias nos jornais. O PCP, na última década, contribuiu activamente (não descartando a responsabilidade, ainda que menor, do BE) para a construção da paz social. Se as coisas chegaram ao Estado a que chegaram -no nosso país particularmente- foi com a ajuda de Jerónimo de Sousa, por muito bem que ele fale e por muitos boas intenções que possam estar nas centenas de militantes que, de forma abnegada, dão o seu tempo a procurar que o mundo possa ser de outra maneira.
A verdade é que o papa e o seu exército de religiosos também querem um mundo melhor, mas aquilo que ensinam na prática é a obediência e a conformação.
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