"O gosto do rei exige que as árvores e as plantas do seu jardim estejam dispostas em grupos regulares e fáceis de abarcar com o olhar, tal como os cortesãos durante o cerimonial cortês. As copas das árvores e os ramos dos arbustos devem ser talhados de forma a apagar quaisquer vestígios de um crescimento desordenado e selvagem. As áleas e os patamares floridos devem reflectir a mesma elegância e a mesma clareza das construções régias. Na arquitectura dos palácios e dos jardins, na harmonia perfeita entre as partes e o todo, na elegância de linhas de decoração que é em tudo semelhante à elegância dos gestos e movimentos do rei e dos cortesãos em geral, na maginificiência e nas dimensões das construções e dos jardins que serviam -independentemente da sua utilidade prática - para a autorepresentação do poder real, encontramos uma imagem mais fiel dos ideais do rei que na sua maneira de controlar e submeter os homens. (...) O gosto de Saint-Simon fá-lo sentir-se mais atraído pelo jardim à inglesa, que concede maior liberdade ao crescimento dos arbustos, das árvores e das flores; o jardim inglês corresponde ao gosto da classe superior de uma sociedade na qual o rei e os seus representantes nunca conseguiram instaurar por muito tempo um regime autocrático ou absolutista"
Norber Elias, A Sociedade de Corte, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, pp.195-196.
Divulgo o texto de Tiago Taron que, julgo, deixa muito claro os processos através ou atrás dos quais se decidiu alterar radicalmente a fisionomia da maior parte dos jardins de Lisboa. Processos que demonstram que o controlo de gestao (democrática?) do território,na pequena como na grande escala, é risível. Os instrumentos são meramente formais (quando é efectivo o uso desse poder como o IPPAR e a câmara do Porto àcerca do tunel em frente ao Museu Soares dos Reis não tem consequências- o presidente continuou a obra, não sofreu sanções e foi reeleito com maioria absoluta). Assumamos que a equpa de espaços verdes tinha esta sagacidade e intrepidez e assume um novo modelo estético para os jardins da cidade -um modelo que está na moda na arquitectura paisagística - para além de não contarem com a participação de ninguém (quem vive com os jardins de perto uma vida inteira por exemplo) e com isso atirarem para o lixo as ideias de esquerda como é o orçamento participativo e o apelo à população para que participe nas escolhas da cidade, para além disto tudo pelos vistos a crise nao afecta os espaços verdes na cidade. Ou mudar os jardins todos na cidade fica mais barato que requalificar aqueles que precisam. Isto faz sentido?