06 outubro 2009

O erro de António Costa


A quatro dias das eleições autárquicas este tipo de inaugurações cai sempre mal. Se fosse uma exposição organizada pela candidatura de Costa às eleições era perfeitamente adequada e compreensível. Agora inaugurada pelo Presidente da Câmara, organizada pela Câmara, apoiada por uma faculdade de arquitectura sabe mal. As câmaras não têm de parar durante os processos eleitorais mas confundir aparelho do Estado para onde foram eleitos e aparelhos de partido que os apoiam é demasiado grave. O jornal da freguesia de Marvila, dirigido pelo respectivo presidente, Belarmino Ferreira da Silva, apareceu agora por ai (apesar de dizer Setembro) com quatro páginas (num conjunto de 6) dedicadas ao Presidente António Costa e profusamente ilustradas com a sua figura. Maus sinais são António Costa precisar destes expedientes à Isaltino de Morais e outros eu-é-que-sou-o-presidente.
Marvila recebeu 50 milhões de euros em investimento. Não podemos afirmar que são demais ou desprovidos de razão. Estamos perante uma freguesia que é quase inteiramente habitada por residentes de habitação social. Mas como é que nunca ouvimos nenhuma opinião desta freguesia em relação ao "atracar" da terceira ponte no seu território.? Perante uma alteração tão profunda, que implica tantas consequências, muitas das quais nem previsíveis, porque é que o Presidente da Junta de Marvila ou os marvilenses não têm opinião?
A Ponte 25 de Abril também foi amarrada do lado de Lisboa a um dos bairros, à semelhança de Marvila, por onde passou todo o processo de industrialização urbana e que deixou traços, também na população. Não deixa de ser curioso ser o período histórico relacionado com a industrialização o mais sacrificável, como se o património urbano não devesse salvaguardar as memórias dos vários períodos que a cidade atravessou.
Quem atravessa a Avenida de Ceuta até Alcântara sabe o pandemónio que nunca deixou de ser o acesso à Ponte 25 de Abril. Quem tenta aceder à Ponte Vasco da Gama sabe também a quantidade de alcatrão e vias que é necessário construir nos acessos a este equipamento. Não é necessário ser um técnico para entender que a Terceira Ponte vai significar uma intrusão violenta bem no centro de tecido histórico de Lisboa (até monumentos nacionais estão afectados). Este é o erro de Costa e dos demais candidatos a quem não ouvi ainda opinião. Este e o planear a cidade à margem dos seus cidadãos (em que PDM estava previsto a construção da Fundaçao Champallimaud junto à Torre de Belém?).

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