11 maio 2008

GNR fora do Carmo

Faço parte das pessoas que não entendem porque está a GNR no Convento do Carmo. Muito menos que esse espaço se vá converter no Museu da GNR. Não que a GNR não deva ter quartéis e museus. Mas estamos a falar do coração da cidade. Estamos a falar do convento anexo à Igreja do Carmo, erigida pouco mais de 100 anos depois da tomada de Lisboa, da fundação cristã da cidade capital desde aí. Estamosa falar das ruínas que sobreviveram para nos contar também a história do terramoto. A GNR acode a alguém na cidade? E se acudisse, como a psp, era daquele imbricado do Carmo e Trindade que iria com o sues jipes chegar a algum lado? Porque está a GNR no Convento do Carmo? Para cerimónias oficiais? Elas não poderiam acontecer sem os chapéus de crina de cavalo? Para além do valor simbólico de fundação da cidade e do valor paisagístico e altaneiro da colina paralela à do Castelo estamos a falar também do valor simbólico do Convento e do Largo do Carmo no dia 25 de Abril. Afinal foi ali que o povo cerrou fileiras em torno das chaimites,foi ali que a ditadura oficialmente caiu. Quem a defendia naquele momento em Lisboa sem ser a GNR? Não deixa de ser ironicamente amargo que não haja um espaço museológico da resistência ao fascismo em Lisboa,nem no Aljube nem na António Maria Cardoso, e se vá musealizar o espaço onde se refugiou o poder em torno da história da polícia militar que o defendeu. O Convento do Carmo é demasiado valioso para ser oMuseu da GNR, e se isto não é demasiado evidente acrescento mais motivos em resgistos fotográficos feitos esta semana.






O sr. de azul esteve a retirar à pazada aquele monte de terra que o sr. de vermelho levou no carrinho para onde a vemos. Devem estar à procura de uma fuga, será?





A este local só tem acesso o pessoal da gnr ou quem faz a manutenção daquele espaço. Este local é um monumento nacional. A associação dos arqueólogos gere o museu das ruínas do Carmo (o que não deixa de ser caricato). No Museu ninguém sabia que estavam uns homens lá trás a retirar areia de mais de 2 metros de profundidade.





Ainda que se tratem de terras já removidas anteriormente é visível o pano de muro em alvenaria onde a pá andou a dar pancadinhas gentis. Se isto é a maneira como a GNR trata o património (e se não fosse só bastava olhar para aquela envolvência nas traseiras do monumento onde os turistas tiram fotos às milhentas) concluimos depressa como estará o Convento e de como a cidade respiraria melhor se a GNR saísse e, depois de recuperado todo o edifício, se encontrasse a função que melhor respeitaria o seu valor simbólico e a nossa memória .

1 comentário:

Cláudia [ACV] disse...

Independentemente de ainda não ter formado opinião sobre uma eventual refuncionarização do convento, este episódio das pancadinhas na alvenaria é tristemente acreditável, e muito bem observado.

abraço,