07 novembro 2007

O nacionalismo social (fim)

A 7 de Novembro de 1978 25 pessoas reúnem-se e fundam o PKK . A 12 de Setembro 1980 dá-se um golpe militar na Turquia levando à criação de uma Junta de governo de generais. Esta Junta lança um ataque maciço e prende centenas de pessoas, grupos políticos turcos são obrigados a emigrar para a Europa.
Em 15 de Agosto de 1984 o PKK inicia a luta armada, através do ARGK, Braço de Libertação Armado do Povo, que contou logo desde o início com cerca de cinco mil combatentes, homens e mulheres (a luta pela emancipação da mulher faz parte do programa do partido). Esta luta levou à morte cerca de 35 mil pessoas. até hoje. Confrontado com a acusação de terrorismo o PKK diz ter sido a isso obrigado pela Turquia que não lhe deixou outra alternativa. A não ser a liquidação do seu povo. Na Turquia vivem 12 milhões de curdos, num conjunto de cerca de 25 milhões (incluindo os que vivem na Europa), representam cerca de 10% da população nesse país, que não os reconhece como grupo étnico minoritário e subsequentemente não reconhece a sua língua, a sua cultura, a sua história. Entre os guerrilheiros das montanhas encontram-se muitos estudantes universitários, inclusive estudantes de nacionalidades europeias. É também nos estudantes que o PKK procura as suas grandes bases de apoio enviando militantes para Universidades de todo o mundo a fim de aprenderem línguas e poderem defender a outro nível a nacionalidade
Mantêm ao mesmo tempo um contacto muito estreito com os camponeses e as classes mais pobres, que são o seu principal suporte. A queda do bloco soviético não perturbou a sua acção antes têm conseguido estreitar os laços com os partidos e movimentos de todo o Curdistão bem como com organizações internacionais. Criaram delegações em vários países ocidentais, que funcionam como embaixadas diplomáticas. Formaram, inclusive, um governo em exílio, eleito por um Parlamento de 300 pessoas de todo o Curdistão. Têm, ou dão apoio não explícito, à primeira televisão curda (MED_TV), sediada em Bruxelas, que é vítima de constantes ataques. Este órgão permitiu pela primeira vez aos milhares de curdos espalhados pela Europa ter contacto com a sua cultura bem como aos curdos de todo o Curdistão. Constitui uma forma inequívoca de fazer com que os curdos entendam que são os mesmo vivendo na Síria, no Irão, no Iraque ou na Turquia, ou seja, não sendo os mesmos partilham de uma mesma matriz cultural que identificam claramente.
O nacionalismo curdo não sobreviveria nem atingiria tamanhas proporções se se tratasse de uma ilusão ou de uma simples reacção às perseguições que têm sido perpetradas contra este povo nos últimos anos, embora seja óbvio que elas contribuem também de forma inequívoca para o exacerbamento deste nacionalismo
“Em termos militares, a independência dos Estados pequenos depende de uma ordem internacional, qualquer que seja a sua natureza. Que os proteja de vizinhos mais fortes e predatórios, como o demonstrou de imediato o Médio Oriente após o final do equilíbrio das superpotências.(...) O estabelecimento de mais alguns Estados pequenos iria somente aumentar o número de entidades políticas inseguras”.
Talvez possamos concordar com Hobsbawm, que os movimentos nacionais já não façam parte da dinâmica actual da História, como um programa político que foi nos séculos XVIII e XIX. “ É, no máximo, um factor de complicação, ou um catalisador para outros desenvolvimentos”. O outro desenvolvimento é neste caso a ideia nacional não como “a derradeira garantia” mas como a rejeição de um modelo de sociedade predatória que faça necessariamente dos pequenos os limites da exploração.



Hobsbawm, Eric, Idem, p.174.
Ibidem, p.180.
Ibidem, p. 165.

Josina Almeida, O Nacionalismo Curdo à luz de Hobsbawm - História dos Nacionalismos, FLUL, 1998

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