07 setembro 2007

América América



Não há séries norte-amercianas, daquelas que consumimos diariamente, que não traduzam o mal-estar da maioria do país em relação ao Iraque. E ao Afeganistão. Desde Erva, Ossos, Irmãos e Irmãs, Sete Palmos de Terra ou a Letra L, em todas há referências, de forma crítica mais ou menos aberta. No entanto, e já levado em conta que nos estúdios e produtoras onde se fazem estas séries e filmes, se encontra proporcionalmente mais gente da massa crítica, não deixa de ser estranha a forma ou o enfoque de que se reveste a maioria desta crítica. George Bush em Nova Orleães por ocasião da efeméride do desastre dizia qualquer coisa que começava assim: Eu vim a esta parte do mundo....Forma corrente de falar ou não, a forma como se refere a um estado dentro da federação dos estados que o compõem como uma parte do mundo não deixa de ser sintomático desta mundividência que creio, nos estranha enquanto europeus ou provavelmente estranha a qualquer habitante que se situe fora das fronteiras físicas da cabeça hegemónica do império. A mesma visão patente nos apontamentos à guerra feita naquelas séries. Eles incidem sobretudo sobre os custos que a guerra acarreta no próprio país, custos humanos e custos materiais. E se esses custos se justificam.
Caem para o chão soldados no Afeganistão para que nós possamos cair aqui a consumir. Apesar desta sentença lapidar sobre que way of life supostamente justifica uma guerra, a dimensão da guerra parece conter só a injustiça das mortes de soldados norte-americanos e os custos materiais que o país tem de enfrentar deixando para trás questões importantes (como se viu com o Katrina). Apesar de serem preocupações legítimas dos norte-americanos também seria legítimo ouvi-los questionar sobre os milhares de iraquianos que caem para o lado desde 2003, também seria legítimo ouvi-los questionar se as opções bélicas do seu país tornam o mundo um local mais perigoso e inseguro para viver. A hegemonia geo-política dos E.U.A parece ter ajudado a construir nos seus cidadãos a ideia de que o mundo é os E.U.A., que o que se move lá fora são recursos económicos imprescindíveis, impecilhos e obstáculos e alguns aliados (económicos fundamentalmente).

Visto que a noção de carácter nacional se tornou duma validade duvidosa, a noção de estilo nacional promete muito mais. É um postulado e uma explicação. Tenta estabelecer a ordem numa massa caótica de características ao determinar que uma nação se apercebe do mundo, e do seu lugar nele, dum modo que nunca é exactamente o de qualquer outra nação, tal como um dado indivíduo encara o mundo duma forma diferente da de todos os outros. Esta maneira constitui um processo de selecção e, por conseguinte, um processo de distorção, isto porque não só se deixam de fora coisas de possível importância como ainda as coisas seleccionadas se apresentam refractadas pelo prisma do carácter individual ou nacinal. (...)
Stanley Hoffmann, "O Estilo Americano: O Nosso Passado e os Nossos Princípios", 1968


Sem comentários: