17 janeiro 2004

" Livre-me Deus de eu estar aqui a querer atacar ou destruir o juramento de respeito pela propriedade que toda a nação ainda há pouco tempo pronunciou; mas dais-me licença de que exprima certas ideias sobre a injustiça de semelhante juramento? Qual é o espírito de um juramento feito por todos os indivíduos de uma nação? Não será manter uma perfeita igualdade entre os cidadãos, submetê-los a todos igualmente à lei que protege a propriedade de todos? Ora eu pergunto-vos se realmente é justa uma lei que ordene àquele que nada tem o respeito para com aquele que tudo possui. Quais são os elementos do pacto social? Não consistirá em cada um ceder um pouco da sua liberdade e das suas propriedades, de modo a assegurar e conseguir que uma e outra sejam conservadas?
(...)
um juramento deve ter iguais efeitos para todos os indivíduos que o pronunciam; é impossível que ele possa vincular aquele que nenhum interesse tem em vincular-se a ele, porque então deixaria de ser o pacto de um povo livre: passaria a ser a arma do forte contra o fraco, contra o qual este deveria incessantemente revoltar-se; ora é isto que acontece com o juramento que o pobre com tanta inconsideração pronuncia, sem ver que, mediante esse juramento, extorquido à sua boa fé, se compromete a fazer uma coisa que em seu favor ninguém poderia fazer.
"

Marquês de Sade, A Filosofia na Alcova

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