Escreve João Gaspar Simões no Diária de Notícias em 1962
"Desconexos, herméticos, meramente descritivos de situações ou de condições que ao mesmo tempo nos são mostrados por dentro e por fora ou ora por um lado ora pelo outro. "Os pregos na Erva" contam com o "estilo" para se personalizarem. Através dele pensa a autora imprimir na nossa sensibilidade uma dedada funda, graças à qual o lirismo que falta à narrativa e a secura que caracteriza a acção se nos comuniquem e fiquem a ressoar dentro de nós. E em verdade ficam, em verdade comunicam-se-nos -não, porém, pelas razões que a autora supõe. Esse "estilo"é precisamente o oposto da técnica adoptada na estrutura dos "contos". Enquanto este aspira a uma objectividade integral, aquele perde-se numa subjectividade que por pouco o não malogra. Que espécie de subjectividade? A pior de todas, aquela em que o escritor português de todos os tempos sempre julgou encontrar a solução da sua própria vacuidade. De facto, o "estilo" de Maria Gabriela Llansol, na sua pretensa genuinidade, traduz o que de mais vazio e retórico subsiste nas nossas letras"
João Gaspar Simões, como diz abaixo Alzira Seixo, não se limita a não gostar dos primeiros textos da, porventura, maior escritora portuguesa do último século, ele destila ódio. Perante a incompreensão é o ódio que reverbera pelos interstícios dos humanos minimeus.
"A crítica de Gaspar Simões era uma crítica de opinião, vagamente
formulada segundo preceitos presencistas já de si difusos (que na obra
de um Régio se salvaguardavam pela criatividade e argúcia estética) e
condicionada pela observância das regras impostas pelo regime
salazarista, em relação às quais nem metaforicamente nem em perífrases
procurava demarcar-se.(...) Nunca li um escrito de Gaspar Simões no qual o crítico manifestasse a
busca do entendimento do texto, a preocupação em detectar-lhe o
significado, a indagação quanto ao que as formas da escrita podem
pressupor. E, se dizia bem, por vezes, de livros que realmente eram
bons, a qualidade do juízo não era acompanhada por uma finura de análise
ou por uma justeza de enquadramento literário - o que fazia com que ler
Gaspar Simões fosse sempre, no máximo, duas coisas: primeiro, saber se
ele dizia bem ou mal do escritor (porque para ele era muito mais o
escritor que estava em causa do que o texto, imbuído de um biografismo
impressionista e de um historicismo periodicista já serôdios na época,
sem ter, efectivamente, uma noção da subjectividade da escrita - que
Régio, por exemplo, possuía - e uma consciência da historicidade,
dominado por factos, por períodos e por esteticismos de corrente e não
de efeito); segundo, saber-se que um livro existia, mas ficar-se sem
saber rigorosamente nada a seu respeito, porque o crítico escrevia
sobretudo as suas opiniões sobre a literatura, por vezes completamente
marginais, sem qualquer preocupação em propor uma descrição ou uma
introdução ao estudo do livro de que em princípio se ocupava (...) aceitar a importância crítica de Gaspar Simões só porque ele escreveu
todas as semanas durante muitos anos e hoje em dia ninguém faz isso, só
me leva a ter consideração pelas pessoas que hoje assumem a
responsabilidade de não conseguir responder a exigências de honestidade
intelectual e de rigor crítico em termos de uma maratona só possível com
batota ou com atalhos de corta-mato.