"Ele havia Salazares, a Pide era mesmo ao lado do S.Luiz, a censura não estava longe, mas aquele dia rasgado, puro e limpo, o dia sob a ditadura em que vi os Verdes Anos.
E a rapariga, Ilda, arranca a camisola das mãos de Júlio, o rapaz, ele olha para ela e sabe que a perdeu, ela quebrou uma unha, a mão leva-a à boca, estão num baldio sobranceiro à cidade moderna, deveria ouvir-se ao longe o som das obras, não fosse esse dia domingo e dia de passeio das criadas de servir e dos rapazes de outras terras, em Lisboa por causa do tio ou de um padrinho, choveu, há poças de água, o céu está cinzento, o ar lavado depois da chuva, a guitarra não pára, às voltas e às voltas, voltas de amor perdido, voltas de peito à vida feito, de cabeça erguida, da valentia, cordas tensas da guitarra arrancadas até ao sabugo, sem parar, Carlos Paredes à guitarra, Nuno Bragança ao argumento, Pedro Tamen nos versos, Cunha Telles na produçã, gente cujo nome decorei, acabei por conhecer, ou com eles trabalhar, como o Paulo Rocha, o rapaz tímido e intenso, teimoso e vibrátil, sereno e cultíssimo, que passou a ser nosso, tão nosso neste filme para sempre nosso."
Jorge Silva Melo, Paulo Rocha: Verdes Anos, filme da minha vida in Século Passado, Cotovia, 2007
2 comentários:
temos penas
e segues o rocha dos subsídios quando?
aqui tb temos muitas penas, se as juntarmos talvez dê para uma amofada, com fronha anti-alérgica.
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