Tremelicam as luzes calorosas e esperançosas do Natal, noite feliz noite de amor, nasce a esperança - quer na figura de Cristo - para algumas religiões,quer no fim da longa noite do Inverno. Os dias a ficarem mais longos a partir deste solestício trouxeram a esperança durante milhares de anos a esta coisa que dá, por vezes, pelo nome de humanidade. A duração do tempo de sol esteve relacionada durante longo tempo, e assim permanece em muitos territórios, com a sobrevivência. Fugir do frio, das feras, colectar alimento, e, mais tarde, contar com o sol para tirar os proventos da Terra. Tudo isto se celebra, a esperança, nestes últimos dias do ano.
Mesmo sem fé gostava de acreditar (gostaríamos todos?) que existe um sentido, humano e terreno, naquilo que fazemos e justiça, aquela que podemos construir. Alguém escrevia no outro dia (creio que Rui Bebiano na sua Terceira Noite) que começa a ser mais do que incompreensível o silêncio de tantos. Começa a ser ofensivo.
Eu acrescento que os meus votos de natal para esses tantos são que “ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar um balde de merda seja o seu manjar”. Não os tantos cujo silêncio vem do fundo dos tempos e de fora de si, mas aqueles que vêm ao mundo não para ver a banda a passar mas crendo que o mundo estava à espera deles, como se dum palco se tratasse, para lhes proporcionar a sua experiência interior, o seu espectáculo (palminhas à Patagónia, palminhas às pirâmides de Gizé e aos peixinhos do Mar Vermelho). A estes que calam as pequenas e grandes injustiças à sua volta, que não se indignam com o banqueiro e com a senhora do banco alimentar, que encolhem os ombros à miséria alheia, que nunca abriram os olhos para jornais e complicações, aqueles que permitem, que anuem, que deixam, que se aborrecem da vida e da existência achando que está aí a prova de que não há bem nem mal. A estes cúmplices, de sempre e de agora, de todas as barbaridades, eu desejo,aproveitando o espírito da época, que 2013 seja farto naquele manjar.