20 dezembro 2012

Indignos são os que calam não os que passam fome

Tremelicam as luzes calorosas e esperançosas do Natal, noite feliz noite de amor, nasce a esperança - quer na figura de Cristo - para algumas religiões,quer no fim da longa noite do Inverno. Os dias a ficarem mais longos a partir deste solestício trouxeram a esperança durante milhares de anos a esta coisa que dá, por vezes, pelo nome de humanidade. A duração do tempo de sol esteve relacionada durante longo tempo, e assim permanece em muitos territórios, com a sobrevivência. Fugir do frio, das feras, colectar alimento, e, mais tarde, contar com o sol para tirar os proventos da Terra. Tudo isto se celebra, a esperança, nestes últimos dias do ano.

Mesmo sem fé gostava de acreditar (gostaríamos todos?) que existe um sentido, humano e terreno, naquilo que fazemos e justiça, aquela que podemos construir. Alguém escrevia no outro dia (creio que Rui Bebiano na sua Terceira Noite) que começa a ser mais do que incompreensível o silêncio de tantos. Começa a ser ofensivo.

Eu acrescento que os meus votos de natal para esses tantos são que “ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar um balde de merda seja o seu manjar”. Não os tantos cujo silêncio vem do fundo dos tempos e de fora de si, mas aqueles que vêm ao mundo não para ver a banda a passar mas crendo que o mundo estava à espera deles, como se dum palco se tratasse, para lhes proporcionar a sua experiência interior, o seu espectáculo (palminhas à Patagónia, palminhas às pirâmides de Gizé e aos peixinhos do Mar Vermelho). A estes que calam as pequenas e grandes injustiças à sua volta, que não se indignam com o banqueiro e com a senhora do banco alimentar, que encolhem os ombros à miséria alheia, que nunca abriram os olhos para jornais e complicações, aqueles que permitem, que anuem, que deixam, que se aborrecem da vida e da existência achando que está aí a prova de que não há bem nem mal. A estes cúmplices, de sempre e de agora, de todas as barbaridades, eu desejo,aproveitando o espírito da época, que 2013 seja farto naquele manjar.

13 dezembro 2012

Esquerdas reformistas




"Muitas medidas ad hoc foram testadas para endireitar as economias destes países, mas até agora não houve um plano abrangente e multifacetado para o seu desenvolvimento, que devia vir de dentro e envolver a União, os governos, o cidadãos e grupos da sociedade civil destas regiões. Este é o objetivo do Projeto Ulisses. (...)
A ideia principal que sustenta o Projeto Ulisses é a de corrigir as assimetrias estruturais da zona euro, resolver as falhas das administrações públicas locais, racionalizar a alocação de recursos públicos e privados, enfatizar a necessidade de mudança do modelo económico e de Estado, e melhorar e ampliar o sistema assistência social e as formas em que os bens e serviços são produzidos, consumidos e distribuídos entre os membros da sociedade".

Os enunciados deste projecto cruzam-se com esta imagem de Ulisses, tal como o herói que se amarrou ao mastro do navio para se salvar do canto das sereias, também estas ideias se amarram a um mastro de um navio que está podre obrigando-nos à viagem de regresso a Ítaca. Mas se Ítaca já era uma casa de onde interessava fugir, porque razão voltar e sobre as ruínas e miséria levantá-la de novo?