28 janeiro 2011

Do Ladrão e do Papagaio

"Pode mesmo a gente saber, com a certeza, como é um caso começou, aonde começou, porquê, praquê, quem? Saber mesmo o que estava se passar no coração da pessoa que faz, que procura, desfaz ou estraga as conversas, as macas? Ou tudo que passa na vida não pode-se-lhe agarrar no princípio, quando chega nesse princípio vê afinal esse mesmo princípio era também o fim doutro princípio e então, se a gentesegue assim, para trás ou para a frente, vê que não pode se partir o fio da vida, mesmo que está podre nalgum lado, ele sempre se emenda noutro sítio,cresce, desvia, foge, avança, curva, pára, esconde, aparece... E digo isto, tenho minha razão. As pessoas falam, as gentes que estão nas conversas, que sofrem os casos e as macas contam, e logo ali, ali mesmo, nessa hora em que passa qualquer confusão, cada qual fala a sua verdade e se continuam falar e discutir, a verdade começa a dar fruta, no fim é mesmo uma quinta de verdade e uma quinta de mentiras, que a verdade é já uma hora da verdade ou o contrário mesmo."
Luuanda, José Luandino Vieira

17 janeiro 2011

Mercados

(...) Apareceu na vida das pessoas uma nova palavra: mercados, que ditam as regras na Europa.

Só que, infelizmente, não são mercados. Não é preciso estudar Economia para saber que falamos de mercados quando existem duas partes com capacidade e que se encontram para realizar uma transacção. Quando falamos em termos financeiros, só por incorrecção é que pode falar-se de mercados. Em boa verdade, o que temos do lado de lá, de quem disponibiliza recursos, não são pessoas, mas sim uma estrutura de fundos de investimento, financiados pelo sistema financeiro que, sem nenhuma negociação entre as partes, dita as regras numa lógica absoluta. O que está a passar-se é claramente capitalismo de pilhagem. Não estamos a falar do capitalismo como sistema económico, social, de produção. Estamos estritamente no campo da pilhagem. Nunca na história moderna os Estados tiveram tal desequilíbrio perante a agiotagem. (...)

Em entrevista a José Reis, Director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Jornal SOl, 16/01/11


06 janeiro 2011

Superar a crise é sair deste sistema

El capitalismo se ha convertido en algo obsoleto, su propio proceso de desarrollo lo ha convertido en algo destructivo. Poco a poco ha perdido sus aspectos positivos. El desastre ecológico es el ejemplo más evidente, pero aunque el capitalismo se haya convertido en algo obsoleto no desaparecerá por sí mismo. Hace falta hacerlo desaparecer. Sin una intervención política consciente, coherente, el régimen se perpetuará. ¿Pero, si lo hace, a qué precio? No debemos dejar que se renueve, debemos imaginar la salida de este sisteman.
Entrevista a Samir Amin, El Viejo Topo, junio 2010

05 janeiro 2011

"Um novo Tratado Versalhes assombra a Europa"



Um novo Tratado Versalhes assombra a Europa ou Furiosa Teutonicorum insania
por Yanis Varoufakis. Ler o texto no Resistir.info

03 janeiro 2011

Funcionários

As medidas de austeridade, que vêm somar-se à austeridade social e política que vemos crescer nas ultimas décadas, com destaque esfusiante para a última, agudizam aquilo que os seres humanos transportam individualmente revelando, assim, os valores universais de que são ou não portadores. A paisagem não é animadora. Alguém escrevia, a propósito das reformas no ensino de Maria Lurdes Rodrigues que o mais admirável, heroico e estimável ser era aquele que face a tantos ataques às suas condições de trabalho, conseguia continuar a fazer dele motivo de orgulho para si e para os outros. É preciso dizê-lo, em cada repartição do Estado, desde a sala de um julgamento até ao bloco operatório, da direcção geral ao departamento municipal, há um funcionário a vingar-se do corte de 10% do seu salário naqueles a quem o seu serviço se dirige. E é capaz de fazê-lo na melhor das intenções, crendo que o utente, o beneficiário, o contribuinte, o público,fará a "revolução". Não a que repõe o acesso à justiça, à saúde, ao ensino, mas a que repõe os seus 10% de salário. Ainda que aceitássemos que esta é uma condição para aquelas (o que não é exactamente nem sempre verdadeiro) não é possível compactuar com o abstencionismo ou a má vontade que faz do pagador do costume mais uma vez a vítima da festa. Num mundo de desumanidade quem não o seria em circunstâncias sociais que condenariam ou não valorizariam o seu desinteresse pelos demais, encontra agora caminho aberto e incentivo a sê-lo porque, se por um lado se sente revoltado e injustiçado, por outro, há caminho a que socialmente se valide e compreenda um comportamento de abstencionismo (profissional, político, moral). A crise abre buracos onde não se esperava, como um cancro.