"A despeito da profunda diferença das suas bases sociais, o estalinismo e o fascismo são fenómenos simétricos. Bastantes traços os assemelham de maneira oprimente. Um movimento revolucionário vitorioso na Europa faria, imediatamente, estalar o fascismo e igualmente o bonapartismo soviético. A burocracia estalinista tem razão, do seu ponto de vista, em voltar costas à revolução internacional; ela obedece, procedendo deste modo, ao instinto da conservação. (...)
O gládio da ditadura, que ontem atacava os partidário da restauração burguesa, abate-se sobre aqueles que se insurgem contra a burocracia; ataca a vanguarda proletária e não os inimigos de classe do proletariado. Em relação com a modificação capital das suas funções, a polícia política, outrora composta pelos bolchevistes mais devotados, mais dispostos ao sacrifício, torna-se o elemento mais corrupto de burocracia. (...)
Em doze anos, o governo anunciou já muitas vezes a eliminação definitiva da oposição. Mas, no decorrer da "depuração" dos últimos meses de 1935 e do primiro semestre de 1936, centenas de milhar de comunistas foram, mais uma vez, expulsos do partido; neste número, várias dezenas de milhares de "trostkistas". Os mais activos depressa foram detidos, lançados na prisão, ou enviados para campos de concentração. Quanto aos outros, Estaline, por intermédio do Pravda, ordenou às autoridades locais que, não lhes dessem trabalho de modo algum. Num partido onde o Estado é o único empresário, uma tal medida equilave a uma condenação à morte pela fome. O velho princípio "quem não trabalha não come" é substituído por este: "quem não se submete não come". Quantos bolcheviques foram expulsos , detidos, deportados, exterminados, a partir de 1923, o ano do começo da era bonapartista, jamais o saberemos até ao dia em que se abram os arquivos da polícia política de Estaline. Quantos permanecem na clandestinidade, só quando o regime burocrático começar a afundar-se, nós o saberemos finalmente. (...)
Mais do que nunca, os destinos da Revolução de Outubro estão hoje ligados aos destinos da Europa e do mundo. O problema da U.R.S.S. resolvem-se na península ibérica, na França, na Bélgica. No momento em que este livro vier a ser publicado, a situação será provavelmente muito mais clara do que nestes das de guerra civil em Madrid. Se a burocracia soviética consegue, com a sua pérfida política das "frentes populares", assegurar a vitória da reacção em França e em Espanha -e a Internacional Comunista faz tudo o que pode nesse sentido - a U.R.S.S. encontrar-se-à à beira do abismo e a contra-revolução burguesa estará na ordem do dia, muito mais do que o levantamento dos operários contra a burocracia.
L. Trostky, a Revolução Traída (introdução de Pierre Frank), Lisboa, Edições Antídoto, 1977, pp. 275-281
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